capítulo 11

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A interpretação do mapa astrológico ia bem. Após semanas compilando dados para o manual, Lindi
achou ótimo pôr a mão na massa e fazer uma verdadeira leitura astrológica. Os policiais ouviam com
atenção, e Boysen parecia amedrontado. Lindi tinha captado alguns aspectos de seu mapa que um
astrólogo menos experiente talvez não percebesse. E estava longe de ser ruim ter recebido permissão
para aplicar suas habilidades àquele caso importante.
Parecia que as nuvens se afastavam da sua vida. Mudar para uma nova cidade não tinha sido fácil, e
saber que logo iria embora não ajudava muito. Não lançaria raízes. As pessoas que encontrava davam a
impressão de terem amizade de longa data e acumularem lembranças, mas ela ficava olhando para telas
de computador em saletas nos fundos aqui e ali. Agora, porém, o trabalho estava valendo a pena. Enfim
realizava algo relevante.
Na hora do almoço, pensou já ter as evidências de que Burton precisava. Saiu da sala de interrogatório
e perguntou a alguns policiais que conversavam junto a uma máquina de venda automática se o tinham
visto.
– O Superdetetive? – perguntou um deles. Os outros riram. – Não, não pelas últimas duas horas. Deve
estar almoçando do outro lado da rua.
Deram as costas a Lindi e continuaram a conversa. Ela desceu a escada e saiu pela entrada principal.
Após procurar na rua, viu Burton pela janela de um restaurante que fazia comida para viagem, chamado
Sabor do Punjab.
A porta se abriu automaticamente para ela entrar. Pequenos alto-falantes tocavam música de
Bollywood. A lista de pratos e preços estava em um quadro-negro pendurado atrás do balcão, sobre o
qual se via uma caixa de vidro vazia coberta por uma fileira de vasos indianos. Burton estava sentado em
uma das três mesas do restaurante, ao lado de um frigobar. À sua frente, um prato de arroz com curry, no
qual dava garfadas, perdido em pensamentos. Lindi se aproximou da mesa.
– Posso lhe fazer companhia?
Ele ergueu a cabeça, surpreso por vê-la ali. Hesitou por um momento, antes de dizer:
– Claro.
Lindi se sentou à sua frente.
– Não pensei que gostasse deste tipo de restaurante.
– Por que não? Os donos são uma boa família Taurina.
– Você quer dizer Vrishabha. Se são hindus, usam o sistema védico.
– Estão neste país já há duas gerações. São de Touro. Quer pedir?
Lindi estudou o cardápio atrás do balcão enquanto Burton voltava a comer. Quando o garçom
apareceu, vindo dos fundos, ela pediu frango tikka masala com pão naan de alho.
– Boa pedida! – garantiu Burton, limpando os lábios. – E a leitura do suspeito do assassinato, como
foi?
– Ótima! Há muito Fogo no mapa do sujeito, mas também um pouco de Água, o que o torna
manipulável. Tem um Júpiter fraco, um indício de que é antissocial. No todo, diria que o mapa depõe
muito contra ele.
– E as estrelas não mentem – sentenciou o detetive Burton, levando outra garfada à boca.
Lindi olhou para ele, subitamente inquieta.
– Algo errado?
Burton mastigou mais um pouco e engoliu.
– Acabo de falar com meu capitão e com uma advogada que representa Boysen – explicou ele. – O
homem tem um álibi. Quando Williams foi morto, na manhã de sábado, ele estava no mercado de
Westville.
– Foi o que me contou. Mas não me pareceu muito convincente. Não tem testemunhas e não quis me
dizer por que estava lá. Além do mais, a meu ver, não é o tipo de pessoa que passa as manhãs de sábado
fazendo compras no mercado.
– É verdade – concordou Burton. – Mas pode ser que estivesse pedindo esmolas ou batendo carteiras.
Isso explicaria por que ninguém o viu. Entretanto, vai ser fácil checar sua história. Se foi mesmo ao
mercado, as câmeras do terminal de ônibus de Westville o pegaram entrando e saindo. Solicitamos as
fitas para verificação, e a advogada tem certeza de que ele estava lá. Nesse caso, pegamos o cara errado.
Lindi correu a unha do polegar pela toalha de plástico da mesa.
– Droga! – resmungou.
– Nem me diga – disse Burton. – Se tivéssemos apenas feito nosso trabalho de polícia, sem dar
atenção às estrelas, não prenderíamos um inocente.
Lindi franziu o cenho.
– Mas minha leitura continua exata. Minha tarefa foi investigar a verdadeira natureza do suspeito. O
fato de não ser responsável pelo crime em questão não faz dele um anjo.
– Fique tranquila – falou Burton. – Não estou culpando você.
O garçom veio e colocou o frango e o naan na mesa. Lindi partiu um naco de pão e usou-o para pegar
um pedaço de frango do prato.
– Como Boysen conseguiu essa advogada?
– Não conseguiu. O caso é importante e chamou a atenção do grupo Signos Igualitários. Foi um ato de
caridade.
– E agora? – indagou ela. – Acho que o melhor a fazer é uma leitura horária. Você levanta uma
hipótese, e eu lhe digo por onde começar.
Burton balançou a cabeça.
– Não, obrigado. Vou seguir o método convencional por enquanto.
– Mas ainda tenho um acordo com você. Sou um recurso valioso.
Burton empurrou o prato para o lado.
– Conseguiu pegar muitos infratores no trabalho para os aeroportos?
– Ah, sim. Dezenas deles.
– Terroristas? Contrabandistas?
– Não. Pessoas com líquidos ou produtos que poderiam ser usados como armas. Uma faca de caça,
certa vez.
– Muito bem – disse Burton. – E algumas delas eram inocentes?
– Claro – confirmou Lindi. – Mas é melhor prevenir que remediar, não?
– Sem dúvida – assentiu Burton, em tom cético. Limpou as mãos em um guardanapo de papel e
levantou-se. – Escute, preciso voltar à delegacia. Foi muito bom trabalhar com você.
– Já vai? – Lindi queria discutir, mas não era a hora nem o lugar. – Se ainda puder ser útil em alguma
coisa, você me procura?
– Procuro – disse ele. – Obrigado pela ajuda. E bom almoço.

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