capítulo 20

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– Eis aí uma lista dos membros do Esquadrão Aríete e de seus superiores no Departamento de
Polícia de San Celeste – dizia Bram Coine no vídeo. – Agora teremos um pouco de transparência.
Os números em vermelho censurados rolaram na tela sobre o rosto de Bram, com a imprecisão
adicional de um vídeo de internet de baixa resolução transferido para HD. A imagem se congelou e se
encolheu até formar uma janela ao lado do apresentador de televisão, Harvey Hammond, que olhou
diretamente para a câmera e fez um instante de suspense.
– Uau! – exclamou ele. – Quis dizer: “uau”. Já vi muita besteira esquerdista, mas esta merece um
prêmio. Mesmo que o vídeo fosse retirado um segundo depois da postagem, ainda assim eu o chamaria de
traição contra o povo de San Celeste. Mas o fato é que ele apareceu duas semanas antes de o chefe de
polícia, um herói desta cidade que eu tinha orgulho de considerar meu amigo, ser brutalmente
assassinado.
A tela cortou para a imagem de Bram e seu pai saindo pela arcada da Central de Polícia. Repórteres e
cameramen convergiam para eles. O pai de Bram se postou no caminho e ergueu os ombros para protegê-
lo, mas não conseguiu esconder o rosto cansado e consternado do filho.
– Eis aqui o responsável por esse vídeo, Bram Coine, ao deixar a delegacia hoje. Estão se
perguntando por que ele está em liberdade? Bem, de acordo com as autoridades policiais, nada do que
ele fez é tecnicamente – tecnicamente! – contrário à lei.
Hammond reapareceu na tela. Inclinou-se para a frente e fixou a câmera com uma expressão de
sinceridade no rosto.
– Isso me deu o que pensar. Se esse ato não é contrário à lei, então há aí algo de muito errado. Não
se infringiu apenas uma lei, mas todas as leis que o jovem Coine pensa estar defendendo com tanto
vigor. As leis da igualdade.
Outro corte, desta vez para as cenas do levante em Cardinal Fire, vinte e cinco anos antes. Um rapaz
de camisa vermelha arremessava um tijolo contra a vitrine de uma loja de instrumentos musicais. Viam-se
guitarras e amplificadores pelo vidro estilhaçado.
– Essas leis se baseiam na ideia fantasiosa de que devemos tratar pessoas de signos diferentes da
mesma maneira. Mas isso é impossível. Por quê? Porque elas não são iguais. Pessoas de signos
diferentes se comportam de modo diferente. Leoninos e Geminianos são mais extrovertidos. Pessoas de
Aquário e Sagitário não assistem ao meu programa, podem ter certeza disso. E Arianos tendem mais
para a violência. Não posso dormir tranquilo à noite pensando que a polícia talvez ignore esse fato e
deixe os principais suspeitos irem para casa apenas porque alguns idiotas acham que Arianos vêm
sendo tratados com injustiça.
Diagramas e mapas criados pela equipe técnica encheram a tela. Eram em 3-D, nítidos e bem-feitos.
– Vejamos as estatísticas. Quem tem a maior população carcerária? Signo de Áries. Quem tem o
maior número de desempregados? Áries. E não nos esqueçamos do que aconteceu no século passado,
em países onde partidos Arianos estavam no poder. As Nações Arianas.
Uma montagem de tomadas em preto e branco: soldados marchando e batendo continência, arame
farpado, campos de concentração.
Hammond voltou à tela.
– Talvez a polícia esteja certa e o garotão Bram Coine não deva ser criticado. Devemos então criticar
a lei, pois o garotão agiu sob sua proteção. E, para sermos absolutamente justos com ele, eis aqui seu
endereço, número de telefone e e-mail.
A informação desfilou na parte inferior da tela, logo acima do símbolo fixo do programa. Hammond
tinha um sorriso irônico no rosto.
– Entrem em contato com o senhor Coine e lhe deem sua opinião sobre o que ele causou aos nossos
bravos oficiais e ao nosso ex-chefe de polícia. Hammond Denoite volta depois dos comerciais.

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2018 ⏰

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