2. Anéis e propostas

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–Eu odeio o novo professor da cadeira de química analítica! —Gabbie gritou e eu quase caí da cama rindo. O homem tinha a ignorado todas vezes que ela levantou a mão pra responder alguma coisa(conhecendo Gabbie, deve ter sido todas as vezes que ele fizera uma pergunta).

–Não leve para o lado pessoal, pode ser que ele não goste de nerds no geral. —Ela franziu o cenho, andava de um lado para o outro.

–Não! Eu tenho certeza de que ele é um machista dos infernos! Ele só deixava homens responderem!

–Da próxima vez responda sem ele te autorizar. —Ela deixou escapar um sorriso malicioso.

–Não é uma má ideia... Talvez eu até me levante e dê aula no lugar dele! —Ri novamente.

–A segunda parte do plano não me parece confiável... —Ela sentou na cadeira da escrivaninha.

–Chega de falar sobre mim, vamos esquecer esse babaca barrigudo. Como foi a sua manhã?

–Tranquila... Tenho certeza que cochilei no meio de um período. Mas o dia não acabou, eu me inscrevi para uma palestra sobre empreendedorismo daqui duas horas. É com o CEO de uma empresa que não me lembro o nome.

–É da Morris Corporation, se me lembro bem.

–Essa mesmo. —Comparecer iria me render pontos extras.

   Em duas horas eu estava lá, sentada no meio de uma multidão de pessoas em um auditório. O logo da Morris Corporation estava sendo projetado na parede e o local estava barulhento. Porém, quando um homem engravatado caminhou até o centro, todos encaravam atentos.
   O homem, Christopher Morris, começou sua palestra de uma maneira um tanto divertida e dinâmica, deixando escapar algumas piadas e pedindo comentários de quem estava assistindo. Usava um terno azul royal e uma camisa branca.
   Ele parecia um pouco familiar, mas eu não conseguia lembrar de alguém em particular. Já nem prestava atenção, buscava alguém em minha memória, quando notei que a sala estava inteiramente silenciosa, todos olhando para mim.

–Então...? —Perguntou o palestrante, no meio da escada do auditório, a uns cinco metros de mim. Quando o encarei, pareceu confuso. Mas eu finalmente lembrei. Seus olhos azuis eram inconfundíveis, e desta vez não saía fogo deles. —Vou repetir a pergunta.

–Tudo bem. —Respondi quase sussurrando.

–Qual a sua definição de sucesso? —Todos os olhos voltados a mim me deixavam nervosa. Senti meu rosto ruborizar e meu coração bater mais forte.

–Felicidade. —A resposta mais clichê de todas possíveis. Todos continuavam olhando para mim, como se esperassem que eu desse razões. —Muitos vêem o sucesso como dinheiro ou posição profissional, mas se você não se sente satisfeito ou se não tem a motivação certa pra fazer o que faz, de que vale a riqueza material? Além do mais, a felicidade é um objetivo que pode ser alcançado de maneiras diferentes, dependendo de como você a define na sua vida. Você pode ser feliz vendendo sorvete na rua, como também pode ser feliz sendo o dono de uma multinacional. O sucesso não é onde você está ou o que você tem, mas sim o porquê de você fazer o que faz e a contribuição que isso gera. —Todos continuavam sérios.

–Interessante... —Disse Christopher Morris, e virou-se para descer a escada, continuando com sua palestra. Suspirei em alívio.

  Quando o evento foi finalizado, me mantive sentada no mesmo lugar, pensando se deveria ir falar com ele e avisar que havia encontrado seu anel no bar, que ainda estava lá, ou se deveria ir embora.
  Fui até ele, que estava conversando com alguns alunos. Fiquei a alguma distância, esperando aquele diálogo terminar. O rapaz se despediu dos alunos com um aperto de mão e veio até mim.

–Oi, eu... —Ele me interrompeu.

–Peço desculpas pela maneira como agi aquela noite no seu local de trabalho. Esse não é um comportamento que eu apoio, mesmo que meu dia não tenha sido um dos melhores, nada justifica a minha conduta. —Ajeitou a gravata, parecia desconfortável.

–Tudo bem... Eu só queria avisar que eu encontrei seu anel logo que você foi embora. —Ele fitou o chão.

–Eu estava rezando que eu não encontrasse aquele anel maldito! —Ele riu. Sorri com pena. Christopher parecia mais novo quando não estava bêbado.

–Você pode vender, tenho certeza.

–É, sei lá... —Ele suspirou.

–Bem, quando quiser de volta, é só ir lá pegar. Fica aberto todos os dias à noite, exceto segunda.

–Fazemos assim. —Ele tirou um cartão do bolso e colocou em minha mão. —Da próxima vez que você estiver lá, ligue para este número que minha secretária irá imediatamente.

–Tudo bem...

–Obrigado,... —Apontou para mim.

–Liz, meu nome é Liz.

–Obrigado, Liz.
–De nada! —Respondi e fui embora.
  
   Quando cheguei no bar pela noite, liguei para o número.

–Morris Corporation, boa noite. —Uma voz feminina falou.

–Olá, sou Liz. Sr. Morris pediu que eu ligasse para esse número para alguém buscar um objeto que ele perdeu.

–Tudo bem, estarei no Fred's em meia hora.

–Tá bom, obrigada. —Desliguei.

  Em menos de meia hora um carro esportivo estacionou na frente, pude ver pela porta de vidro, mas não era uma mulher. Era Christopher.

–Não estava esperando ver você. —Sorri. Coloquei a caixa do anel na bancada e ele rapidamente guardou no bolso, como se fosse um objeto comum e insignificante.

  Ele não vestia um terno desta vez. Usava uma calça de moletom e uma camiseta preta simples. Com certeza não estava no escritório da empresa.

–Fiz questão de vir, precisava conversar com você. —Sentou-se em um banco a minha frente e apoiou os cotovelos na bancada.
 
  Todo mundo reage as palavras “preciso conversar com você” da mesma maneira. O frio na barriga da as caras e a ansiedade faz o os batimentos cardíacos acelerarem.

–Tudo bem, sobre o que seria? Porque se for sobre manter sigilo sobre aquela noite aqui no bar não se preocupe, eu não...

–Não, não é isso... Eu tenho uma proposta pra você. —Sua encarada séria me deixou tensa.

–Uma proposta?

–Sim. Você não precisa dar uma resposta agora, te darei três dias.

–Estou ouvindo... —Eu me perguntava onde ele queria chegar com isso.

–Bem, como você deve ter deduzido pelo anel... —O interrompi, eu já sabia de tudo. A internet era minha aliada.

–Eu pesquisei sobre você no Google. —Ele arregalou os olhos. —Você tem um relacionamento com a filha de um dos seus associados, Vivian Hale. Bem... Não é da minha conta se ainda tem. A parte do anel não dizia na internet, mas eu já entendi o que aconteceu... —Ele riu.

–Me diz, o que você acha que aconteceu? —Semicerrou os olhos.

–Ela não disse não para o seu pedido de casamento. —Christopher se encostou na cadeira. —Na verdade, você nem chegou a pedir a mão dela. Você pretendia mas, ou ela terminou com você antes, ou você descobriu alguma coisa, tipo uma traição, por exemplo.

–E por que você acha isso? —Ele perguntou, me encarando sério novamente.

–Por que eu já ouvi muita coisa de trás dessa bancada. Você não parecia ter sido rejeitado. —Quem o rejeitaria? Christopher Morris parecia um galã de filme romântico grego. —Você teve seu coração partido. –Ele desviou o olhar. —Bem, quero ouvir sobre sua proposta!

–Digamos que minha proposta seja uma tentativa de voltar com ela. —Inclinou-se e olhou para mim. Mexia as mãos como alguém explicando alguma coisa muito complexa. —O seu papel é ser minha suposta nova namorada na mídia e ser minha acompanhante no casamento da minha irmã. Vivian estará lá.

–E você acha que vai funcionar? E como assim mídia?

–Bem, você irá aparecer em sites de fofocas e revistas quando for vista comigo. —Ter o país inteiro falando sobre você pode se tornar tóxico e até acabar com sua vida pública. Mas também poderia dar um empurrãozinho na minha carreira de produtora. Mesmo assim, não parecia algo certo a se fazer.

–Eu não sei... —Me virei para servir um copo de água.

–Tenho algo para te ajudar a decidir. —Tirou um papel retangular do bolso e deslizou na mesa para mim. Era um cheque com o valor de dez mil dólares. —Este é só uma degustação...

   Se fiquei tentada, é claro que sim. Aquele dinheiro me permitiria ficar sem trabalhar por um tempo, e se viessem mais, poderia pagar minha faculdade sozinha. Entretanto, pensei duas vezes. Não parecia certo fazer aquilo, era como se eu estivesse me vendendo.

–Não tenho certeza. —Afirmei, deslizando o cheque de volta para ele, que assentiu.

–Tudo bem, você tem até três dias para me dar uma resposta definitiva. Este é meu número pessoal pra quando tiver uma resposta definitiva. —Deslizou o cheque e seu cartão para mim novamente. —E isso aqui é seu, independente da sua resposta. —Piscou com um olho só, sorriu torto, e logo foi embora.

COMO NÃO SUPERAR CHRISTOPHER MORRIS (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora