Sing me to sleep

Never seen anything (Quite like you)

O sol entrava pelas frestas da cortina, com seus raios lambendo o verniz do piso de madeira e alcançando a ponta da cama, onde cachos loiros caíam soltos pelas costas curvadas de uma kryptoniana muito concentrada. Kara tinha acordado há algumas horas, incapaz de dormir mais ao perceber que Lena ainda estava ao seu lado e que o dia anterior não havia sido fruto da sua imaginação sempre tão fértil. Não se culparia caso tivesse sonhando e confabulado tudo isso na sua cabeça, porque sendo sincera, não seria totalmente uma mentira. Mas, segundo a opinião da loira, todas as meninas que sabem da existência da CEO mais poderosa de National City, já sonharam em pelo menos abraçá-la ou ser sua namorada. Até mesmo as que se dizem heterossexuais.

Sorte a dela que agora Lena era sua namorada e não de qualquer outra pessoa. Kara quem iria segurá-la a noite, quem iria vê-la acordar sem toda a pose de mulher poderosa, resmungando porque a loira tomou a maior parte da cama durante a madrugada, porém ainda sim contente porque ela ainda continuava ali, agarrada a sua cintura e com os cabelos dourados caídos no rosto. A pequena Danvers gostava de pensar assim, de imaginar que seus dias agora seriam bem parecidos com os filmes de romance que assistia nas tardes de domingo. Seu coração acelerava e seu sorriso era capaz de rasgar suas bochechas. Elas sentia feliz e mais do que isso, sentia que estava finalmente em casa, segura.

Kara continuou o que estava fazendo enquanto via a morena lentamente se mover sob os lençóis. A Luthor tateou o espaço vazio ao seu redor e seu coração afundou no peito. Kara não estava ali? Teria sido tudo aquilo um sonho? Suspirou. Não podia ser. E assim, ela continuou a se espreguiçar e mudou de posição, sentindo o sol tocar seus pés descalços. As duas esmeraldas se abriram preguiçosamente, tentando se acostumar com a pouca claridade — mas que já era o suficiente para Lena resmungar — e logo encontraram o que tanto procuravam. Lena sorriu, era bom perceber que nada havia sido uma mentira.

Ela encarou o relógio por breves segundos, estava cedo. Há quanto tempo Kara estava ali do outro lado cama acordada? Aliás, o que a loira estaria fazendo?

Lena podia ver um bloco nas mãos dela e achou engraçado a maneira como sua namorada movia a língua no canto dos lábios ao mesmo tempo em que mexia o lápis. Fofo e extremamente convidativo. No entanto, ao repetir a palavra namorada em sua mente, logos as palavras caíram como um peso real sobre seu peito. Namorada. Ok. Não havia tido realmente um pedido formal, mas era claro, não era? Ou ela estaria interpretando tudo errado? Respirou fundo, pois óbvio que Kara tinha escutado seu coração bater mais depressa.

Inferno de coração fofoqueiro.

— O que está fazendo? — foi a primeira coisa que pensou em perguntar.

— Uh... desenhando — sorriu timidamente. Assistir Lena acordar tinha se tornado seu passatempo favorito.

— Desenhando o quê? — arqueou a sobrancelha — achei que tivesse parado de desenhar.

— Eu tinha, mas... er... — tossiu nervosa — senti vontade de desenhar algo hoje e bom... tem uma papelaria no hall do hotel.

— Você comprou um bloco então — comentou e Kara assentiu concordando — posso ver?

— É uma surpresa — dessa vez seu sorriso foi inteiramente travesso. A loira deixou o bloco, assim como os lápis que tinha comprado, em cima do pequeno recamier cinza, engatinhou até ao lado da CEO e se deitou.

Seus olhares se encontraram por longos minutos. Ambas estudavam com afinco cada detalhe da feição uma da outra, decorando cada pintinha, cada cicatriz e cada ruguinha que surgia quando sorriam. Lena acariciou as bochechas rosadas da loira, se perguntando como ela conseguia acordar tão linda daquela forma, como se já estivesse pronta para encarar o mundo com todo o otimismo possível. Se sentiu sortuda, sortuda por poder ser a mulher ao lado dela, por poder ser a única observando aquela beleza singular naquela hora da manhã. Muitos deveriam estar dormindo ou se ajeitando para mais um dia de trabalho — ou final de semana, pensou —, mas ela estava ali e não havia nenhum outro lugar onde Lena queria estar.