Depois de ter deixado Roberta em casa, Thommas não estava mais com cabeça para ir a casa de Henry, pensou que era melhor desistir, não estava com saco para ter que explicar a ausência de Roberta, mas antes mesmo de sair do quarteirão onde a garota morava, viu seu celular tocar com mensagem de Henry dizendo que ele precisava chegar logo para que tudo pudesse acontecer. Acabou indo para a casa do amigo.
- Ué! Onde está a Robin? - Mandy perguntou.
Estavam todos lá, inclusive Fran, que andava bem sumida das reuniões dos amigos.
Thommas não pensou muito bem na resposta e disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça.
- Ela acabou ficando com enxaqueca e preferiu não vir.
Até que não tinha ido mal, Roberta tinha esse tipo de dores constantes.
Mandy o encarou desconfiada, mas sua preocupação passou assim que o namorado passou o braço por sua cintura e falou:
- Bom, já que estão todos aqui, acho que já posso fazer o pedido.
- Pedido? - todos perguntaram juntos, até mesmo Madeline.
- Sim, pedido. - Henry disse com um sorriso travesso nos lábios.
- Do que você está falando, amor?
- Acho que todos sabem que eu sofri como um condenado ao perder essa garota aqui. - começou, abraçando a namorada mais forte pela cintura. - Mas esses dias longe serviram para um monte de coisa. Tipo descobrir que eu não perco minha masculinidade quando choro muito, se vocês querem um exemplo.
Todos acabaram rindo daquela afirmação e ali, no sofá da sala, Hope e Daniel acabaram dando as mãos sem que ninguém percebesse.
- Também fiquei sabendo que embora eu seja um ótimo cozinheiro, não consigo fazer um macarrão à carbonara como o da minha namorada. Vi que os dias sem ela não tem a menor graça, mas o principal foi que eu vi que ela é, sem dúvida alguma, a mulher da minha vida.
Dito isso, Henry virou Madeline de frente - que já chorava - e ficou de joelhos em frente dela ao dizer:
- Embora eu ainda continue bem homem, eu não quero mais chorar se não for de alegria por você, tipo como estou prestes a fazer agora. - puxou a mão da garota e continuou. - Eu quero ter os meus dias preenchidos pela tua felicidade, por seus macarrões à carbonara e principalmente pelo te amor. Madeline, amor da minha vida, você aceita casar comigo?
Não houve palavras como respostas. A garota preferiu puxar o namorado pela mão com toda força e beijar-lhe como se estivessem apenas os dois naquela sala.
Era um beijo misturado com lágrimas, mas nenhuma lágrima se parecia com as que ambos derramaram tempos atrás, essas eram de plena felicidade e certeza do amor que ambos compartilhavam. Eram lágrimas que concretizavam o que ambos já sabiam: eles tinham nascido um para o outro.
- Droga! Eu não posso chorar. - Francine murmurou baixinho pra que ninguém ouvisse.
- Tá bom, tá bom. Chega de pega, pega. - Daniel disse, saindo do sofá e indo em direção ao casal.
- Para de ser chato, esse é o momento dos dois. - Mary repreendeu, puxando o amigo para longe.
Finalmente o casal se separou aos risos.
- Não acredito que a Robin não está aqui. Esse era um dos momentos que eu sempre sonhei em ter ela por perto.
Thommas tentou esconder a pequena culpa que estava crescendo dentro de si. Se aquela briga não tivesse acontecido ela estaria ali com a amiga. Ele demorou um pouco mais com os amigos, mas logo se despediu. Não estava no clima para tanta socialização.
Quando já estava no carro, mandou uma mensagem para Roberta falando sobre a desculpa que usou e torcendo pra que ela já o respondesse.
"Falei que você teve enxaqueca. Acho que a Mandy vai querer confirmar. Você perdeu uma coisa bem importante, depois as meninas te contam tudo. Desculpe."
Roberta estava cochilando quando a mensagem chegou, o barulho acabou despertando-a um pouco, mas ela não se interessou para saber quem era e logo virou para voltar ao sono.
Daniel e Hope foram os últimos a saírem da casa de Henry e agora os dois estavam em um parque de Londres em silêncio, apenas curtindo a presença um do outro.
- Foi lindo, não foi? - Hope perguntou, colocando um fim no silêncio.
- Foi sim. Acho que só agora tá me caindo a ficha que daqui uns tempos terei um amigo casado.
Hope acabou rindo.
- Achei que ele fosse ter um troço. - ela comentou.
- Já eu achei que eles fossem fazer amor ali mesmo. Ignorando totalmente nossa existência.
- Por que você leva tudo na brincadeira? Eles foram super fofos. - ela perguntou meio rindo.
Daniel fez um silêncio e acabou ficando sério, coisa bem incomum para Daniel. Hope o encarou de lado, e antes de perguntar o que havia com ele, Daniel logo contou.
- Eu fiquei pensando nas palavras do Henry. Não em todas, claro. Mas no lance de que a Mandy deixava o dia dele mais alegre. Que ele gostava e precisava disso na vida dele. - falou, pensativo.
- É, foi bem bonito. - Hope respondeu, embora sem entender muito bem a finalidade daquelas palavras.
Daniel pensou que aquela era a hora. Era mesmo, mas quando olhou para a menina as palavras lhe faltaram, e ele acabou apenas beijando-a.
O beijo era um beijo calmo, de uma certeza silenciosa. Aquelas que são tão certas que não precisam ser gritadas, apenas sentidas.
Daniel passou os dedos de maneira carinhosa pelo rosto de Hope, enquanto sentia ela fazer um carinho nos seus cabelos. Depois de algum tempo os dois se separaram com um sorriso nos lábios.
- Vamos? Já está um pouco tarde.
Hope demorou um pouco mais para se recompor. Aquele beijo tinha mexido demais com ela.
- Ér... Vamos.
Levantaram e sem precisar de palavras e nenhum constrangimento, deram as mãos.
Thommas ficou esperando uma resposta de Roberta por tempos, mas acabou percebendo que ela não responderia. Ponderou ir até a casa dela, mas logo concluiu que não seria a melhor coisa a se fazer. A garota estava irritada e tinha todo direito para aquilo, talvez o melhor a se fazer fosse dar tempo a ela. Amanhã ele tentaria outra mensagem. Mas não aguentou e assim que anoiteceu decidiu mandar uma mensagem nova. Agora se desculpando de verdade.
"Desculpa. Eu fui um idiota e não medi minhas palavras. Eu não queria dizer nada daquilo. Apenas, na hora da raiva, selecionei as palavras que mais podiam te deixar irritada. Queria passar aí amanhã pra gente conversar melhor, que tal? Se você estiver com tempo, me responde dizendo a hora que posso passar aí."
Roberta escutou seu celular tocar sinalizando outra mensagem, e assim que pegou o celular em mãos e viu que se tratava de mensagem de Thommas, uma outra mensagem chegou, dessa vez de Madeline. Obviamente abriu primeiro o da amiga.
"Você está melhor? Foi enxaqueca mesmo? Posso passar aí? Preciso te contar as novidadeeeeeeeees."
Pensou em ignorar, mas logo depois respondeu que ainda não estava completamente bem, mas que amanhã ela passasse lá.
Leu a mensagem de Thommas e acabou se perguntando como ele poderia ser tão cego. Ela não estava irritada com ele, nem de longe. A verdade é que ela estava magoada, magoada como nunca e olhar para ele era sentir tudo ainda mais forte. Não sabia se um dia seria capaz de ser amiga dele novamente.
Não respondeu nada. Acreditava que ele até esperava isso, mesmo achando que ela faria isso por orgulho, não por dor. Roberta apenas deixou o celular de lado e derramou uma lágrima solitária antes de levantar para tomar um banho e tentar esquecer como tinha sido aquele dia.
No dia seguinte Roberta não conseguiu evitar Madeline, era melhor recebê-la do que levantar qualquer suspeita. Tudo que menos queria era ter que explicar algo para sua amiga. Queria apenas fingir que aquele dia não tinha existido, e já que cada vez que pensava percebia que isso era difícil de acontecer, decidiu que podia, ao menos, manter toda sua humilhação apenas para si.
- Sabe, quando éramos mais novas a gente sempre disse que queríamos estar presentes em todos os momentos primordiais da vida da outra, e você com sua enxaqueca quebrou isso, sua vaca. - Madeline abriu a porta do quarto já falando.
- Hã?
- Acho que o dia em que sua melhor amiga fica noiva é um dia bem primordial. - Mandy lhe falou levemente enquanto balançava a mão direita.
Roberta correu ao encontro da sua amiga e agarrou a mão dela querendo ver o anel de perto.
- Como assim você ficou noiva e eu não estava lá? O Henry não podia ter feito isso.
- Ele ficou esperando você e Thommas chegarem, mas daí você inventou de adoecer...
Roberta queria gritar de raiva naquele momento. Não acreditava que tinha perdido um dia como aquele. Sua amiga tinha noivado e ela não estava presente.
- Se eu soubesse que era isso, eu teria ido de todo jeito.
- Como se você conseguisse fazer alguma coisa quando está com enxaqueca. - Madeline desdenhou da possibilidade que a amiga levantou. Roberta mal saía da cama quando a dor batia.
"Isso se eu estivesse mesmo." Roberta pensou em dizer, ainda segurando a vontade de gritar ou quebrar algo.
- Mas me fala aí, como é que foi? - indagou empolgada, tentando deixar a chateação para lá.
Madeline correu e se jogou de costas na cama de Roberta, parecendo flutuar.
- Foi lindo, Robin. - suspirou apaixonada. - Ele falou do quanto ele aprendeu sobre nós no tempo que nos separamos, falou de um jeito que não me deixou dúvidas que ele fez isso de espontânea vontade, sabe? Ele me quer mesmo ao lado dele.
- A gente sempre soube disso, bobona. Henry é louco por você.
- Mas a melhor parte foi entender além do que você todos vêem. - Madeline disse, sentando na cama e olhando para a amiga. - Ele não é só louco por mim, a loucura da paixão não é nossa base, entre nós há amor, sabe? Ele me deu essa certeza que amo e sou amada.
Roberta deu um sorriso de lado. Estava feliz pela amiga e também refletindo sobre as palavras dela. Madeline sabia mesmo o que era amor.
- Depois daqueles dias tão difíceis, eu sinto que estou vivendo um sonho. Dá até medo de acordar.
Robin se dirigiu a cama e sentou-se ao lado da amiga, lhe abraçando de lado.
- Não tenha medo, meu amor. Isso é tudo real e não há ninguém que eu conheça que mereça mais essa felicidade que você. Você sempre foi puro amor e agora recebe muito amor de volta.
- Teria sido ótimo ter tido você lá. - Mandy disse, olhando a amiga nos olhos e dando um sorriso um pouco melancólico. Roberta tinha mesmo feito falta.
Roberta deu o mesmo sorriso de volta.
- Mas eu vou estar ao seu lado sempre, mesmo que não fisicamente. E sim, eu amaria ter estado lá.
- Sabia que a Fran ficou emotiva lá? - Madeline disse, já tirando o clima melancólico e rindo.
- A Fran? - Robin indagou, também rindo.
- Se você perguntar ela vai jurar que não, mas pode perguntar para todos lá. Ela ficou toda sensível.
- Ahhh - Robin deu um gritinho - Perdi coisas demais para um dia só.
Madeline voltou a deitar na cama e falou:
- Quando o Thommas chegou, achei que tivesse rolado alguma treta entre vocês. Ele não tava com uma cara muito boa, foi melhorando aos poucos.
"Eu não vou falar." Roberta disse para si mesma.
- Que nada. - tentou tirar por menos. - Tá tudo bem, eu só estava mesmo com uma dor dos infernos.
Quando Madeline balançou a cabeça em um sim, confirmando que acreditava, Roberta soltou a respiração que nem sabia que prendia. Respirou fundo mais uma vez e depois mudou de assunto:
- Mas me conte mais dessa fase de noiva. Quero todos os seus planos.
As meninas seguiram conversando até tarde, fazendo Roberta lembrar poucas vezes do assunto que não lhe saía da mente antes da amiga chegar. Mas quando ficou sozinha, logo após ter jantado com a mãe e a irmã, recebeu outra mensagem de Thommas.
"Não sei se você vai responder essa mensagem, mas eu acho que deveria tentar mais uma vez. Vou tentar achar que a anterior não chegou no seu celular, mesmo que a da Mandy tenha chegado, já que o Henry me disse que ela falou contigo por mensagem. É... Eu só quero dizer que você é importante, tá? Eu jamais repetirei aquilo novamente. É isso."
Se Roberta fosse responder aquela mensagem, a resposta seria para que ele não enviasse mais nada. Não porque ela estava morrendo de ódio dele, mas porque ela precisava de uma distância para que um dia pudesse voltar a sentir qualquer coisa que não fosse mágoa por ele. Mas sabia que se enviasse a mensagem, seria mal interpretada e que seu pedido não seria acatado.
Por vários dias as coisas seguiram assim: Thommas lhe mandava um monte de mensagens que jamais eram respondidas. Até que Robin resolveu não abrir mais nenhuma, não enquanto não estivesse mesmo bem para lê-las.
Tentava se manter ao máximo ocupada com a loja da família, assim tinha a desculpa perfeita para não sair com os amigos, e quando saía, era em dia de aula, onde ela tinha certeza que Thommas não iria, já que agora ele estudava à noite. Mas sempre deixava para confirmar em cima da hora, apenas para ter certeza que ele não ficaria sabendo.
Thommas tentava sempre saber como ela estava, e essa tarefa estava sendo bem difícil, já que ela não respondia as mensagens e ele não dizia aos amigos que os dois estavam sem se falar. Uma vez Daniel desconfiou, perguntou se eles estavam brigados, mas Thommas negou.
- Ela só sai quando você não vai. - o amigo disse.
- Você mesmo falou que ela anda ocupada com a loja. A loja só fecha à noite e eu estudo essa hora. Para de bobagem, se tivesse alguma coisa eu já teria dito. - tentou fazer com que o amigo acreditasse.
Mas aquilo na verdade já estava cansando.
Estava cansado de tantas mensagens sem respostas. De tanta distância. De tanta raiva da parte dela. Depois de pensar sobre o assunto, resolveu que era a hora de parar de correr atrás. Mandaria sua última mensagem e só tornaria a procurá-la se obtivesse resposta.
"Acho que ao todo já foram mais de cinquenta mensagens sem respostas, né? Eu não sei mais o que fazer ou dizer para você me desculpar, parar de me evitar...
Você tá fazendo mais falta do que eu imaginava que faria, tá sendo um saco saber que estou sendo evitado por você. A galera já começou a desconfiar, um dia desses o Daniel me perguntou sobre. Alguém já fez isso com você? Me admira a Hope ainda não ter falado nada comigo.
Eu já te disse tudo que poderia ser dito. Reconheci que errei, que falei coisas que não penso, que você não é o que eu disse. Falei que não deveria ter ido embora, mesmo quando você pediu e mais um monte. Tudo que qualquer um poderia achar necessário. Mas já que nada disto serviu, vou falar o que talvez nem falte, mas que é o que resta.
Quando eu te vi chorando na beira da estrada eu quis socar a minha cara. Olhei pra você e nunca me senti tão péssimo. Eu quis quebrar a distância e tomar você nos braços, fazer carinho até que seu nariz perdesse o tom vermelho e seus lábios parassem de tremer. Mas eu sabia que nada daquilo podia acontecer. Que você jamais deixaria. Quando te deixei em casa segurei a vontade de te beijar, de ficar ali abraçado a ti até que você falasse que me desculpava, mas isso foi outra coisa que eu não fiz por saber que você jamais deixaria. Fico pensando se não fui fraco, se eu não deveria ter tentado.
Desculpa pelo que fiz e talvez pelo que não fiz. Mais uma vez me desculpa.
Espero obter resposta dessa vez. Quero muito te ver.
Beijos."
Pronto. Estava feito. Era tudo ou nada. Ou Roberta respondia, ou aqueles pedidos de desculpas terminavam alí.
Roberta continuava compenetrada no trabalho da loja. Fazia algumas horas que ela organizava uma papelada já perfeita aos olhos da mãe. Kátia não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que aquele comportamento não era normal da filha e que tinha algo errado. E mesmo se não tivesse, ainda assim tinha cansado de toda aquela determinação de Roberta, ela precisava de uma folga.
- A Megan me disse que seu pai está indo para o Brasil. Você sabia?
- Aham. - foi tudo que Roberta disse enquanto pendia o cabelo em um coque alto.
- Sente falta de lá?
- Sim. - disse, sem nem levantar a cabeça.
- Pensei que seria bom você ir passar um tempo lá também. Espairecer um pouco, matar a saudade dos seus avós e tios...
Roberta levantou os olhos e aos poucos também foi levantando a cabeça para encarar a mãe.
- Como assim?
- Eu queria muito que você conversasse comigo, me falasse o que está acontecendo, mas suspeito que se você tivesse essa intenção, já teria feito. Tem alguma coisa acontecendo contigo. – não perguntou, afirmou.
- De onde você tirou isso, mãe?
- Você não suporta trabalho administrativo e de repente entrou nisso de cabeça igual uma louca por trabalho.
- E você não deveria estar me agradecendo por isso?
- Por você parecer ter desistido de seu sonho para viver em prol dessa loja? Você quer jornalismo, não administração. Devo agradecer por minha filha estar arrumando uma papelada que já estava perfeita desde a décima vez que ela arrumou? Essa não é você, Robin. Cadê seus amigos?
- Na casa deles? – indagou, irônica e seca.
- Suas mudanças de humor não vão me fazer sair dessa sala. - Kátia advertiu. - Um tempo no Brasil seria ótimo, baixaria a adrenalina e o estresse.
- Deixa eu ver se entendi. Você quer que eu vá com meu pai para o Brasil tirar o estresse? Vou repetir: Ir ao Brasil com meu pai tirar o estresse? Com meu pai? Você está se escutando?
Kátia respirou fundo. Roberta sempre abusava da ironia quando queria se livrar de alguém.
- Você não precisa ficar ao lado dele o tempo todo. Fique na casa da mamãe, dos seus tios.
- Por que essa necessidade de me mandar para longe?
- Porque não quero você parando no hospital por esgotamento físico e mental. Quero te ver bem.
Roberta rolou os olhos.
- Se eu prometer pensar no assunto você me deixa terminar isso?
- Tudo bem. - Kátia respondeu, já levantando. - Vou mandar sua irmã saber quando seu pai pretende ir e tornaremos a falar disso depois.
- Ótimo. Agora me deixa trabalhar.
Depois que sua mãe saiu, Roberta foi olhar o que tinha chegado no seu celular, já que no meio da conversa tinha escutado o barulho do celular tocando. Antes mesmo de desbloquear, viu o nome de Thommas na tela. Sentiu um frio na barriga e se repreendeu mentalmente por tal atitude. Thommas não deveria mais causa qualquer tipo de coisa como aquela nela.
Quando abriu a mensagem e leu, o frio tornou a aparecer na barriga dela. Ele tinha mesmo sentido vontade de beijá-la? Se sim, por que não tentou nada? Releu a mensagem e se segurou em um trecho específico "Tudo que qualquer um poderia achar necessário." Qual era o tudo de Thommas? Palavras vazias enviadas por mensagem de texto porque ele não era corajoso o suficiente pra dizer tudo em sua frente? Ela continuava morando na mesma casa, trabalhando na mesma loja, tendo os mesmos amigos. Mas Thommas falava como se fosse difícil demais conseguir achá-la e se desculpar ao vivo.
Riu sem humor ao perceber como Thommas parecia vazio muitas vezes. Talvez ele não soubesse o que era fazer tudo. Talvez nem soubesse o que queria de verdade. E se Thommas não sabia, não seria ela que explicaria. Deixou o celular de lado e voltou ao seu trabalho.
Thommas esperou a resposta por todo aquele dia. Chegou o sábado, um dia depois dele ter mandando, e ela ainda não tinha respondido. Esperou até o fim da tarde, deu todo tempo que ele achava necessário, mas nada de resposta. Então mandou uma mensagem para os amigos perguntando se não seria uma boa ideia eles irem à balada. Mandou apenas para os meninos. Queria uma noite típica de caras, sem interferência das amigas.
Para sua surpresa Daniel não estava tão disposto a ir, e depois de alguma insistência ele ainda sugerira de chamar as meninas, mas Derek estava do lado de Thommas e defendeu que era melhor sem as garotas. Depois de até Henry topar, Daniel também acabou aceitando. Iriam se encontrar às oito na porta da boate.
- Que vontade era essa de curtir uma balada, hein? - Daniel perguntou, curioso.
- E por que a proibição das meninas? - dessa vez era Henry quem queria saber.
- Vocês parecem duas mocinhas. - Derek desdenhou rolando os olhos. - O cara quer curtir, vocês deveriam estar felizes. Suspeito que o Thommas não saiba mais nem o que é beijar na boca.
- E você por acaso sabe? Não te vejo pegando ninguém faz bastante tempo. - Henry acusou e Derek apenas rolou os olhos. Não iria admitir que ultimamente só deseja uma garota. Maredith.
- Eu quero curtir sem que nenhuma das meninas se choque ou dê opinião. Uma noite com os caras. - Thommas explicou, agoniado com aquelas perguntas.
- Tá bom.
Até metade da noite a curtição estava mesmo sendo apenas com os caras, mas um tempo depois uma garota começou a encarar os quatro, e como Henry era comprometido, e Daniel, e Derek pareciam pouco dispostos a descobrirem quem ela de fato queria, Thommas resolveu que só restava ele e que seria uma falta de educação não dar atenção a ela.
- Sou um cavalheiro, rapazes. - ele falou, arrancando risadas dos amigos.
Chegou onde estava a garota e apenas segurou sua mão, já guiando-a para a pista de dança. Ela não se opôs. Deu a mão a ele e seguiu para a pista.
- Posso saber seu nome? - Thommas perguntou quando já estavam dançando.
- Jeny. E o seu?
- Thommas.
Não houve muito mais diálogos depois desses. Os dois começaram a dançar colados e um tempo depois já estavam aos beijos no meio da pista de dança.
Mesmo que Thommas não costumasse dançar muito e também não tivesse o hábito de beber demais, naquele dia ele se deixou quebrar as próprias regras e fez tudo isso. Achou que seria capaz de ir mais longe, mas quando chegou a hora, não conseguiu.
- Que tal irmos para um lugar mais reservado? Pode ser a sua casa. - Jeny sugeriu.
Thommas parou um pouco, ponderando a ideia. Quase se socou quando só uma coisa lhe veio à mente: Roberta.
Ainda não seria aquele dia que ele viraria por completo a página.
- É que eu vim com uns amigos e prometi que voltaria com eles. Você poderia me dar seu número. Quem sabe a gente não marca de curtir uma balada novamente?
- Você não é comprometido não, né?
- Como?
- Sua cara. - ela apontou. - Você parece um pouco culpado.
Thommas forçou um riso.
- Não. Eu sou solteiro. É sério. É que hoje não dá mesmo.
A menina também deu um sorriso.
- Tudo bem. Anota aí meu número.
Depois disso Thommas resolveu apenas beber mais um pouco e também beijar mais um pouco Jeny. Até que os meninos cansaram e ele resolveu que também era a hora de ir embora.
No dia seguinte Roberta estava em casa graças a uma folga que sua mãe impôs que ela deveria ter. Antes mesmo que pensasse em alguma coisa, Madeline apareceu lá com doces, sorvete, pipoca e mais um monte de coisas gostosas e ainda alegando que tinha sido uma baita sorte ela estar em casa. Mas Roberta sabia que isso tinha dedo de Kátia. Tudo tinha sido milimetricamente pensado.
- A Fran tá vindo aí também, mas vai demorar. Mandei uma mensagem pra ela dizendo que você estava em casa.
Robin pensou em desmentir e dizer que não teve mensagem alguma e que elas já sabiam que ela estaria em casa, mas depois de ver tudo que as duas e sua mãe tinham feito para ela, apenas ficou grata e não foi contra nada.
- Se os meninos puderam ter uma noite dos garotos ontem, a gente pode ter a manhã e a tarde das garotas hoje. - Mandy falou rindo.
- Noite dos garotos? - Roberta indagou, curiosa sobre aquela frase.
- O Thommas não te disse? Ontem resolveram curtir uma balada sem garotas e até o Henry topou.
- O Henry? - Roberta perguntou, tentando não deixar transparecer sua curiosidade sobre essa saída, mas também sendo sincera na surpresa.
- Sim. - Madeline disse, rindo da cara da amiga.
- E você não se incomoda?
- Dele na balada? Não. - Mandy negou, balançando as mãos em descaso. - Claro que eu não pensaria a mesma coisa se ele me falasse que estava indo a uma casa de stripper, mas é só uma balada. Ele tá comigo, mas ainda tem amigos. Pra mim é de boa.
- Pra muitas meninas nem é, viu?
- Eu sei. Mas acho que o amor é isso, sabe? Abrir mão desse medo de perder. Até porque, amar é deixar a pessoa ir se ela assim quiser. E acreditar que é amada é acreditar que essa pessoa não vai. E caso ela for, entra o famoso amor próprio. Se ela foi, não era amor. E se não era amor, não tinha porque estar nessa relação.
Roberta ficou uns segundos em silêncio absorvendo as palavras sábias da amiga.
- Se é amor a pessoa nunca vai?
- Se um dia ela amou, ela vai ter a decência de não te trair na hora de ir embora. E se for amor, não é uma noite na balada que vai colocar tudo no chão.
- Entendi.
Conversaram um pouco mais sobre a relação de Madeline e Henry até que Fran chegou e escolheram ver um filme enquanto se entupiam de guloseimas.
- Obrigada, meninas. Eu estava precisando disto. - Roberta disse quando o filme acabou.
- Para de bobagem. Não precisa agradecer. - Fran falou, rolando os olhos. Ela sempre estaria ali para Roberta, e nunca cobraria um obrigada em troca.
- Eu sei que minha mãe falou com vocês e isso foi bem combinado, obrigada por aceitarem vir. Acho que não sabia o quanto eu precisava disto até ter esse momento.
- Vamos estar sempre aqui uma pra outra, Robin. Sei que você faria o mesmo no lugar de qualquer uma de nós duas.
- Faria sim. - ela confirmou a Madeline enquanto sentia uma enorme gratidão por ter amigas tão boas como as dela.
Quando as meninas saíram e Roberta voltou a ficar só, ela usou seu tempo para pensar um pouco em como sua vida estava.
Estava colocando todas as suas energias em um trabalho do qual não gostava; Tinha deixado seu sonho de lado; Sua relação com seu pai, embora hoje mais suportável, ainda não era fácil; e ainda tinha Thommas, alguém que estava lhe tirando dos eixos. Sentia que estava só seguindo, mas não tinha onde chegar.
Precisava de um tempo longe daquele trabalho para poder amar mais quem ela era, afinal, não amava quem estava sendo agora. Talvez também precisasse de uma conversa com seu pai, uma em que ela soubesse em que situação sua relação com o pai se encontrava. E também precisava de um tempo pra si, um tempo sem todo esse tumulto que era sua relação com Thommas.
Respirou fundo antes de falar em voz alta o que já estava decidido em seu coração. Ela iria para o Brasil.
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The Better Part of Me
TienerfictieComo Roberta diz: Thommas é um clichê ambulante. Sai com várias, diz eu te amo para todas. Mas ele tem um diferencial, costumar namorar com todas elas, mesmo que por pouco tempo. Já Roberta, é do tipo certinha: não bebe, é virgem e nunca teve um na...