A noite sem amanhã - Capítulo VI

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Quando viu seus amigos indo embora, Presto sentiu suas certezas vacilarem. A ideia de permanecer sozinho nesse mundo não lhe era nem um pouco atrativa, mesmo que isso implicasse estar ao lado do maior mago que já existiu.

Ainda assim, ele não poderia seguir com eles. Pouco antes da despedida, ao chama-lo em um canto para conversar, Merlin explicou o sacrifício que ele deveria fazer. O orbe de Krynn era apenas o receptáculo do poder, mas para abrir o portal esse poder precisava ser direcionado, de modo que só um verdadeiro mago poderia manipular toda essa energia em prol de suas próprias vontades. Presto duvidava que fosse capaz de manipular tamanho poder, mas preferiu não mencionar esse detalhe e ao invés disso perguntou:

– E o senhor não poderia fazer esse feitiço?

– Bom, sim, poderia. – Respondeu o mago coçando a barba. – Mas para isso eu precisaria portar algo que estivesse diretamente ligado ao seu mundo para fazer o feitiço funcionar, uma vez que eu não conheço o lugar de onde veio. Mas você não precisa disso, jovem mago. – Explicou – Apenas seu desejo de voltar para casa é o suficiente para que o portal seja aberto por tempo suficiente para que todos possam passar por ele.

Presto ponderou e chegou à conclusão que aquilo fazia sentido. Ainda assim não se sentia confiante quanto a sua capacidade mágica e mais uma vez Merlin lhe explicou que essa era a única chance dos seus amigos voltarem e caso Presto recusasse ninguém mais poderia fazê-lo, pois só aquele feitiço tornaria o orbe negro e, portanto, capaz de ser destruído.

Dessa maneira, mesmo a contragosto, Presto decidiu que deveria ficar para que os amigos tivessem a chance de escapar dali. Ainda que tivesse consciência de que estava se sacrificando por eles, não pôde deixar de se sentir triste ao vê-los partir.

Quando todos foram embora Merlin o guiou de volta a sala de feitiços e o instruiu a se preparar, pois o feitiço era complexo e demandaria muito poder. Na grande sala abarrotada de coisas, Merlin o deixou sozinho junto ao seu grimório pessoal, um livro antigo que possuía todos os feitiços que o velho feiticeiro conhecia.

Presto passou as duas horas seguintes folheando o grimório até, por fim, encontrar o feitiço relacionado ao orbe e então começou a preparar o ritual.

O feitiço por si só não era complicado, contudo precisava ser elaborado com cuidado, respeitando seu tempo minuciosamente para que as coisas fluíssem. A principio Presto traçou um circulo no chão de pedra e de seu centro começou a entoar o cântico necessário. À medida que ia cantando sentiu o poder das palavras reverberarem pelo castelo, criando uma estática que fazia o ar crepitar. Era como estar no meio de uma tempestade elétrica, Presto pensou.

Demorou pouco mais de duas horas até conseguir termina-lo. O esforço, contudo, pareceu esgotar suas forças. Ele estava exaurido e sentia que poderia dormir por um mês se não fosse interrompido. Aquele ritual exigiu muito dele, não só como mago, mas como pessoa, uma vez que um dos ingredientes indicados no livro era seu próprio sangue, que Presto extraiu utilizando uma adaga ritualística. O corte em sua mão doía como o demônio e por alguma razão não parava de sangrar, deixando-o fraco a cada tanto de sangue que se esvaía.

Assim que ele terminou tudo, deixou-se cair em uma grande poltrona e se rendeu ao cansaço. Em sua mão, enrolou a tira de uma toalha que encontrara ali, mas mesmo aquilo não foi o suficiente para estancar o sangramento. Com uma corda fina, improvisou um torniquete pouco abaixo do cotovelo na esperança de interromper o fluxo sanguíneo, porém o esforço foi em vão. O sangue continuava a fluir como se um vampiro invisível drenasse sua energia através daquele corte.

Ele estava fraco demais para sair à procura de Merlin e pedir ajuda. Sentia que nem mesmo conseguiria se manter de pé e foi aí que se deu conta que estava morrendo. Uma poça de sangue se formara abaixo de sua mão cortada aumentando a cada segundo enquanto levava embora sua vida. Ele sentia frio. Um frio tão intenso que fazia seus ossos tremerem em desespero. Sua visão ficou turva e rapidamente tudo começou a escurecer.

Era o fim, concluiu.

Foi aí que ele ouviu as portas da sala serem abertas com um pesado ruído e, sob uma visão embaçada, enxergou a figura de Merlin diante de si. Uma faísca de esperança acendeu em seu peito. Ele estava salvo. Merlin estava ali para ajuda-lo.

Contudo, a figura a sua frente apenas riu de sua situação e em seguida se dirigiu até a gigantesca janela que arejava a sala de feitiços. De lá ele observou alguma coisa e pareceu satisfeito, de acordo com sua risada. Ao dar as costas para a janela, Presto notou que a figura havia mudado. Onde antes havia um velho com uma longa barba branca, agora havia um homem alto, de pele alva e vestes que variavam entre o negro e o vermelho, com uma voz gutural que lhe falou.

– Jovem tolo. Nem mesmo eu achei que seria tão fácil enganá-lo dessa maneira. – Ele riu da tentativa frustrada de Presto em tentar se levantar. – Graças a você o feitiço de Merlin caiu e agora a cidade de Helix sucumbirá em minha fúria e no fim roubarei a alma de cada um deles e os tornarei meus escravos.

Ele seguiu para a saída, deixando Presto caído sobre a poltrona se esvaindo em sangue. Mas ao alcançar o umbral das portas, ele voltou-se para o garoto.

– Não se preocupe, logo mais seus amigos se juntarão a você. E antes que eu esqueça. – Estalando os dedos, Presto sentiu seu chapéu voar de sua cabeça direto para as mãos do Vingador. – Seu capuz mágico me será de grande utilidade quando eu drenar seu poder.

E então ele se fora.

Presto sabia que precisava alertar seus amigos. Sabia que eles corriam enorme perigo. Contudo, ele não tinha energia suficiente para se levantar, não conseguia sequer manter os olhos abertos. Assim, ele fechou os olhos e desejou profundamente poder enviar uma mensagem a Hank e no instante seguinte sentiu o mundo abandoná-lo, derrubando-o no vazio da inconsciência. 


CONTINUA...

Caverna do Dragão - Entre MundosWhere stories live. Discover now