capítulo 9

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Um cálculo simples mostrou a Daniel que sua filha deveria ter 17 anos. Uma moça. Imaginou-a com
as maçãs do rosto salientes e o cabelo pintado da mãe. A ideia de conhecê-la nos próximos dias era algo
incrível.
O velho sempre controlara a família com rigidez, zelando por seu nome, mas Daniel continuava
achando impressionante que houvesse mantido em segredo o nascimento da menina. Sem dúvida, tinha
achado a situação tão vergonhosa que não tivera coragem sequer de conversar com Daniel sobre o
assunto. Ou talvez pensasse estar fazendo um favor ao filho. Uma filha ilegítima provocaria graves
repercussões, do ponto de vista social e financeiro. Os jornalecos o crucificariam. Aquilo arruinaria a
vida que o pai de Daniel havia planejado para ele.
E que vida era essa? Daniel saltitava de uma posição de gerência a outra, nunca se apegando a
nenhuma e falhando do mesmo modo nos negócios e no hedonismo. Esbanjava dinheiro. Mas, agora, tinha
uma filha.
Naquela mesma noite, Daniel voou para San Celeste em seu jatinho particular. Passou a primeira
metade da viagem ao telefone, conversando com funcionários da UrSec na tentativa de descobrir por
onde andavam Penny Scarsdale e sua filha. A dificuldade em obter essas informações o surpreendeu. A
maior parte do pessoal da empresa de segurança estava em casa ou na cidade, de modo que foi preciso
alegar uma emergência fora de hora. Mesmo assim, os registros que a empresa mantinha sobre Penny
Scarsdale eram confidenciais e estavam trancados em armários ou criptografados com senhas esquecidas.
A empresa teria de contatar ex-funcionários, membros da diretoria e advogados, além de organizar
infindáveis negociações particulares. Enquanto isso, Daniel não tinha outra coisa a fazer exceto ficar
observando a noite pela janelinha do avião.
Chegou ao aeroporto às três horas da madrugada e foi recebido por Ian Hamlin, o atual gerente-geral
da UrSec. Nascido em San Celeste, de Escorpião e bem-proporcionado, parecia pouco à vontade em seu
terno de executivo. Embora fosse muito cedo, estava disposto e atento. Enquanto atravessavam a área de
chegada, colocou Daniel a par dos progressos da investigação.
– O que sabemos é isto: sua filha se chama Pamela, tem cabelos e olhos castanhos. Os prontuários
médicos que consultamos mostram que nasceu saudável e foi feliz durante toda a infância. Infelizmente,
meu antecessor parou de manter registros sobre a família Scarsdale há doze anos, isto é, quando a menina
tinha 5 anos.
– O que aconteceu? Por que ele deixou de rastreá-la?
– Os Scarsdale romperam um acordo de confidencialidade que tinham com seu pai. O tio de Penny
tentou contar tudo ao Cochicho. Quando pediram a seu pai que comentasse o caso, os advogados
intervieram, abafaram a história e cortaram a pensão que Penny recebia para criar a filha.
– O quê? – exclamou Daniel.
Se Hamlin notou sua reação colérica, não deu sinais disso e, com tranquilidade, conduziu Daniel até o
estacionamento.
– Pelo que sei, seu pai considerava a pensão uma espécie de cortesia. A ameaça legal representada
pelo acordo de confidencialidade era suficiente para manter os Scarsdale em silêncio.
– A menina era neta dele! – disse Daniel.
Hamlin concordou.
– Conforme entendi, se seu pai demonstrasse que a neta tinha algum valor para ele, os Scarsdale
abusariam disso. Disse que dar dinheiro a eles não seria um bom investimento.
Daniel agarrou Hamlin pelo colarinho e encostou-o a uma coluna. Hamlin foi pego de surpresa e bateu
a cabeça no concreto. Alguns viajantes retardatários que guardavam as malas em um carro ali perto se
viraram para olhar.
– Investimento? – rugiu Daniel. – É a minha filha!
Com calma, Hamlin pegou as mãos de Daniel e afastou-as de seu corpo. Fez isso devagar, mas Daniel
sentiu os ossos das mãos rangendo. Hamlin olhou-o bem nos olhos.
– Senhor – disse ele –, entendo que esteja cansado e nervoso. Devo, pessoalmente, pedir desculpas
pela participação de minha empresa em seu sofrimento. Trabalhamos antes para seu pai e agora
trabalhamos para o senhor. Faremos o que nos pedir. Quer que continuemos?
Soltou Daniel, que recuou.
– Sim – disse Daniel, esfregando as mãos e procurando se recompor. – Obrigado. Desculpe.
– Não há problema – replicou Hamlin, piscando devagar para ele. – Ainda não localizamos a família
Scarsdale, cuja vida parece muito mal documentada. Mas temos uma excelente equipe de investigadores.
Não se preocupe, senhor Lapton. Logo encontraremos sua filha. Eu garanto.

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