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Guilherme:

Nós havíamos ganho a primeira batalha, agora vinha a parte mais difícil manter Glauco atrás das grades.

Retornar a vida normal, não era fácil, mas era necessário,   os meninos voltariam a escola depois de meses afastados, aos poucos nossas vidas entravam no eixo, Samuel se recuperava a olhos nus, nem parecia que havia passado pelo trauma que passou, muito pelo contrario ele levava aquela história como uma grande aventura que ele havia participado, mas para Bê e eu aquilo não havia sido uma aventura, havia sido um pesadelo. 

Ser criança havia suas vantagem em não saber a gravidade do ocorrido.  

O retorno das crianças a escola foi uma alegria para os dois, eles foram recebidos sobre aplausos de todos os alunos e funcionários da escola, os amiguinhos vieram todos abraça-los na maior algazarra, Samuel se gabava da "aventura" da qual foi protagonista. Deixá-los ali na escola sem eu estar por perto deles foi uma experiencia complicada e dolorosa para mim, eu não imaginava que seria mais difícil para mim do que seria para eles, porém eu me sentia inseguro, era como se eu os tivesse abandonando ou era simplesmente o medo que tentava me dominar, mesmo que a professora tentasse me tranquilizar eu me sentia inquieto:

_ Não se preocupem, eu só entregarei eles a um de vocês. 

_ Eu sei que pareço exagerado no meu cuidado, acontece que é o primeiro dia desde o acontecimento que eu tenho que me separar deles.

_ Eu também me sinto assim Gui - disse Bernardo _ Entretanto não podemos criar os meninos nessa estimativa, pois estaremos sendo reféns desse medo e da nossa insegurança, o Glauco não poderá lhes fazer nenhum mal, ele está preso. Nós não podemos permitir e oprimimos os meninos com o confinamento por medo de  acontecer algo a eles, quem está preso e merece ficar lá é o Glauco e não os nossos filhos. 

_ Eu sei que vocês tem toda a razão, e eu tenho que espantar esse meu medo, mas imaginar eles em perigo me apavora. 

_ Esse medo é normal, afinal nós passamos por uma situação traumatizante, mas olha para eles, são crianças saudáveis, curiosas que estão descobrindo o espaço deles no mundo, não é justo privar eles de viver por causa de um maluco. 

_ É até bom você evitar chamá-lo de maluco Bê, vai que alguém escuta e dá enfase para ele ir para uma clínica. 

_ É esse o seu medo não é Gui?

_ Se ele fizesse a mim eu não teria tanto medo dele sair da prisão, mas é os nossos filhos que ele quis usar para nos ferir. Samuel é só uma criança que nada podia fazer para se defender, na prisão eu sei que ele estará atrás de uma grade com dificuldades maiores de escapar de lá do que em um jardim onde ele estará livre, o Glauco é esperto e ele soube dissimular por anos o sentimento dele em relação a nós, se nós dois caímos na dele, os médicos que não o conhece será facilmente ludibriados por ele. 

_ Eu entendo a sua preocupação Gui. Mas nós iremos estar atentos e não vamos deixar ele se aproximar nunca mais dos meninos. 

Com tudo isso, com todo esse peso as sessões no psicólogo ficaram mais frequentes, era o ciúmes de Bernardo, o medo excessivo que eu tinha e as consultas com as crianças, tudo com psicólogos diferentes pois o primeiro dizia que não atendia dois pacientes da mesma família. Mas estava valendo a pena pois aos poucos no decorrer dos dias e da animação dos meninos ao chegarem da escola com um monte de novidades o meu medo aos pouco foram se dissipando.

O ciumes do Bernardo também havia diminuído bastante, eu sentia que a confiança em mim e nele também fazia ele se sentir mais seguro de si, e acho que até para provar para mim que ele estava melhorando que ele  resolveu fazer uma festa dizendo que era para mandar embora de vez os fantasmas que nos assombravam e comemorar o renascimento dos gêmeos e a união da nossa família. 
Entre os convidados para minha surpresa ele adicionou a lista dois nomes, que normalmente ele faria questão de riscar se fossem em outros tempos, Rafael e Lyam receberia o seus convites pelo correio assim como todos os outros convidados, para corresponder ao gesto dele eu acrescentei o nome do Bruno também a lista.

Os funcionários da escola, alguns policiais, alguns amigos de trabalho de Bernardo e alguns conhecidos haviam sido convidados. 

Samuel e Daniel também convidaram alguns amiguinhos, logicamente viriam acompanhados de seus pais. 

Essa sensação de viver em família, fazendo planos para a festa me fazia bem, os meninos estavam empolgados, Bernardo e eu fazíamos o possível para manter   o sorriso em seus rosto, e com isso tínhamos no nossos também, pois vê-los felizes nos deixava felizes também.

Dois dias antes da festa porém recebemos uma notícia que me fez ficar triste, Glauco havia conseguido o que queria, ele seria levado a uma clínica de repouso. Mas Bernardo não me deixou desanimar:

_ Hei, não desanima não, ele ainda estará preso, eu sei que parece que ele venceu, mas não venceu, ele ainda está lá preso, e está sendo vigiado, mas nós estamos aqui, e vamos comemorar a nossa liberdade, nós não podemos esmorecer, os nossos filhos precisa que sejamos fortes por eles, vamos criar os dois para serem homens de caráter, corajosos e verdadeiros assim como o pai deles é, você só precisa ser quem você é para eles se espelharem em você Gui. 

_ Eu te amo Bê. Obrigado por me encorajar, por me mostrar que eu preciso ser forte, por todos nós. 

_ Eu também te amo Gui. 

Nós dois nos beijamos e vemos dois pares de olhos nos olhando. Era a primeira vez que eles haviam visto uma cena de carinho entre nós, sempre evitávamos ficar nos beijando na frente deles para não os confundir: 

_ Vocês dois estão namorando? - Perguntava Daniel com os olhinhos  curioso, mas a resposta de Samuel que nos causou risos:

_ Claro Daniel, eles moram juntos, e quem mora junto é por que namora.  

Vendo a carinha dos dois eu olhei para Bernardo e percebi que o momento de sentarmos com os meninos e explicarmos o nosso relacionamento a eles havia chegado. 


Em busca de redençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora