4.Outro mundo

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   Arrumei meu cabelo em um coque e apliquei uma maquiagem leve. Usei um dos meus perfumes baratos e uma bolsa preta que tinha guardada, iria deixar no carro mesmo, não seria um escândalo. Para não chamar muita atenção ao sair, vesti um casaco longo em cima do vestido e tênis, em vez de sair de salto. Carreguei o sapato na bolsa.
   Quando saí, por sorte o carro já estava lá. Fiz questão de abrir a porta sozinha. Christopher estava dentro, vestindo um terno e gravata borboleta preta. Seu perfume era cítrico mas não era exagerado, e seu cabelo estava devidamente arrumado.
    Tirei o casaco e troquei o converse vermelho pelo sapato prateado. Christopher achou graça, mas dei de ombros.

–Você está bonita. Mas... —Puxou o grampo que prendia meu coque. Meu cabelo caiu em meus ombros. —Agora parece mais você mesma.

–Você não parece tão mal, Christopher. —Ele riu.

–Por acaso já pareci mal na sua frente, Elizabeth? —Eu havia dado meu nome completo para o contrato. Odiava meu nome inteiro, soava antiquado.

–Me chama de Liz, só de Liz. Só meus pais me chamam de Elizabeth e eu me sinto quarenta anos mais velha.

–É sofisticado. A rainha da Inglaterra se chama Elizabeth! —Argumentou Christopher.

–É, mas quantos anos ela tem? Combina mais com ela do que comigo!

  O caminho era demorado, e essa demora não me fazia bem. Minha cabeça se enchia de pensamentos negativos e minhas mãos tremiam.
  Senti a mão quente de Christopher segurar a minha mão.

–Isso é uma péssima ideia! —Resmunguei.

–Não tem com o que se preocupar, estarei do seu lado o tempo inteiro. —Assenti. —Você só precisa ser você e fingir que estamos em um relacionamento.

–Ok. —Respirei fundo. Christopher soltou minha mão. Eu esperava que ele não soltasse, ajudava a manter a calma.

  O destino era um edifício gigante, com mais andares do que era possível contar. O elevador nos levou até o último andar, onde acontecia o evento. As pessoas estavam todas bem vestidas, imaginar o quanto de dinheiro havia naquela sala só em tecidos e joias era surreal. Os garçons serviam champagne e alguns tira-gostos que eu não conhecia.

–Não fique para trás, você é minha namorada, não a secretária. —Sussurrou Christopher, oferecendo o braço. Segurei e o segui pelo local. —Você está se sentindo bem?

–Estou bem. –Eu realmente estava, o nervosismo era presente mas eu o controlava.

   Christopher andava pra lá e pra cá conversando com pessoas importantes. Homens mais velhos que ele, todo mundo naquela sala parecia mais velho que ele. Eu me perguntava qual era sua real idade, se ele era tão jovem quanto eu pensava mesmo.

–Bernard! —Disse o rapaz, abraçando o senhor de cabelos brancos. —Permita-me apresentar Liz.

–Olá! —Disse um pouco nervosa. O homem estendeu sua mão para um aperto de mãos.

–Prazer em conhecê-la, Liz! —Sorri.

–O prazer é todo meu!

–O que você faz, Liz? —Perguntou, bebendo um gole de seu champagne.

–Eu sou estudante de cinema. —Respondi, meio incerta se deveria ter ou não uma identidade falsa. —Na Columbia.

–Interessante... —Olhou para Christopher confuso. —Você trabalha em alguma produtora? É atriz?

–O mais perto que eu cheguei de produzir alguma coisa foi um curta-metragem para um projeto da faculdade! —Ri, o velho retribuiu.

–Foi bom ver você, Christopher, e você também, Liz, mas se me derem licença...

–É claro. —O velho pegou sua taça e se afastou. —Viu, não foi tão ruim! —Sussurrou no meu ouvido.

–Ele provavelmente acha que eu sou seu trabalho de caridade. —Brinquei. Eu deveria ser a única vira-lata ali dentro.

–Dane-se o que ele acha! —Christopher entrelaçou seus dedos com os meus e me guiou até a sacada.

   A vista era linda, era possível enxergar as centenas de prédios de lá de cima. Estava frio, deveria ser por causa disso que ninguém estava ali. Cruzei meus braços e senti o vento me arrepiar. Eu estava distraída pelo momento até Christopher colocar seu paletó em meus ombros.

–Obrigada.

–Há jornalistas lá, eles irão fotografar. Esse é o momento para demonstrar afeto. —Falou, também observava a vista.

  Dei um passo para o seu lado, abracei seu braço e descansei a cabeça em seu ombro.

–Isso seria o suficiente? —Ele riu.

–Acho que sim. —Ficamos assim por alguns minutos. —Não olhe para trás, vão pensar que estamos posando. —Assenti.

–E estamos. —Rimos baixinho.

–Faça de conta que você está com um cara que você gosta. —Disse Christopher.

   Tentei pensar em alguém que eu gostasse, mas outros caras não faziam sentido naquele cenário, ou eu não queria que fizessem. Senti que não deveria ter aceitado aquela proposta. Eu poderia me apegar a Christopher, e isso não me faria bem no final das contas.

COMO NÃO SUPERAR CHRISTOPHER MORRIS (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora