DESORIENTADA pela forte luz que atingia seu rosto, cobriu seus olhos com os braços, notando que não estava só, ao ouvir uma risada tentou levantar, mas uma dor horrível em seu joelho a fez cair ao chão novamente. Droga!
Erguendo os olhos para cima encontrou com os olhos de dois homens que estavam na porta do vagão, que agora pendia aberta. Um deles era seu raptor e o outro alto e gordo, aparentava ter uns 60 anos de idade, ele a analisava com seus olhos negros como se fosse uma mercadoria. Arabella engoliu em seco, por que aquilo soava familiar?
O homem alto vira-se para seu sequestrador e sorri.
_ É ela, exatamente do que eu precisava. - o sequestrador sorri e olha para ela seus olhos pareciam paternais como se estivesse tentando acalmá-la, porém algo dentro deles parecia tenebroso, como se estivesse amando ver aquilo tudo. O homem alto entra dentro do vagão, lentamente, abaixa-se e segura o queixo de Arabella fazendo-a olhá-lo com brutalidade, ela afasta rapidamente seu rosto da mão daquele homem nojento que possuía um bafo de peixe podre com álcool. Ele aperta brutalmente as mãos no rosto dela forçando-a olhá-lo nos olhos.
_ Qual seu nome? - pergunta o Homem-Peixe-Podre. Ela fica em silêncio, não daria explicações para aquele idiota que pensava que podia comprá-la como se fosse um objeto. Seus olhos vão em direção a porta, onde ainda permanecia seu sequestrador, encostado rindo baixo, que logo fala:
_ Responda ao seu dono, mocinha! - Arabella mostra-lhe os dentes com raiva daquele Velho Idiota. Aquele não era seu dono! Ela levanta-se rapidamente empurrando o homem que cai de costas no chão. Ao correr para a porta, o Velho Idiota se põe na sua frente aguarrando seus braços que tentavam bater nele, ele ria como se aquilo fosse muito engraçado, aquilo a perturbava fazendo seu sangue ferver.Com os dentes para fora mordeu o braço do Velho até ouvi-lo gritar - foi quando ele a soltou - o Homem-Peixe-Podre levanta-se vindo em sua direção para auxiliar o Velho Idiota, mas ela consegue atravessar a porta, quando se depara com uma mata, por todo lado. Onde estavam? Aquilo era o meio do nada? Talvez aquilo pudesse ser uma vantagem. Ainda correndo com o Homem-Peixe-Podre em seu encalço adentrou a floresta pulando as raízes e atravessando as árvores sem ver para onde ia. Na verdade não importava, ela queria apenas despistá-lo para poder ir embora, escapar e encontrar uma saída daquela floresta. Com o verde das árvores passando por seus olhos como vultos, olhou para trás procurando a imagem daquele homem, não o encontrando mais lá continuou correndo. Por uma vez na vida cérebro, eu vou te obedecer!
Se deparando com uma árvore alta o suficiente para escalar sem ser vista por entre a folhagem, Arabella subiu galho após galho até sentar em um galho firme o suficiente para sustentá-la. Ali, esperou olhando para baixo, e prendeu a respiração ao ouvir as vozes daqueles homens.
_ Onde ela está?! - parecia ser a voz do Homem-Peixe-Podre.
_ Ela deve ter seguido reto, não conhece essa floresta.
_ E como você sabe?
_ A encontrei no porto, disse que iria para a capital, provavelmente estava voltando para casa de viajem, mal sabia que pegou o navio errado. - Merda! nunca havia se sentido tão idiota como agora.
_ É bom você encontrá-la! Não paguei tão caro para perder a minha sereia! - grita o homem para o sequestrador enquanto os dois somem por entre a mata, Arabella solta um suspiro
Sereia. Eu sabia! Sequestradores de atrações. Sequestradores de atrações, como eram conhecidos. Eram homens que percorriam o mundo procurando por pessoas diferentes ou com habilidades especiais, não era um emprego legal, geralmente eram foras da lei que precisavam se esconder do governo e aceitavam o emprego para não permanecer em um lugar por muito tempo. Assim que achavam algo inédito vendiam-no para os circos mais famosos onde seriam apresentados para o público e em alguns casos especiais, para a realeza.
Então era isso, me levariam para o circo e me apresentariam como sereia, aquele homem devia ser um dono de circo querendo me comprar, maldito!
_ Ai! - disse aguarrando a própria perna, com toda aquela correria acabou esquecendo de seu machucado que agora estava sangrando. Antes não havia notado, mas estava com um corte horrível no joelho que descia até a canela. Todo o movimento feito na fuga serviu apenas para bombear o seu sangue pelo corte, que agora manchava de sangue o vestido de chita, branco florido, que usava. Tentando controlar sua respiração ainda descompassada e tentando não chorar com a dor pulsante vindo da perna, ela relachou o corpo sobre o galho até sentir seus olhos se fecharem, pesados._ Tão linda! - diziam as pessoas a sua volta que entreolhavam-se esperançosas - será ela nossa salvação? - perguntou uma mulher entre a multidão - ela nos libertará dessa desgraça que nos aflinge?
Uma cacofonia muito grande começou e uma pessoa foi revelada na multidão, a qual todos abriam caminho, submissos. Quando ele se virou para todos, o silêncio reinou. Todos queriam ouvir o que seu pai tinha a dizer-lhes, mas decepcionaram-se com suas palavras:
_ ESCUTEM! Deixem minha menina em paz! Eu sei que querem um Salvador e eu sei que lhes prometi ser esse. Porém não posso permitir que a desgraça caia sobre a cabeça de minha filha! E não posso derrotar o rei como se realmente tivessimos a capacidade de enfrentar o seu exército!
_ NÓS TEMOS! - alguém gritou, fazendo Arabella se assustar e se esconder atrás de seu pai, que a pegou no colo e lançou-lhe um olhar carinhoso deixando um beijinho em sua testa. Novamente se voltando para a multidão.
_ Escute-me! - recomeçou - não podemos atravessar aqueles muros e não temos condições de enfrentar um exército, mas ainda podemos fazer algo com relação ao reino. VAMOS MOSTRAR PARA BERM QUE NÃO PRECISAMOS DELE! - urrou seu pai erguendo o punho para cima.Sobressaltada Arabella acorda ofegante e quase escorrega do tronco. O que foi isso? Isso não foi um sonho, foi? Eu lembro disso, mas eu não lembrava antes.
_ O que está acontecendo? - pergunta-se baixinho franzindo o cenho. Em um movimento percebe um barulho vindo da floresta e prende a respiração, já era noite e aquela floresta não parecia ser muito segura. Não desça Arabella!
Ignorando sua consciência Arabella desce com dificuldade da árvore, precisava descobrir de onde vinha aquele barulho, mancando e agora com o sangue seco na perna e vestido, que estava em frangalhos, ela seguiu floresta adentro, os olhos agora se adaptando a escuridão.Uma brisa suave soprava seu rosto fazendo seus cabelos dourados soltos voarem. As árvores balançavam suas folhas como uma dança e era possível se ouvir o atrito entre elas. Não se ouvia nada a não ser o som dos grilos que tomavam conta daquele lugar frio e assustador.
Um cheiro delicioso flutua sobre o ar fazendo a barriga de Arabella roncar, estava faminta, havia comido apenas um fruta quando fugiu de casa, não sabia quanto tempo havia passado naquele vagão. Estava tão exausta e fraca que poderia ter dormido o dia todo lá, nem sabia se ainda era o mesmo dia em que chegou ao navio. Estava perturbada e pensou seriamente que aquela idéia de fugir não tinha sido muito boa, mas aquela era a sua chance de começar uma vida nova, o sequestro do navio fora só um incidente, ela poderia superar aquilo, ela tinha planos bem maiores e precisava focar neles e não naquele homem nojento com cheiro de peixe que a olhava como um objeto. Seu corpo passa a tremer. Era noite, estava sozinha em uma floresta escura, com fome, frio e ferida, fora sequestrada e agora estava abandonada ali para morrer. Ainda seguindo por entre as árvores, abraçando a sí mesma depara-se com uma luz adiante, seguindo em direção a luz esfregando os braços, suas pernas falham e ela cai entre as raízes, solta um gemido.
A vontade de chorar era tão grande, sua perna doía e ela não conseguia levantar, faltava tão pouco, tão pouco para descobrir o que era aquela luz. Poderia ser uma fogueira, alguém que tivesse comida, alguém que poderia ajudá-la. Prendendo a respiração ela põe as mãos no chão enlameado, firma o joelho bom no chão e com força pressiona a perna para erguer seu corpo. Com um ruído de dor escapando de sua garganta ela levanta-se, exausta e fraca.
Apoiando as mãos nas árvores Arabella segue até ver o fogo adiante. É uma fogueira!
Parecia que ela estava em uma clareira agora, alí havia uma fogueira no centro da clareira, e uma barraca. Andando com dificuldade Arabella se aproxima olhando ao redor Quem será que fez essa fogueira? Ah, quem se importa?! Preciso me esquentar!
Ao ouvir um barulho vindo de dentro da floresta em direção a clareira seu coração dispara! Ah, não! Sua respiração dispara.Por favor, que não seja o Velho Idiota.
Por favor, que não seja o Velho Idiota.
Por favor, que não seja o Velho Idiota.Com as pernas tremendo, a respiração ofegante Arabella viu uma sombra alta surgir da floresta, sua visão já embaçada pelas lágrimas, o medo, uma tontura lhe percorre a cabeça e assim que a sombra aproxima-se dela, curiosa, Arabella fraqueja e cai com uma escuridão tomando sua mente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pela Honra De Frid
RomanceSer normal não é fácil quando se tem um destino traçado para você desde antes de nascer! Aqui estará a história de uma garota, de uma rainha, mas sem coroa, que nasceu para reinar, porém sem reino! Aqui, você encontrará a história de uma heroína...