capítulo 12

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Havia poucos registros públicos sobre a família Scarsdale. Seja lá o que fosse que vinham fazendo
desde o rompimento do pai de Daniel com eles, não estava sendo fácil para as autoridades descobrir o
rastro dos Scarsdale. Daniel aguardava nos escritórios da UrSec enquanto Hamlin tentava encontrar
alguma pista.
A sala da diretoria era no último andar, com uma grande janela que dava para o centro da cidade.
Daniel, bebericando um chá Earl Grey, contemplava a luz do sol nascente que se refletia nas fachadas de
vidro dos edifícios.
Meia hora depois, Hamlin apareceu à porta, uma expressão sombria no rosto.
– Sinto muito, senhor Lapton – disse. – Não há um modo fácil de lhe dizer isto: Penny Scarsdale está
morta.
– O quê? – balbuciou Daniel. – Quando?
– Há dez anos. Desceu do ônibus e não olhou para a rua. O motorista que a atropelou era um jovem
Escorpiano. Foi condenado por homicídio e cumpriu pena em liberdade.
Daniel fitou o tampo brilhante da mesa.
– E minha filha?
– Tinha 7 anos na época. Não viu o acidente. Não sabemos até que ponto foi afetada por ele. – Hamlin
levou a mão ao batente, como se estivesse de saída, mas acrescentou: – Lamento muito.
A compaixão não combinava bem com Hamlin.
– Obrigado – murmurou Daniel.
Hamlin fez um aceno de cabeça em resposta, virou-se e voltou para sua investigação. Daniel recostouse na cadeira e fitou as reentrâncias do teto à prova de som. Perder Penny era estranho e doloroso. Nos
últimos dezessete anos, sempre que se lembrava dela, via-a como uma adolescente. Suas recordações
envolviam sexo desenfreado, repetido muitas e muitas vezes em sua mente, até que houvessem se
dispersado em fragmentos. Reencontrá-la depois de tanto tempo teria sido constrangedor, sem dúvida,
mas lhe daria a chance de descobrir como ela era de fato, sem a juventude ou hormônios para dourar as
aparências, e, também, de se desculpar pelo que a família fizera. Era perturbador constatar que nunca
mais a veria e que aquelas lembranças e desejos estavam agora diluídos no vazio.
Horas depois, Hamlin voltou com novas informações. Seus investigadores enfim tinham descoberto o
paradeiro da mãe de Penny, Marjorie, que morava em um apartamento no distrito de Westwood e tinha
uma linha telefônica ativa. Hamlin havia ligado pessoalmente para ela, mas Marjorie desligara duas
vezes e depois deixara o aparelho fora do gancho. Quando Hamlin tinha tentado contatá-la uma hora mais
tarde, um dos Scarsdale chamado Cooper atendera e dissera que, se qualquer pessoa ligasse de novo em
nome de Daniel Lapton, o corpo dele seria dragado do porto até o final da semana.
– Não querem nada com o senhor e não têm motivo nenhum para se mostrar educados – lamentou
Hamlin. – Acham que seu pai os tratou muito mal e parece que não gostam nada da UrSec. Disseram que
vão falar com ela e com mais ninguém.
– Quem é “ela”? – estranhou Daniel.
– Não disseram. – Hamlin se sentou à mesa, diante de Daniel, e cruzou os dedos. – Esta empresa tem
duas maneiras de lidar com antagonismos. A primeira são nossos advogados, embora trabalhem melhor
com pessoas preocupadas com seus negócios. Mas temos também uma abordagem mais física.
– Não – disse Daniel. Ameaças e intimidações seriam um tiro pela culatra, e já estava ficando
impaciente. – Esta é uma situação que envolve seres humanos. Deve ser resolvida cara a cara.
– Posso mandar um representante.
– Quero ir pessoalmente.
Hamlin franziu o cenho e tamborilou na mesa.
– Gostaria de fazer uma avaliação de riscos. Westwood não é uma boa região e temos de estar
preparados para o pior da parte dos Scarsdale. Violência, extorsão, sequestro...
– Deixe-me explicar melhor – falou Daniel, encarando Hamlin com firmeza. Por um instante, soube o
que era ser seu pai. – Vou até lá agora mesmo, com ou sem você. É assunto meu e a partir deste momento
eu me encarrego de tudo. Mande sua equipe de segurança, se quiser, mas vou tirar minha filha daquela
gente.

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