A Juíza

Capitulo 22

Quando era verão, eu gostava de ficar no jardim á ver os aviões no céu que passavam bem em cima da minha casa, rumo ao aeroporto que ficava perto dali.

Enquanto as outras crianças ficavam na praia, jogando bola na areia, ou aprendendo a surfar, ou até mesmo fazer castelo de areia. Eu ficava deitado em baixo de uma árvore a olhar para o céu por horas a finco.

Me perguntava como é estar no céu, como era voar, como era subir naquele avião e viajar por ai sem rumo, so com uma mochila nas costas e pouco dinheiro, como muitos adultos aventureiros por ai.

Lembro que um dia, ja anestesiado de comprimidos por todo meu corpo que nem conseguia sentir o meu pau. Meti a minha mochila nas costas, parti o meu cofrinho decidido a viver uma aventura grandiosa antes que eu morresse. Naquele dia, so consegui chegar até á sala, e não era porque alguém estava me impedindo de ir.

Álias. Naquele momento todos os empregados estavam ocupados fazendo seus trabalhos, minha mãe estava tirando um cochilo, meu pai estava na empresa e minha babá arrumando os meus livros, e era a troca de turno dos seguranças, eu conseguiria fugir.

Todavia. O meu corpo e cerebro começou a produzir adrenalina, me deixando ansioso, a ansiedade de voar, de fugir, de me aventura e de tudo mais que passava no meu cerebro, gerou a falta de ar. Era tanta ansiedade que comecei a me sentir a sufocar no medo, pensando "e se eu não conseguir? E se acontecer isso ou aquilo?" Com o medo o panico. E tudo desmoronou...

Sim, eu era esse tipo de pessoa que não conseguia fazer as coisas por impulso e pronto, mesmo sem eu querer calculava os riscos, as vantagens e desvantagens.

De tanto ficar dentro dos muros daquela mansão, eu sentia panico de tudo que pudesse representar o perigo eminente contra a minha existencia.

Porém. Com os anos, consegui matar aquela curiosidade insana que eu tinha, como era estar dentro de um avião? Sim eu estive dentro, mas o avião não saiu do chão.

Era incrivel como o dinheiro fazia milagres, meu pai comprou um avião particular para mim, com uma tripulação e tudo. Eu estava absurdamente feliz. Eu nunca tive o que reclamar, nunca me faltou nada, apesar das minhas limitações, eu tinha quase tudo que eu queria, nunca soube o que era passar fome ou cede, ou não ter casa e dormir na rua, ou não ter condições e não conseguir estudar, eu sempre tive tudo.

Por ser o unico filho e por meus pais terem dinheiro, eu sempre tive do bom e do melhor, mais apesar de crescer no luxo eu nunca fui um daqueles riquinhos playboy mimados, arrogantes que humilhavam os seus empregados ou as pessoas de camada baixa. Eu abominava este tipo de pessoa.

Quando meu pai comprou o avião, eu nem acreditei, explorei o lugar com um sorriso enorme no rosto, as cabines dos banheiros tinham o luxo que nos aviões publicos não tinham, as poltronas eram super confortaveis. E o meu piloto particular até deu-me umas aulas de como pilotar aquela belezinha. Estava tudo okay.

O avião estava ali, eu poderia ir onde eu quisesse, mas cada vez que eu pensava em como aquilo me deixaria distante do chão meu cerebro horrorizava o cenário do mesmo caindo, ou o avião explodindo, ou até mesmo acontece uma falha tecnica e não tem paraquedas, eu descobri então o medo de voar. O medo de altura.

Eu me odiava por não conseguir frear o meu cerebro, eu me odiava por meu coração aumentar o ritimo cardiaco ao ponto de quase explodir toda vez que eu decidia "Era hoje, eu vou voar" e no fim nada. Eu me odiava por ter um avião uma tripulação e nada mudar.

Um dia destes, munido de coragem pedi ao meu pai que era meu amigo, para me levar num bairro pobre. Com o meu mordomo lá fomos, passei um dia a olhar como era a vida deles, como eram as crianças de lá, e constatei que assim como eu, todas as crianças, estavam cheios de sonhos, conhecer a disney, conhecer paris, conhecer os seus herois e lá ia a lista, era enorme.