capítulo 19

0 0 0
                                    

– Burton! Ei, Burton! – chamou uma voz às suas costas.
Burton atravessava o Departamento de Homicídios com uma xícara de café para Lindi e uma de chá
para ele. Virou-se. Era o capitão Mendez avançando furioso em sua direção.
– Que diabo significa isto? – gritou o capitão, agitando uma página impressa. Era o relatório mais
recente de Burton. – Está deixando Coine ir embora!
– Ele não é suspeito – respondeu Burton.
– Só na sua cabeça que não é! – rugiu Mendez. Parecia prestes a cuspir fogo. – O Esquadrão Aríete
está furioso. Queriam ir à cela do cara e arrancar a confissão dele a pancadas. Só consegui detê-los
prometendo que iríamos dar um bom trato nele. E você quer deixar o filho da mãe ir embora? Eles vão
ficar loucos!
Mendez se aproximou de Burton e estufou o peito, como se quisesse procurar confusão.
– Sinto muito, capitão – falou Burton. – Também não gosto do cara, mas os jornais estão de olho no
jeito como vamos tratá-lo. Metade da cidade anda dizendo que ele é o herói da liberdade de expressão.
– Dane-se o que essa gente pensa; o sujeito é um traidor! E dane-se a porcaria do seu manual de
comportamento! O manual é o escudo que nos protege enquanto fazemos o necessário para executar o
nosso trabalho. Você não trabalha para o manual; trabalha para a polícia, e, quando se esquece disso, a
gente acaba se ferrando. Lembre-se do que aconteceu quando se encarregou do caso Cronin! Bram Coine
ficará conosco. Quero que seja acusado pelo menos de incitação à violência.
– Tarde demais, senhor – respondeu Burton. – O delegado-chefe ordenou sua soltura. O prefeito quer
que a gente se concentre na busca do assassino de Williams.
Mendez olhou feio para Burton e afastou-se, irritado.
– Você tem de levar em conta suas prioridades, Burton. E não esqueça para quem trabalha.
Bram Coine foi libertado ainda naquela tarde. Equipes de jornalistas se juntaram na frente da
delegacia para não perder o acontecimento. Ele chegou à entrada principal, onde foi abraçado pelo pai,
um homem de meia-idade e cabelos grisalhos que vestia uma jaqueta com reforços nos cotovelos. As
câmeras relampejaram em alvoroço, capturando o embaraço de Coine. Lindi e Burton olhavam por trás
da porta giratória enquanto pai e filho tentavam se afastar, mas eram impedidos por lentes e microfones
de meia dúzia de emissoras.
– Por favor – implorou o pai de Bram. – Por favor, nos deixem em paz.
Estendeu a mão, tentando inutilmente impedir que as câmeras os filmassem. Tanta pressão parecia
prestes a levá-lo a um colapso nervoso. Burton sabia bem o que era aquilo.
– Estão mesmo acompanhando o caso, não estão? – disse Lindi.
– Sim – reconheceu Burton.
Ela observou a expressão de desânimo no rosto dele e lhe lançou um ligeiro sorriso.
– Não se preocupe. Você se sairá bem sob os holofotes. É um policial heroico de traços firmes e
queixo resoluto que nasceu para isso.
Lá fora, as câmeras continuavam pipocando. Não parecia que fossem parar tão cedo.

o Assassino dos Zodíaco Onde histórias criam vida. Descubra agora