9.Segredos

245 18 0
                                    

–Você vai ficar bem? —Arrumei a gola da sua camisa. Era a noite da despedida de solteiro, Christopher tinha o topo do nariz um pouco vermelho por causa do tempo que passamos expostos ao sol pela tarde. —Tem certeza que não quer ir na festa das madrinhas?

–Eu estou bem. Se divirta! —Eu tinha esquecido o quanto ele ficava bonito de terno. Antes de ir, beijou meu rosto.

–Te vejo mais tarde! —Disse, ao sair pela porta colocando seu celular no bolso interno do seu blazer.

   Deitei na cama para pensar no que poderia fazer para me distrair. A televisão passava filmes, mas nenhum me interessava.
   Quando estava quase pegando no sono, alguém bateu na porta. Pelo olho mágico, vi uma jovem de cabelos castanhos e olhos escuros. Era Valerie, a menina que eu conheci na festa de gala, com uma sacola em cada mão. Talvez não precisasse passar a noite sozinha.

–Oi! —Ela disse animada. —Eu imaginei que você não fosse na festa das madrinhas então decidi ver se você estava aqui.

–Entra! —Eu estava feliz em vê-la novamente. —E por que você não está na festa?

–Elas me enxergam como uma irmã mais nova que segue os mais velhos toda hora. —Largou as sacolas na cama. —E você parece ser mais legal! —Sorri. —Eu trouxe umas coisas bacanas pra passar o tempo. —Retirou os objetos da sacola um por um. —Máscara coreana para a pele, salgadinho, refrigerante, revistas, um baralho de uno e esmaltes. —Uma típica festa do pijama.

   Qualquer um que entrasse ali acharia engraçada a situação. Duas garotas de roupões, comendo Cheetos e jogando uno, com máscaras brancas cobrindo a face.

–O que você faz, Valerie? —Não me surpreenderia se ela dissesse que era estudante do ensino médio.

–Estou no quarto semestre de robótica na faculdade. —Ela notou minha surpresa. —Terminei a escola cedo. —Explicou.

–Que idade você tem? —Já não estava chocada por ter perdido todas as partidas do jogo.

–Dezessete. —Ela era mais jovem do que eu pensava.

–Então você é o prodígio da família? —Cada vez me fazia comprar mais cartas e eu não conseguia segurar todas com uma mão só.

–Vovô diz que sim mas Chris e Tim discordam. —Valerie era muito carismática e parecia ser próxima dos primos.

–Homens. —Ela concordou com a cabeça.

   Conversamos por um bom tempo até ela decidir voltar para o seu quarto. Valerie era uma boa distração, poderia ficar horas falando com ela que o assunto nunca acabaria.
   Eu dormi rápido, estava cansada e meu corpo ainda não tinha se acostumado com o horário de Los Angeles. Mas algo interrompeu meu descanso no meio da madrugada.
   Alguém batia na porta sem parar e eu ouvia risos. Olhei antes de abrir para me deparar com Christopher sendo carregado por dois dos padrinhos. O rapaz murmurava coisas sem sentido e os outros riam.

–Temos uma encomenda para você! —Um dos garotos disse.

   Abri a porta e dois homens apoiaram Christopher em mim, um de seus braços passava pelo meu pescoço. Ele caminhava, mas não aguentava o peso do próprio corpo.
   Fechei a porta e o levei imediatamente para o banheiro. Ele estava completamente bêbado, como eu nunca tinha visto. O fiz sentar no vaso e ele estava quase dormindo.

–Christopher! Olha pra mim! —Ele se esforçava para abrir os olhos.

–Liz. —Disse quase sussurrando.

–Sou eu, se você dormir não conseguirei te levar até a cama. —Coloquei o cesto de roupa suja vazio na frente dele, caso ele precisasse vomitar. O pessoal do resort teria que me perdoar.

–Meu pai é um babaca. —Falou baixo novamente.

–Não é não, Chris. —Tirei seu blazer e seus sapatos.

–Ele disse... que não podemos ficar juntos. —Fiquei confusa, Richard foi amigável comigo no café da manhã. —Ele disse que devo reconquistar Vivian por causa dos negócios.

–Tudo bem, depois você me conta. Você precisa de um banho... —Nem percebia que eu estava o despindo, ou não se importava.

–Como posso... Se você não sai da minha cabeça? —Liguei o chuveiro e o sentei na borda da banheira, de costas para a parede e os pés para dentro.

–Está tudo bem, Chris. Eu estou aqui.

   Ele parecia ter voltado um pouco para a realidade após alguns minutos debaixo da água.

–Eu estou exausto. —Reclamou.

   Fechei o chuveiro e o fiz vestir um roupão. Deitou-se na cama e não falou mais nada. Sentei ao seu lado e ele segurou minha mão até dormir.
   Eu não dormi tão rápido quanto ele, fiquei refletindo as palavras que saíram de sua boca. Era difícil acreditar que Christopher estava sendo coagido a ficar com Vivian a qualquer custo pela ganância de seu pai. Sim, a fusão das duas empresas seria bom para os dois lados, mas isso não deveria custar a autonomia de alguém. Pensei se Vivian também estava sendo forçada a fazer a mesma coisa.

COMO NÃO SUPERAR CHRISTOPHER MORRIS (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora