5. Tulipas

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–Tá todo mundo olhando pra mim! —Reclamei. Estávamos na cafeteria do campus, Gabbie e David sentados à mesa comigo.

   Duas garotas da mesa ao lado me olhavam dos pés à cabeça e sussurravam alguma coisa.

–Eu me sinto ofendido! Que tipo de amiga é você? Está namorando com um cara engravatado e não nos contou nada! —David reclamava. Me senti mal por não poder dizer a verdade.

–Bem... Foi de repente. —Sorri desconfortavelmente. —Mas como todo mundo já sabe? Foi tão rápido...

   Gabbie pegou seu celular e começou a ler um artigo.

–“CEO da Morris Corporation, Christopher Morris, filho do atual presidente da empresa, Richard Morris, foi visto com uma garota desconhecida no coquetel de inauguração da Holt Enterprise. Os dois foram flagrados em momentos afetuosos e ficaram um bom tempo a sós na sacada do local de evento. Uma fonte confiável afirma que a garota, chamada Liz, é uma simples estudante de cinema.
   Até então, Christopher tinha um relacionamento público com a herdeira da empresa Hale, Vivian Hale, filha de um de seus associados. O que será que aconteceu com os dois quase às vésperas do casamento de Timothy Morris, irmão de Christopher?” —Eu escondi o rosto com as mãos.

–Você vai ter que lidar com a fama agora. —David provocou.

–A poeira vai abaixar logo... —Respondi.

–Essa tal de Vivian não é nada mal, olha! —Gabbie pesquisou a garota no Google. Várias fotos de capa de revistas apareceram. A garota tinha olhos claros e o cabelo de um tom de ruivo vibrante.

–Ela é uma versão da Anne Hathaway, só que ruiva. —David riu da minha comparação.

–Ela deve viver dentro de um “O diário da princesa”! —Gabbie comentou.

   Enviei o link do artigo por mensagem para Christopher, que apenas respondeu com um “Strike!”. As vezes ele deixava sua verdadeira idade escapar de trás da sua postura matura e profissional.
   David seguiu para seu próximo período e Gabbie e eu decidimos voltar para o dormitório pois tínhamos tempo para descansar antes da próxima aula.

–Você tem que me emprestar este vestido para as bodas dos meus pais ano que vem! —Ela exclamou, rodando na frente do espelho. —Se você me emprestar eu te convido para a festa! —Nos duas rimos.

–Eu só vou se os salgadinhos forem do tipo comum, os que comi ontem tinham um gosto estranho. Não faço ideia do que tinha naquilo e acho que nem quero saber! —Só de lembrar, meu estômago revirava.

   Gabbie guardou o vestido e vestiu suas roupas do dia-a-dia. Já estava quase na hora de sua primeira aula da tarde. Eu estava sentada na cadeira, de regata e calça de moletom, fazendo anotações de um livro quando ouvimos batidas na porta. Gabbie parou de arrumar sua bolsa e abriu.

–Olá, estou procurando por Liz.

   Christopher estava parado na porta, com um buquê de flores na mão. Corri até ele e após o puxar bruscamente para dentro, fechei a porta.

–Que recepção calorosa! —Brincou. Com as costas encostadas na porta, respirei fundo. Já estava bom de fotos e fofocas por hoje.

–Todos me encaram por onde ando, sinto como se estivesse caminhando por aí nua! —Ele riu. —Ah, essa é Gabbie. Ela sabe que tudo isso é fake. —Ela acenou.

–Prazer, Christopher.

–Preciso ir, te vejo mais tarde, Liz! —Disse Gabbie, colocando seu notebook na bolsa e se apressando para não se atrasar.

–Tchau, até mais tarde! —Respondi, abrindo a porta para ela. Christopher me observava com um sorriso no rosto. —O que você está fazendo aqui?

–O próximo artigo. —Respondeu, sentando-se na beirada da cama. Tirou o paletó e deixou do seu lado. —”Christopher e Liz passam tempo a sós em dormitório de faculdade.”

   Me joguei na outra cama e coloquei o travesseiro na minha cara para abafar o grito.

–Eu não sei se eu consigo fazer isso. —Disse, ainda com o travesseiro no rosto. —Eu odeio o fato de que qualquer lugar que eu for de agora em diante terão pessoas me julgando ou falando de mim. Como você vive assim?

–Uma hora você deixa de se importar. —Christopher tirou o travesseiro do meu rosto e sentou ao meu lado. —Eu trouxe o contrato para você assinar.

   Sentei de joelhos na cama. O rapaz dos olhos azuis tirou um papel enrolado do bolso do paletó e voltou a sentar na cama. Desenrolou o papel e me entregou uma caneta.
   Comecei a ler o documento. Eram apenas duas folhas, as regras e restrições estavam todas lá, junto com o valor do pagamento.

–Vinte mil dólares por cada vez que aparecemos juntos? —Meu queixo caiu, era um valor absurdo. —Não acha um pouco exagerado? Eu ficaria feliz com cinco mil, pois não preciso fazer nada, só aparecer do seu lado para Vivian se arrepender, não é muito dif...

–Não seja ingênua, Liz. Aceite o valor! —Terminei de ler e assinei o contrato. —Você seria a pior gestora financeira! Graças a Deus que você estuda cinema.

–Tenho certeza que seu gosto cinematográfico é horrível! —Retruquei, ele tinha cara de quem olhava apenas filmes de ação com Nicholas Cage ou David Statham.

–Cale-se. Você tem algo no seu queixo. —Se aproximou e esfregou o polegar no local. Sua pele era impecável e não havia sinal de barba alguma. Seus lábios pequenos eram levemente rosados. Restrição número quatro, Liz. Você não pode quebrar sua própria regra. —É apenas um risco de caneta. —Se afastou. —Bem, eu preciso ir, tenho uma reunião em alguns minutos. —Levantou-se e vestiu seu paletó, antes de ir até a porta, me entregou o pequeno buquê de flores que trouxe. —Ah, isso é pra você. Não achei que fosse o tipo de garota de gostasse de rosas, tulipas fazem mais seu estilo. –Ele não estava errado.

–Obrigada! Vou colocá-las naquela jarra de plástico, digo, de cristal. —Apontei para a jarra de suco em cima do frigobar.

–Bem sofisticado. —Riu.

   Acompanhei Christopher até a porta. Antes de ir embora, beijou minha mão. Tinha várias pessoas no corredor observando, talvez tenha sido por isso.

COMO NÃO SUPERAR CHRISTOPHER MORRIS (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora