11.De volta a Nova Iorque

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                    Elizabeth

     O táxi do terminal de ônibus até a casa dos meus pais me custou uma noite de trabalho no Fred’s. Meus pais ficaram confusos de me ver em casa tão cedo da manhã, ainda mais levando bagagem. “Qual curso você vai escolher agora?”, brincou minha mãe. Expliquei que precisava de alguns dias para descansar. Minha sorte era que eles não liam sites de fofocas e as revistas de Nova Iorque não vendiam naquela cidade pequena. Christopher Morris não existia naquele meio.
   Eu não odiava Christopher. Eu sabia que não ia dar certo e escolhi ignorar. Ele contou a verdade por trás de tudo quando estava bêbado e depois esqueceu. A proposta era reconquistar Vivian, não era sobre mim. Eu fui burra em me iludir quando os avisos estavam em todo o lugar.
   Não era difícil entender, colocava a família em primeiro lugar e, na família de Christopher, família e negócios andavam juntos. Esse era o mundo que ele foi criado e era assim que ele sabia sobreviver.
    Mesmo assim doía. Doía pensar em Chris com ela nos seus braços. Ainda mais pensar em um possível casamento que poderia acontecer a qualquer momento. Eu não me arrependia de ter ido embora, me arrependia de ter encontrado aquela maldita caixa de anel azul que levou a isso tudo. Me culpava por ter aceitado a proposta.

    Gabbie já sabia de tudo, ela soou mais magoada do que eu pelo telefone, tinha quase certeza que ouvi algo sendo jogado no chão. Disse que sentia minha falta é que era melhor eu voltar logo para o dormitório se não ela se mudaria para minha casa. Ela ligava todos os dias para me distrair e fofocar sobre o que estava acontecendo na faculdade. Senti falta de estar lá, mas não queria arriscar bater de cara com Christopher. Essa era a última coisa que eu queria. Seria humilhante.
    Meus pais não pegaram muito no meu pé. Na verdade, até tentaram se informar mais sobre o que eu estava estudando. Por causa disso, os jantares não eram mais cansativos como antes. E como eles trabalhavam, eu tinha tempo para ficar sozinha. Mesmo não indo na aula, enviei trabalhos pelo computador e recuperei o conteúdo perdido. Não porque eu era uma pessoa extremamente responsável, mas porque às vezes não conseguia ficar só com meus pensamentos. Precisava fazer algo produtivo.
    Sonhei com ele na segunda noite em casa, com nossa primeira noite juntos naquele quarto do resort. O barulho do mar e o céu estrelado visível pela cortina aberta também fizeram parte daquele sonho. Acordar para a realidade foi doloroso. Eu estava evitando Christopher para esquece-lo, portanto, a cada dia que passava ficava pior, lembrava de todos os detalhes que eu não prestava muita atenção antes. Seu perfume cítrico, como arrumava a gravata quando estava desconfortável, seu sorriso e as linhas ao redor dos olhos quando ria. Seus olhos.
   Eu precisava seguir em frente, e acreditava que acabaria superando uma hora ou outra. Porém, quando eu decidi voltar para a faculdade após cinco dias em casa, uma batida na porta da frente fez essa parede que eu tinha construído desmoronar. Bem, a pessoa atrás dela fez.

–Oi. —Chris disse olhando em meus olhos. Eu o encarava sem o mínimo de emoção, tentando mascarar o que estava acontecendo por dentro.

–Oi. —Não falei mais nada, acho que ele esperava que eu reagisse de outra maneira. Por mais que fosse seu pai que estivesse por trás do relacionamento com Vivian, Christopher tinha sido covarde.

–Você tem tempo para conversar? —Cruzou os braços, ele estava envergonhado. Assenti. Deixar as coisas sem conclusão poderia piorar, queria ouvir o que ele tinha a dizer.

   Tranquei a porta e ele me seguiu pela calçada, caminhamos lentamente sem falar nada por uns minutos até ele quebrar o gelo. O dia estava cinzento e a rua vazia.

–Eu queria acertar as coisas com você. —Falou firmemente, sem hesitar. —Você merece explicações...

–Chris... —Tentei interromper mas ele continuou falando.

–Eu não deveria ter deixado você ir sem nenhum motivo. —Suspirou. —Você não deveria se tornar apenas mais uma no grupo de pessoas que eu escondo segredos. Não você, Liz. —Parei de caminhar e segurei seus braços. Era a única maneira de faze-lo calar a boca.

–Christopher! —Falei alto. Ele congelou. Fechei os olhos e respirei fundo. —Eu sei de tudo. Eu sei que seu pai te obrigou a fazer o que fez. Não sei a que custo, não sei o faria se você não fizesse. Mas...

–Como...? —Franziu o cenho.

–Você me contou. Não lembra pois estava bêbado. —Soltei seus braços e me afastei.

–Por que não me contou? —Deu um passo até mim.

–Não faz diferença, faz? —Continuei caminhando, ele acompanhou. —Você ainda fez o que ele mandou.

–Merda, Liz! —Passou as mãos no cabelo. —Se eu não fizesse ele destruiria você! Inventaria coisas na mídia, espalharia mentiras e isso poderia acabar com sua vida e sua carreira para sempre. Eu não me perdoaria. Você não me perdoaria.

–Aí que você erra, Chris. Eu não teria dado a mínima!

–Talvez não desse no início, mas por onde andasse olhariam torto pra você, diriam coisas maldosas e te acusariam de um milhão de coisas. Isso mudaria quem você é. —Fitei o chão pois não aguentava olhar em seu rosto quando falava as coisas com raiva. —E isso não poderia acontecer, Liz. Eu não gostaria de viver em um mundo sem o seu brilho.

–E o que muda agora? Vivian deve estar se perguntando onde você deve estar neste exato momento. —Seu riso fez meu coração acelerar.

–Essa é a última coisa que Vivian pensaria agora. Foi ela quem me fez me dar conta da merda que eu estava fazendo. —Não tive a oportunidade de conversar com ela durante o casamento. Eu queria, mas seria estranho. —Nunca foi sobre Vivian. De todas as pessoas que eu poderia escolher para fazer isso comigo, escolhi você. Eu não entendi porque, mas eu queria saber mais sobre a garota que derrubou minha palestra sobre lucro com um simples comentário sobre felicidade. Em todos os momentos que você foi minha falsa namorada, eu não queria ninguém no seu lugar. Me fiz acreditar que era sobre ter Vivian de volta, involuntariamente, para ter uma desculpa para desvendar você. —Riu mais uma vez. —Ainda tem tanta coisa que eu não sei sobre você, Liz!

   Todo o progresso dos últimos dias tinham ido por água abaixo. Eu só queria abraça-lo de dizer que estava tudo bem. Mas algo me impedia, talvez fosse medo.

–Eu sinto muito. —Parou de caminhar. Já estávamos um pouco longe da minha casa. —Eu realmente sinto. Fui covarde, eu não mereço nem metade de você. Tentei te proteger e acabei te magoando ainda...

   Dessa vez não me segurei. Antes mesmo de Christopher terminar de falar já estava em seu abraço, com a cabeça em seu peito ouvindo as batidas do seu coração. Envolveu seus braços ao redor de mim e beijou minha cabeça.

–E agora? —Perguntei, ainda na mesma posição. —Que diferença faz? Seu pai ainda não apoia...

–Eu me demiti. —Olhei para seu rosto, tinha o mais terno sorriso. —Coloquei Tim no meu lugar.

–E como vai viver agora? —Ele riu.

–Não se preocupe comigo. Eu precisava resolver nós dois antes de qualquer coisa. —Christopher alisava minhas costas.

–Como me encontrou? —"E por que demorou tanto?”, pensei.

–Você não estava no Fred’s e também não estava na faculdade. Sua amiga Gabriela não ficou feliz quando me viu na porta do dormitório. —Rimos. —Eventualmente convenci ela a me dizer. Não vim antes porque entendi que você precisava de espaço e, honestamente, não sabia o que encontraria quando batesse na sua porta.

–Você poderia ter economizado uma viagem, eu ia voltar amanhã! —Brinquei.

–E você pode economizar também se voltar de carona comigo hoje. —Ele sorriu, seus olhos azuis me diziam o que ele queria.

   Fiquei na ponta dos pés para beija-lo. Seus lábios macios acariciavam os meus sem pressa. Eu queria que o tempo parasse para ficar ali o dia inteiro. Mas precisava voltar para casa.

–Tenho que arrumar minha mala. —Seu rosto estava muito perto.

–Eu te ajudo. —Inclinou-se para roubar um beijo.

–Eu nunca levei ninguém em casa. —Confessei, meus pais eram um pouco conservadores durante a minha adolescência.

–Bem, hoje você vai. —Provocou.

    Eu dormi quase todo o percurso de volta para Nova Iorque. Chris pareceu não se importar, me acordou algumas vezes só para perguntar se eu queria parar em algum posto para comer ou ir ao banheiro. Mas estávamos bem abastecidos, no banco de trás levávamos pacotes de salgadinho, refrigerante e um pedaço de bolo que minha mãe tinha feito no dia anterior. Eu havia deixado um bilhete na geladeira, mas não explicava metade do bolo ter sumido.

–Chegamos. —Disse Christopher após me acordar. Estávamos em uma garagem bem iluminada, mas eu não reconhecia aquele lugar.

–Onde estamos? —Perguntei ao sair do carro. Christopher carregava minha mala até o elevador enquanto eu o seguia.

–É uma surpresa... —Falou sorrindo com um sorriso bobo.

    O elevador demorou para subir, deduzi que estivéssemos em um prédio alto, possivelmente um arranha-céus.

–Feche os olhos. —Obedeci. Estávamos diante de uma grande porta que eu não fazia ideia de o que continha do outro lado. Chris me guiou pela mão por alguns passos, parou e abraçou meus ombros por trás. —Pode abrir.

   O lugar estava iluminado por velas e as luzes de Nova Iorque pelas grandes paredes de vidro. Era um apartamento sofisticado, a mobília era moderna e de cores neutras. A mesa de jantar estava arrumada com flores, uma garrafa de vinho e duas taças.

–Chris... Que lugar é esse? —Estava impecável, e a vista era estonteante.

–Não tivemos um primeiro encontro, até agora. —Me girou para que eu o escarasse. —Aproveitei que você estava dormindo e dei um jeito. E esse é meu novo lugar! Você pode vir quando quiser, é apenas a vinte minutos do campus. —Sorriu.

–Interessante... E o que vamos comer? —Eu estava faminta, não tinha me alimentando bem durante a viagem. —Eu conheço um lugar que entrega pizza, perto do campus, que é muito bom.

–Eu vou cozinhar pra você. —Respondeu confiante.

–Você? Por acaso alguma vez cozinhou na sua vida? —Provoquei. Tenho certeza que, para Chris, a última opção de hobby seria a culinária.

–Você tá dizendo que eu sou um cara mimado que nunca botei a mão na massa na vida? Que sempre tive quem fizesse por mim? —Franziu o cenho e eu assenti, rindo.

–Exatamente! —Ele sorriu.

–Então você está certa! —Revirei os olhos. —Mas um macarrão não deve ser difícil de fazer...

    Pegou minha mão e me puxou até a cozinha. Sentei à bancada, em um banco alto, e me diverti observando Christopher Morris fazer uma bagunça para cozinhar um simples macarrão ao molho vermelho para me impressionar.

COMO NÃO SUPERAR CHRISTOPHER MORRIS (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora