Pela Honra De Frid

Capítulo 18

  ERA AGORA, não havia volta, já estavam muito longe para voltar e isso assustava muito.
  Com tudo o que vivera e os sonhos que construíra era para agora ser um momento inexistente em sua vida. Era para estar nadando com botos ou conhecendo a neve, apesar de que sempre sentira que a neve já lhe fosse conhecida. Era o momento do retorno, com o balanço leve do navio e com o cheiro de brisa do mar. Com os peixinhos nadando por baixo da grande estrutura que se deslocava em direção a uma ilha esquecida pelo reino. Ela se recusava a se virar em direção a ilha, a olhá-la novamente, prometera a si mesma que não voltaria e prometera de pés juntos que construiria um novo futuro e como doía saber que estava voltando para a sua antiga prisão e como doía saber que o futuro que planejara já não existiria.
   Mas a escolha foi sua, por livre e espontânea vontade decidira voltar por sua amiga Malia e por livre e espontânea vontade decidira mudar o seu futuro por aqueles que pelas condições terríveis que se encontram são incapazes de sequer pensar em um futuro melhor.
  Mas agora que tudo estava decidido não olharia para trás, seguiria de acordo com as decisões tomadas mesmo que para isso fosse contra as decisões tomadas anteriormente.
   Olhando para o horizonte era possível ver as montanhas Oeste e Leste de Frid, lá vivem pessoas resistentes, com capacidade de viver no frio intenso daquelas montanhas onde o inverno era inverno até mesmo no verão.
Um braço envolve os seus ombros e ela pode sentir o peso do olhar de Viktor sobre ela.
_ O que está pensando, minha rainha? - pergunta ele, curioso, pois já fazia um bom tempo que ela não falara com ninguém.
_ Estou pensando em tudo, no que passei, no que sonhei que passaria e no que estou passando agora.
_ E qual deles parece mais bonito para você? - perguntou ele descendo seu braço para a cintura dela, abraçando-a de lado.
Pensando um pouco ela responde.
_ Nunca parei para pensar em qual é mais bonito. Meu passado era belo por que nele eu vivia pelos sonhos que realizaria. O futuro que eu queria também era belo por que eu teria tudo pelo qual sonhei no passado, mas agora... - ela para e pensa um pouco, então um sorriso pequeno surge em seus lábios - parece que o que estou fazendo não é mais para mim. Tanto o passado quanto o futuro visavam minha felicidade e pensando agora, ser feliz sozinha enquanto todos sofrem é meio...
_ Egoísta? - pergunta Viktor sorrindo de lado.
_ É, egoísta, mas agora que não se trata mais de mim sinto que estou mais livre do que quando saí da Ilha dos Exilados. - um sorriso surge no rosto dele. Estava orgulhoso do que ela se tornara, não era mais a pequena Arabella, ele sabia, mas era hora dele deixar o passado para trás.
_ Fico feliz que o agora esteja mais bonito minha Rainha- disse deixando um beijo no topo da cabeça dela fazendo-a corar.
_ E quanto a você? - ela se volta para ele ainda com uma mão apoiada na grade de proteção, ele com a mão ainda na cintura dela.
_ A mim?
_ O que vai fazer assim que voltar a ver meu pai, afinal desde o princípio você pretendia vir para cá e agora por ironia do destino estamos voltando novamente, você finalmente vai resolver os seus "assuntos pendentes?" - ela ri fazendo aspas com os dedos.
_ Sim eu vou, mas antes disso eu queria conversar com você. - diz Viktor ficando mais sério. Franzindo as sobrancelhas ela acena com a cabeça concordando. Ainda segurando-a pela cintura Viktor guia ela para as partes mais baixas do navio descendo pelas escadas, essa lembrança faz o corpo dela se arrepiar, não estava a vontade naquele lugar escuro.
Lembrou-se do Velho Idiota e abraçou seu próprio corpo. Percebendo a relutância de Arabella Viktor para e acende uma luminária a gás pendurada no teto, fazendo a luz se alastrar melhor pelo ambiente. Observando o local, estava vazio, sem pessoas apenas caixotes vazios esperando para serem enchidos na Ilha.
  Ele pede para ela sentar e ela obedece sentando-se em um dos caixotes, ele puxa um caixote para perto dela e também senta encarando-a, ele estava nervoso, ela também.
É agora! - pensa o jovem ruivo.

_ Arabella, eu sei que você vem almejando saber mais sobre mim ultimamente e eu sinto muito por não ter me aberto com você. O que você passou na ilha com Jayson fez com que uma barreira se instalasse no meu coração, por que eu não sei como você vai reagir quando eu te contar o que venho querendo contar a muito tempo. - um frio tomava o estômago de Arabella, ela sabia que era em horas como essa que seu coração era partido, ela torcia fervorosamente para que isso não acontecesse e Viktor também sabia, na verdade ele torcia pelo mesmo.
_ O que quer me contar? - pergunta baixinho, se preparando para o impacto que poderia vir. Suspirando ele aperta as mãos dela encarando-a nos olhos. Pelo canto dos olhos o brilho da lamparina tremeluzia deixando aquele quarto de navio ainda mais assombroso. Mas o brilho de mel dos olhos de Viktor debatiam a luz dos cristais nos olhos de Arabella, parecia uma dança de luzes, de emoções, era quase possível ver as emoções emanando dos olhos deles, era quase palpável.
_ Para começar eu preciso contar uma história, tudo bem? - diz ele e ela assente. - era uma vez... - ela ri.
_ Sério. Era uma vez?
_ Você quer ou não quer ouvir a história? - diz ele fazendo-a rir que assente novamente. - Era uma vez, um reino grande e majestoso com um rei poderoso e muito forte. Esse rei amava muito a sua esposa e sempre sonharam com o dia em que teriam um herdeiro, o fruto do seu amor com sua rainha. Porém, ele era um rei muito preconceituoso que não aceitava as diferenças entre as pessoas, ele tinha medo de pessoas diferentes, tinha medo que fossem mais fortes e mais poderosas que ele e por isso um dia ele mandou caçar todas as pessoas que nasceram com algo diferente do seu padrão de normal.