26 | Cômodo lotado de quadros

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"Meus lábios encostam em você, mordida gelada

Gelada como gelo, corta como uma faca afiada

[...]

Estou tirando sua respiração mas você pede por mais

A ponta do meu dedo está traçando sua figura

[...]

Ela estava em cima de mim, então eu saí com o coração dela

Quebrada e cicatrizada

Não pedi desculpas

[...]

Tudo o que sei é que a sua pele sangrou, como a tinta que caiu da minha caneta

Minha cama será encharcada com um tom vermelho escarlate, e se afogará em todos os meus erros"

- Thief, Ansel Elgort.

• Lembrando que Crossroad é uma obra +18. Portanto, se você não se sente confortável com esse tipo de conteúdo, sugiro que pule esse capítulo.

A campainha toca, interrompendo o filme que eu assistia. Bufo, pausando o filme e me levantando para atender a porta. Não me dou ao trabalho de ver quem está parado do lado de fora pelo olho mágico, e me arrependendo no instante em que meus olhos encontram os do moreno. Também não me dou ao trabalho de verificar as roupas que visto, pois sei exatamente quais são elas: um pijama do Tio Patinhas. Contudo, o moreno sequer parece prestar atenção nisso. Seu cabelo está uma bagunça só e suas mãos, assim como seu rosto, estão sujas de tinta.
Pelo menos ele não está usando uma roupa infantil, penso.

- Hunter? - Ele alarga mais o sorriso, agarrando minha mão e me puxando para fora do meu apartamento, em direção ao dele.

Consigo, ao menos, fechar a porta. Penso em voltar para trancá-la, já que Cora não está em casa, mas Hunter parece tão animado e determinado que não ouso o interromper. Ele larga minha mão apenas para fechar a porta do próprio apartamento, voltando a agarrá-la outra vez logo após isso. O moreno abre uma porta no fim do corredor mas não acende a luz, o breu não me permite ver nada.

- Quero te mostrar uma coisa - ele fala, empolgado.

Apenas concordo com a cabeça, ainda tentando assimilar os fatos.

E então, ele enfim acende a luz.

Minha boca forma um "o" perfeito e tenho que lembrar a mim mesma como se respira. Entro mais no que deveria ser um quarto, porém, ao invés disso, é um cômodo lotado de quadros. Alguns vazios, outros tampados com panos e alguns poucos expostos.

Ele não me deixa analisar os quadros expostos por muito tempo, me puxando em direção à um quadro em específico. Meus olhos analisam atentamente cada traço de tinta dado, formando, assim, um perfil feminino. O meu perfil. Como eu queria ter feito nos quadros do museu, me aproximo e toco a tela com a ponta dos dedos. Na pintura, estou de lado. Não visto o vestido vermelho, como achei que seria, mas, sim, o seguro contra o corpo. O lado exposto do meu corpo evidencia minha tatuagem. Deslizo o dedo por toda a obra, amando a textura grossa da tinta sob minha pele.

- Hunter... - me atrapalho, incapaz de achar palavras para expressar o que sinto. - É maravilhoso. Tudo - me viro para o encontrar me olhando. - O quadro. Você.

Ele sorri e, pela segunda vez desde que o conheci, o vejo envergonhado. Ele olha para o chão, coçando a nuca e balançando o corpo sob os pés.

- Não é nada.

Crossroad (EM REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora