Capítulo 9

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    ERA ISSO?! Tudo pelo qual havia vivido, acreditado e colocado a sua fé era falso, Orabell já não sabia quem era Jayson, depois dos sonhos/lembranças já não reconhecia seu pai e agora já não sabia mais se algum dia viveu algo que não fosse uma encenação.

   Queria morrer, queria se enterrar dentro do próprio peito e não sair mais dali. Aquilo era tão ridículo. Estava chorando por sua vida falsa, cheia de pessoas falsas no ombro de um estranho que acabara de conhecer. Era ridiculamente irônico poder pôr mais fé em um estranho do que na própria família.
  Ela empurrou devagar o peito de Viktor se separando do rapaz, que a encarava ainda preocupado.
_ Me desculpe. - pronunciou o jovem.
_ Pelo quê? Você não fez nada... - disse Orabell mexendo na grama e com os olhos abaixados.
_ Se eu não tivesse contado você não estaria...
_ Não estaria sabendo de que minha vida foi uma completa farsa, - interrompe-o - dói, mas... Eu agradeço por ter me informado isso, não acredito que realmente pensei que Jayson se importava de verdade comigo e meus sentimentos.
_ Talvez... - o que eu estou fazendo? Pensou o ruivo - talvez ele se importe, não temos como saber.
_ Que tal ele ter mentido sobre minha vida e que na verdade queria que eu ficasse na ilha como sua cadelinha enquanto ele ia a capital para fazer sei-lá-o-quê, já não o conheço mais...
_ Se vive muito tempo acaba por ferir alguém.
_ Está dizendo que é inevitável ferir alguém quanto mais tempo de vida você tem?
_ Estou dizendo que precisamos errar e ferir algumas pessoas para que com o tempo possamos saber como acertar. - disse levantando e estendendo a mão para ajudá-la a levantar, ela aceita.
Ainda cabisbaixa Orabell abraça o próprio corpo e diz:
_ Por que parece que você sabe de tudo? - ele abre um sorriso de lado e afasta uma mecha de cabelo do rosto dela.
_ Por que eu sei. - com o toque dele Orabell arrepia e afasta-se um pouco, eram desconhecidos. Ele não devia tratá-la como se a conhecesse a anos. Ao perceber a ligeira hesitação dela ele também recua uns passos e limpa a garganta.
_ Desculpe, acho que não estou agindo como um cavalheiro, eu realmente sinto muito por tudo, mas preciso preparar esses peixes antes que apodreçam. - assim ele andou até sua bolsa jogada e pegou uma faca onde arrancou as tripas dos três peixes e jogou-as nas fogueira que ele reacendera.

   Orabell observava tudo abraçada ao próprio corpo, em silêncio. Apoiando grandes galhos de árvores sobre a fogueira ele pendurou os peixes e sentou-se ao lado para virá-los vez após vez. A manhã estava clara e os pássaros cantavam, mas a tristeza que invadia Orabell fazia com que aquele lindo som mais parecessem com músicas fúnebres.

   A princesa de cabelos dourados pensava no que faria agora que sabia que tudo fora ilusão, já não estava mais em casa, tomara essa decisão por si própria e não voltaria para lá novamente. Pensou que talvez aquela dor pudesse ter um fim se se permitisse tentar, talvez continuar com sua jornada fosse o melhor, quem sabe não encontraria um novo lugar para chamar de lar...

   Passado um tempo após os peixes ficarem prontos Orabell começou a se perguntar para onde Viktor estava indo? Se estava acampando naquela floresta quer dizer que parou para descansar em meio a sua viajem, mas para onde iria?
_ Viktor? - chamou baixo, o rapaz desvia os olhos de seu peixe.
_ Sim?
_ Para onde estava indo? - olhou-o nos olhos, o jovem que ainda se encontrava próximo a fogueira sentado na grama, respondeu:
_ Para a Ilha dos Exilados. - os olhos dela se arregalam levemente, por que não se surpreendia? Apostava que depois de tudo que descobrira ele pretendia encontrar o pai dela.
_ O que vai fazer lá?
_ Eu estava a procura de Alfren. - o coração dele acelera, não podia contar o que estava indo fazer naquela ilha, ela ficaria furiosa, não era assim que gostaria de começar sua relação com ela, mas ele não era tão diferente de Jay quanto ela pensava.
_ Meu pai? O que queria com ele?
_ Nada demais, queria resolver alguns assuntos pendentes.
_ Por que isso não me agrada? - diz com relutância.
_ Não se preocupe, não é como se eu fosse exterminar o seu pai e o bando de rebeldes que o segue. - então era mesmo verdade! Aquele não era um sonho, era uma lembrança, meu pai é mesmo um rebelde ou pior, talvez um líder rebelde.

    Orabell já não conseguia mais se impressionar, já desconfiava demais depois dos sonhos, mas agora com aquela confirmação... Já não tinha mais volta, mas ainda estava parcialmente em choque, sua vida era realmente uma mentira, como se houvesse duvidado alguma vez disso!

    Não olharia mais para trás, estava cansada de olhar para o que viveu e quem um dia foi, agora ela era outra pessoa, em outra vida, onde não existiam Alfren ou Jayson, ela era Orabell e viveria seus sonhos.

  Preciso chegar a Berm, pensou decidida e se levantou. Os olhos de Viktor acompanhoram seus passos para onde ela vai? Perguntou-se o jovem acompanhando-a assim que a observa entrar na floresta.
_ Ei! Aonde você está indo? - segurou o braço dela com calma.
_ Estou indo embora! Obrigada pela ajuda - apontou para a perna - e pela comida, mas eu tenho que ir, tenho planos em mente e lugares para visitar, desculpe, mas para onde você vai eu não pretendo mais voltar. - e voltou-se para a floresta novamente, mas foi impedida mais uma vez pela mão de Viktor em seu braço.
_ Aonde você vai? - repete apreensivo.
_ Vou para Berm, capital de Frid.
_ O que vai fazer em Berm? - será?! Pensou ele, parecia extasiado, será mesmo que ela faria aquilo? Seu coração retombou no peito, se fosse verdade então iria com ela.
_ Na verdade eu não sei exatamente, mas preciso chegar até lá, é lá que começam os meu planos. - seja mais específica oras! - pensou o rapaz, queria provas para comprovar sua teoria, mas teria bastante tempo para isso, agora precisava convencê-la a deixá-lo ir junto.
_ Você sabe o caminho para Berm?
_ Ah... Bem, pensei em pegar umas caronas pelo caminho, talvez consiga informações de onde seria Berm. - ele ergueu uma sobrancelha inquisitivo, não acreditava naquilo, esse é o plano dela?! - eu sei que não é um plano incrível, mas é tudo o que posso fazer.
_ Deixe-me ir com você! - pediu o ruivo ainda segurando seu braço.
_ Como?! - ela arregala os olhos. - você não ia para a Ilha?
_ Posso ir para a ilha acertar contas com o seu pai ou posso servir de ajuda para uma linda dama que pretende atravessar um país que não conhece. Acho que prefiro a segunda opção. - disse rindo, a loira sorriu para o ruivo.

Pela Honra De FridOnde histórias criam vida. Descubra agora