3.Regras e restrições

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–Você vai aceitar, não vai? —Gabbie perguntou, deitada de barriga pra baixo e com a cabeça apoiada em suas mãos, deitada na sua cama.

–Eu não sei, não me parece certo “me vender”. —Ela semicerrou os olhos.

–Se vender? Você não é uma prostituta! Ele não está pedindo uma noite de sexo com você. Pessoas famosas fazem isso toda hora, contratam pessoas para fingirem relacionamentos com o propósito de obter mais fama e estarem sempre nos tablóides. Por que você acha que Britney Spears e Timberlake casaram e se separaram imediatamente?

   Gabbie tinha um ponto de vista forte, isso era comum no mundo de Christopher, tudo era negócios e dinheiro. E eu ganharia coisas em troca também.

–Você não está errada... Mas isso não tem nada a ver com negócios, ele quer fazer ciúmes na ex dele.

–Liz, a ex é filha de um dos associados. Isso é negócio sim! —Ela respirou fundo. —Não se ofenda com o que vou dizer, mas eu preciso falar. —Assenti. —Você não se arrisca, se preocupa demais com o que vão falar e se vai dar certo ou não. E por causa de toda essa hesitação você está sempre no mesmo lugar. Qual foi a última vez que você fez algo que teve muito medo mas que mudou sua vida? —Era uma pergunta difícil.

–Bem, eu acho que foi quando decidi trocar de curso.

–E isso já faz um ano! E a profissão que você escolheu é uma profissão de riscos. Pra ser ter sucesso você precisa entrar nesse mundo. Christopher é sua porta! E essa porta não estará sempre aberta. Quem sabe se ele já não voltou com a ex-namorada?

  Ela tinha razão, eu não me movia para atingir o que queria, sempre levava muita reflexão e hesitação, o que acabava me impedindo de fazer escolhas que poderiam me trazer benefícios, tanto na vida acadêmica, profissional como na pessoal. Eu não poderia tomar essa decisão ouvindo aos meus pensamentos, então decidi tomar ouvindo os conselhos de Gabbie.

   Liguei para o número que Christopher me dera no bar. Ele atendeu imediatamente.

–Eu aceito.

–Eu sabia que aceitaria, Liz! —Soava calmo pelo telefone.—Meu motorista estará na frente do campus após sua última aula. Temos muito a conversar.

   Contei para Gabbie, que ficou animada. Segundo ela, seria o máximo ter uma amiga famosa. Eu esperava que eu não ficasse famosa só por causa disso, mas que me abrisse um mundo de oportunidades pra quando terminasse a faculdade ter uma fonte de renda. Pedi que ela não contasse a ninguém, nem ao David. Ela jurou de dedinho.
   Pensei em ligar para Fred e pedir demissão, os dez mil me deixariam livre por vários meses, mas não quis arriscar. Não poderia confiar em Christopher cegamente. Eu ainda tinha minha vida para cuidar.
   O motorista estava lá na hora certa, como combinado, porém o caminho era mais longo do que eu imaginava. Não estávamos indo para a Morris Corporation, disso eu tinha certeza. Estávamos na área residencial mais reservada da cidade, apenas os mais afluentes moravam lá. Me senti em outra dimensão com aquele paraíso arquitetônico ao meu redor. Passamos por um portão gigante, um caminho cheio de árvores e esculturas modernas e paramos em frente a o que mais parecia ser um palácio futurístico. Se eu morasse lá me negaria a sequer sair de casa por um dia!
   O motorista abriu a porta do carro e eu saí, levantei o queixo caído e o segui.

–Senhorita Liz, Sr. Morris está a sua espera em seu escritório. —Sua secretária falou e estendeu o braço, direcionando-me. É claro que ele tinha um escritório em casa. Ela mesma abriu a porta do escritório e pediu que eu entrasse. Christopher estava no telefone.

–Sim, pai. Teremos que agendar uma reunião do quadro de conselhos para amanhã, a de hoje não teve a produtividade esperada. —Ele ouvia atentamente, mas notara que eu estava ali. —Tudo bem, preciso ir. Conversaremos depois. —Desligou o telefone e olhou para a secretária, que entendeu e se retirou. —O que te fez mudar de ideia Liz?

–Conselhos de uma pessoa impulsiva. “Você precisa se arriscar mais!”, minha amiga me disse. —Imitei Gabbie. —E também eu quero trabalhar com produção de filmes, pensei que você poderia me dar uma ajudinha com isso se me tornasse um pouco mais conhecida.

–É seu dia de sorte, tenho contatos que me devem favores. —Ele se levantou, caminhou até a frente da mesa e se encostou na mesma. —Mais alguma condição?

–Acho que não. —Respondi, não tinha pensado muito nisso, a questão era ser impulsiva.

–Então vamos falar de restrições. Número um, a mais importante: você não deve namorar ou sair com outro homem. —Essa era óbvia, arruinaria tudo, desde o plano até a minha reputação. —Número dois: não deve contar a ninguém sobre isto. Só nós dois sabemos que será falso. —Essa restrição era impossível, eu já havia informado Gabbie sobre tudo.

–Bem... —Ele arregalou os olhos em desaprovação. —Eu já contei tudo pra minha colega de quarto. Mas ela não vai contar pra ninguém, eu prometo! —Suspirou, fechando os olhos.

–Isso nos leva a restrição número três: se a verdade de que isto tudo é falso for descoberta pela mídia, fingimos um término e faremos de conta que nada disso aconteceu. Alguma objeção?

–Não, eu concordo. —Eu não me preocupava com isso, mancharia mais a imagem dele do que a minha.

–Se você não tem nada a adicionar, isso conclui nossas regras. Revisarei o contrato e mandarei entregarem a você nos próximos dias. —Christopher anotava algo em um caderno de couro.

–Eu tenho uma pergunta.

–Pode falar.

–Teremos que demonstrar afeto em público? —Parou de escrever e me encarou.

–É assim que casais agem, não é?

–É, mas precisamos nos beijar? Há várias formas de afeto. —Houve um curto silêncio na sala.

–Não precisamos, se não quiser. —Era uma medida de proteção, por mais que tudo fosse uma farsa.

–Então quero adicionar uma restrição. Número quatro: não podemos nos beijar.

–Tudo bem. —Ele segurou o riso. Devia ter sido a primeira garota que não queria beijar Christopher Morris.

–Mais uma coisa, eu não quero um makeover ou algo do tipo, não quero mudar meu cabelo ou meu rosto. Não uso muita maquiagem e odeio office wear. Se você me colocar em um terninho eu te mato! —Christopher riu, mostrando seus dentes alinhados e perfeitos.

–Você não precisa mudar nada. —Me fitou. —Gosto do seu cabelo. —Sorriu, o que me deixou sem jeito.

–Obrigada.

–Sua primeira aparição será amanhã. Me acompanhará no coquetel de inauguração de uma empresa. —Andou até uma mesa na lateral da sala e pegou duas grades caixas brancas.

–Como devo me vestir? Formal? —O mais perto de um vestido longo que eu tinha era um macacão com estampa de abacaxis. Muito apropriado, Liz.

–Eu me dei o trabalho de te dar uma mão. —Soltou as caixas na minha frente, uma em cima da outra. —Vamos, abra!

   A primeira caixa continha um vestido verde irlandês cintilante, com um sapato bege e um acessório dourado. Não era muito o meu estilo, mas era lindo.

–Vista-o. Tem um banheiro atrás daquela porta. —Apontou para a lateral da sala, tinha uma porta ao lado da estante de livros.

   Demorei para fechar o zíper do vestido. Não pediria a ajuda de Christopher por nada nesse mundo, ele já estava do outro lado da linha que eu tinha pra caras desconhecidos.
    O vestido, o sapato e o acessório complementavam-se perfeitamente. Eu parecia uma garota que iria assistir ao Oscar na primeira fila. Mas não combinava comigo, me senti outra pessoa.

–O tamanho ficou bom, mas você parece não ter gostado muito. —Disse Christopher, sentado em sua cadeira. —É desconfortável?
 
  Neguei.

–Não combina comigo... —Sorri falsamente.

–Experimente o outro!
 
  Abri a segunda caixa. Dentro dela tinha algo que com certeza chamou mais minha atenção.
  O vestido preto cintilante e sem alças servia perfeitamente. O sapato prateado era da mesma cor e design minimalista do que acessório. Acentuava minha pele e eu não me sentia uma estranha nele.

–Ficou bom? —Christopher visualizou dos pés à cabeça atenciosamente.

–Sim, ficou bom. —Ajeitou a gravata e desviou o olhar.

–Então será este! —Christopher sorriu fitando sua mesa.

  Troquei de roupa e voltei para o escritório.

–As oito estaremos na frente do campus amanhã, esteja pronta.

–Estarei. —O telefone tocou de repente.

–Te vejo amanhã. Se me der licença...

  Assenti e me retirei do escritório. O motorista me levou de volta para o campus e logo que cheguei avisei Fred que não estaria disponível no dia seguinte, sem muitos detalhes. Ele entendeu, provavelmente tomaria meu posto. Fred trabalhava como bartender antes de abrir seu próprio pub.
  Arrumei meu material para o dia seguinte e até tentei começar a ler um dos livros do semestre, mas não consegui. Eu estava ansiosa demais com o que aconteceria no dia seguinte. Se qualquer coisa desse errado, poderia ir tudo por água abaixo. Se eu não me comportasse como pessoas da classe alta, poderia me tornar uma piada. Fechar o livro e ir dormir talvez tenha sido a melhor decisão que eu teria feito nesse dia.

COMO NÃO SUPERAR CHRISTOPHER MORRIS (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora