capítulo 2

18 1 0
                                    

O rosto do chefe de polícia Peter Williams era mais fino do que Burton se lembrava, com finas


rugas se irradiando dos cantos dos olhos. Burton nunca tinha reparado nelas em nenhuma das vezes em


que Williams ficara à frente, falando para uma sala repleta de policiais. Uma longa fita prateada cobria


sua boca, passando pelo rosto e indo até os finos cabelos da nuca. Outras tiras atavam os punhos e


tornozelos. Via-se um corte em sua barriga, horizontal, à altura do umbigo. Os intestinos do chefe


saltavam do corte.


- Que droga! - resmungou o detetive Kolacny.


Burton ergueu a cabeça e protegeu os olhos do sol matutino com a mão. Kolacny estava de pé na


extremidade da vala, mordendo o canto do lábio. Usava óculos escuros.


- Descobriu alguma coisa?


- Ainda não - respondeu Burton. - Mas pode haver algum vestígio de DNA se o assassino cortou a fita


com os dentes.


Kolacny sentiu um arrepio por causa do odor terrível. O intestino grosso do chefe fora perfurado e


expelira o conteúdo no fundo da vala. O assassino, fosse quem fosse, fizera de tudo para garantir que o


órgão não pudesse ser costurado.


- Não se esqueça de limpar os sapatos - recomendou Kolacny.


Burton lhe lançou um olhar frio. Humor negro era coisa frequente na maioria dos cenários de crime


quando não havia civis por perto. Tornava a profissão suportável. Mas, com todos os diabos, aquele era


o chefe de polícia!


- Mil desculpas - disse Kolacny. Tirou os óculos e fez cara de envergonhado.


- Tudo bem. Você é novo no ofício. Fotografou a terra?


- Que terra?


Burton afastou-se da vala e apontou com o dedo. Um círculo de terra se espalhara pela grama, com


cerca de um metro e meio de diâmetro. Boa parte dela caíra entre as folhas ou sob elas, tornando-o um


tanto imperceptível.


Kolacny se ajoelhou para ver melhor.


- Quem fez isto? Será que essa terra caiu de um carrinho de mão ou coisa parecida?


- Não, acho que não.


Burton foi para o meio do gramado e esticou o braço direito. Prescreveu um giro, imitando alguém que


espalhasse terra, e reproduziu o desenho no chão.


- Estranho... - murmurou Kolacny, o cenho franzido. Inclinou-se mais. - Parece que jogaram terra aqui


também... e aqui.


Havia duas linhas de uns trinta centímetros de comprimento projetando-se do círculo, a cerca de


quarenta e cinco graus uma da outra. Burton não tinha visto aquilo.


- Significa alguma coisa? - perguntou Kolacny.


- Não sei - respondeu Burton. - Podem ter surgido quando alguém caminhou sobre o círculo. De


qualquer modo, informe isso ao Departamento de Fotografia. Algum sinal da arrumadeira?

o Assassino dos Zodíaco Onde histórias criam vida. Descubra agora