Capítulo XXI

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Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada

(Toda Forma de Poder — Engenheiros do Hawaii)


— Não pode fazer isso. — Foi minha primeira reação.

— Eu posso e irei. — Respondeu Päivi sem alterar o tom de sua voz. — Esse é meu último aviso.

Olhei para a tela que mostrava os círculos amarelos quase todos dentro do submarino. Enrole ela.

— Por que vai fazer isso?

— Eu não vou se vocês se renderem. Ninguém tem que se machucar.

— Vocês já machucaram muita gente. — Enrole ela. — Não acha que vosso reinado acabou?

Já faltava apenas poucas pessoas. Só mais um pouco.

— Já tivemos essa conversa antes, garota. Nianders não existem para viver com pessoas normais.

— Normal é um termo muito relativo.

Houve alguns segundos de silêncio antes dela voltar a falar e pude ver que já não tinha ninguém na ilha.

— Se acha que vai mudar o mundo — continuou Päivi — desista, é impossível.

— Nunca ouviu dizer que o impossível é só questão de opinião? — Falei ouvindo a música na minha cabeça.

— Vocês tem dois minutos. Escolha. Ou rendição, ou mandaremos a bomba.

Uma ideia surgiu na minha cabeça com pesar.

— Samirah? — Perguntei percebendo que o rádio já estava fora de estação. — Se uma bomba nossa explodir, as outras também irão, certo?

— Sim.

Olhei para ela e vi a confirmação em seus olhos. Com um aceno de cabeça de nós duas, compreendi o que deveria fazer.

Peguei o arco e uma flecha. Nós sobrevoamos a ilha perto de um dos lugares em que eu havia colocado uma bomba. Com o coração acelerado armei a flecha e me preparei para atirar.

Não era para ser necessário... Não era para ser necessário...

No entanto, a voz de James me segurou dizendo:

— Não faça isso.

Relaxei os músculos e perguntei:

— Por que?

— Porque Thiago está lá e vai ser atingindo também.

Espera, quê?

— Ele já morreu para mim. — Respondi tencionando o arco e deixando que uma lágrima escapasse de meus olhos.

— Mas ele é nosso espião. — Não esperava por isso. — Como acha que soubemos sobre você e como te libertamos? Como acha que conseguimos isso? — Ele apontou para tela de círculos. — Como acha que conseguimos chegar até aqui sem sermos notados? Ele arriscou a vida para que conseguissemos.

— Um minuto. — A voz de Päivi soou novamente do rádio. — Sua decisão.

Nenhum de nós falamos mais nada antes de sair novamente de estação.

— Eles vão matar todos nós...

— Mas... — A voz dele era tão fraca quanto a minha. — Você sabe que se morrer na ilha será como se nunca tivesse existido? Nem irão saber quem ele foi.

Respirei fundo. Na minha mente passavam imagens desde que eu havia saído da casa de Léo com o seu primo estranho, até descobrir que estava sendo iludida dentro daquela cela.

— Não posso deixar que tudo dê errado no fim. — Meu rosto estava molhado de lágrimas secas e novas. — Dizem que líderes precisam ser fortes para seus seguidores. — Olhei para James. — Peço então que possa ser fraco por mim.

Morei novamente e soltei a flecha.

Em poucos segundos a bomba explodiu e em sequência vieram outras, até que toda ilha começou a ser destruída.

Não era para ser necessário... Não era para ser necessário...

A Ilha - As Crônicas dos Nianders Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora