capítulo 5

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– Hein? – Parecia surpresa por ele ainda estar ali. – Oh, sim. Desculpe. Foi um choque.
– Eu sei. Lamento muito, senhora.
– Rachel é realmente uma boa garota – murmurou ela, em tom sincero. – É claro que eu diria isso de
qualquer maneira, mas é a verdade. Recebo uma pequena aposentadoria por invalidez, por causa da
minha artrite, mas nunca é suficiente, e ela precisa trabalhar...
A voz dela esmoreceu. Poucos anos antes, Burton lhe ofereceria os serviços de assistência psicológica
da cidade, mas, devido aos cortes no orçamento, havia agora rígidos limites ao que se considerava um
trauma. Tudo o que podia fazer era garantir a ela que lamentava pelo desaparecimento da filha.
– Está bem – disse Angela, dirigindo a Burton um breve e corajoso sorriso. – Obrigada por vir.
– É meu dever, senhora. E, se precisar de alguma coisa, ligue para esse número aí. Farei o que puder
para ajudar.
– Obrigada.
Ela o acompanhou até a porta e fechou-a com a chave e a corrente. Burton esperou um momento no
corredor, mas não ouviu nenhum som dentro do apartamento. A televisão não foi ligada de novo.
– O capitão Mendez me chamou. O que está acontecendo aí?
O policial à paisana abriu a porta para Burton. Mendez conversava com dois outros homens. Um era o
delegado-chefe Killeen, que comandava a Divisão de Crimes contra a Pessoa. O outro, Bruce Redfield,
era o prefeito de San Celeste.
Burton só tinha visto o prefeito na televisão. Era mais alto que ele, magro, com os cabelos de
comprimento médio penteados para trás. Parecia-se, na visão de Burton, com um violinista ou um
negociante de arte, elegante, mas com uma polidez um tanto artificial. Mendez viu Burton e,
interrompendo a conversa, acenou-lhe para que entrasse.
– Burton – exclamou com alegria. – Como vai meu melhor detetive?
– Bem, obrigado – respondeu Burton, cauteloso. Os cumprimentos de Mendez sempre beiravam o
sarcasmo.
– Senhor prefeito – disse Mendez –, este é o detetive de que lhe falei. Ele conduziu a investigação do
assassinato do senador Cronin. E pegou o culpado.
– Ouvi a respeito – replicou o prefeito Redfield, oferecendo a Burton uma mão muito fina e abrindo um
sorriso. – Ótimo trabalho.
– Obrigado, senhor.
Trocaram um aperto de mãos. O cumprimento do prefeito foi firme e frio.
– Soube que você conhecia Williams pessoalmente.
– É verdade – concordou Burton. – Foi meu primeiro capitão quando me tornei detetive.
O prefeito fez um leve aceno de cabeça.
– Também o conhecia. Um bom homem. Servidor da cidade e meu amigo. Se eu puder ajudar em
alguma coisa na investigação, é só dizer.
– Para nós, este é um caso pessoal – interrompeu o delegado-chefe. – Não podemos deixar as pessoas
pensarem que o Departamento de Polícia de San Celeste é um alvo fácil.
– Exatamente – disse o prefeito. – Vamos mostrar à cidade que fazemos justiça de maneira rápida e
eficaz.
– Já encontramos uma pista promissora – informou Mendez, agarrando a oportunidade de se exibir
para os superiores. – Burton descobriu um símbolo desenhado na grama, perto do corpo. O do signo de
Touro.
– Verdade? – perguntou o prefeito, virando-se para Burton.
Burton franziu o cenho. Mal se podia ver o tal símbolo, se é que era mesmo um símbolo. Podia ser
apenas terra esparramada ao acaso. Aquele, porém, não era o momento para parecer inseguro.
– De fato – respondeu ele. – Um círculo com duas linhas se projetando dele.
O prefeito olhou para Mendez.
– Essa violência está relacionada aos signos?
Mendez assentiu.
– É o que estamos investigando, senhor. Para mim, não há dúvida de que o assassino do chefe Williams
pertence ao Ascendente Áries e desenhou o signo para zombar de nós.
O Ascendente Áries era um grupo militante de Arianos que defendia os direitos humanos. Denunciava
o que, a seu ver, caracterizava um crescente signismo no sistema de justiça. Noventa por cento dos
policiais eram de Touro – e eles prendiam, em desproporção, pessoas de signos “inferiores”, sobretudo
Áries e Peixes. O grupo existia havia décadas, mas vinha chamando mais atenção nos últimos meses,
após uma onda de suposta brutalidade policial. Seu líder, Solomon Mahout, começava a se tornar um
rosto conhecido na televisão e motivo de mau humor para todos os que estivessem na sala.
– Canalhas – resmungou o prefeito. Sua máscara política caiu por um instante, revelando uma cólera
surpreendente. – São uns animais, isso sim. O que podemos fazer para contê-los?
– Já estamos dando a Burton o apoio total da Divisão de Crimes contra a Pessoa – disse Mendez.
– Certo – concordou o delegado-chefe. – Essa investigação tem prioridade. E vou arranjar um
astrólogo de confiança para colaborar no caso.
Burton quis protestar. Não tinha muita experiência com astrólogos, e aquela não lhe parecia uma boa
hora para outras pessoas se intrometerem.
Mendez deve ter lido seu pensamento, pois se apressou em dizer:
– Precisamos garantir uma condenação, Burton. Um astrólogo como testemunha do Estado pode
preencher lacunas importantes no caso.
Burton não gostou da insinuação de que não era capaz de resolver um caso difícil, mas entendeu. Já
tinha visto suspeitos culpados saírem livres por causa de um júri parcial. Astrólogos eram uma boa
maneira de impedir esse tipo de coisa. Décadas de programas de TV sobre analistas astrológicos e
astrólogos forenses haviam convencido o público de que eles eram os agentes mais confiáveis na guerra
contra o crime.
– Tem alguém em mente? – o prefeito perguntou ao delegado-chefe.
– Sim, senhor. Chama-se Lindiwe Childs. Ela viaja pelo mundo inteiro ensinando diversas agências de
segurança a identificar viajantes com base na data de nascimento. Agora ela está em San Celeste,
trabalhando para a Agência do Aeroporto. Vou mandar a Burton mais detalhes sobre ela.
– Ótimo! – disse o prefeito, oferecendo de novo a mão ao detetive. Enquanto Burton a apertava, o
prefeito segurou seu braço, para dar maior ênfase.
– Pegue esse canalha, detetive – exclamou. – Contamos com o senhor.

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