Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace
[Imagine não existir países
Não é difícil de fazer
Nada pelo que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz](Imagine — John Lennon)
— Acorde!Levantei em um susto.
Aos poucos minha visão começou a retornar. Reconheci que eu estava em um espaço fechado com apenas a figura de uma porta também fechada em uma das paredes e na outra uma janela grande de vidro, mas que não me permitia ver o outro lado. Percebi também que antes de acordar estava debruçada sobre uma mesa à minha frente.
Em minha mente se ocupava a confusão. No entanto, ela tomou o maior de espaço possível quando me dei conta de que estava presa.
Meus braços sobre a mesa estavam algemados, porém permitiam que eu fizesse a maior parte dos movimentos com esses membros, mas que não me levantasse.
Além disso, pela cadeira que estava sentada passava uma corrente prendendo por completo minhas pernas e pés.
Olhei para trás e descobri que novamente minhas asas haviam retornado. Entretanto, elas estavam um pouco mais do que presas, já que além de uma corrente passar por elas as amarrando uma com a outra, também havia uma estrutura que as segurava junto a parede.
Tentei voltar a memória para tentar entender o porquê de eu ter vindo parar naquele lugar. Mas obviamente, não havia nenhuma razão que fizesse sentido.
Poderia ficar me fazendo a mesma pergunta, porém seria mais produtivo perguntar a pessoa com quem eu quisera tanto falar.
— Olá. — Disse Päivi Mäkinen após fechar a porta.
— O que raios aconteceu? — Não, isso eu sei. — Por que eu estou aqui e, principalmente, por que eu estou tão... presa?
A mulher não respondeu, apenas ficou olhando para mim como se pensasse que eu poderia manter aquela conversa sozinha.
Mais memórias voltavam à minha mente. E ao lado delas, mais perguntas eram despejadas pela minha boca.
— Eu vi aquela... coisa. O que era aquilo na terra? — A última coisa que havia visto repassou em minha mente. — Quem eram aquelas pessoas e por que diabos elas atiraram em mim?
Novamente, Päivi não respondeu.
— Aquele morcego... Havia algo afetando drasticamente ele... O que estava acontecendo com ele?
Mais uma vez, o silêncio foi minha resposta.
Sendo assim, desisti. Apliquei todos os meus dias lendo Agatha Christie e Arthur Conan Doyle e deixei que meus pensamentos me guiassem, mesmo que fosse lentamente.
— Aquele negócio no chão... Era claramente uma caixa de som... Se confundiu tanto aquele morcego, ela emitia uma frequência muito alta... Alta o suficiente para confundir o afinador que procura só medir a altura. — Uma parte certa. — Aquelas pessoas eram gente da ilha. Tinham que ser. Se não você não estaria aqui. — A mulher não disse nada. — “Definitivamente... eu odeio morcegos”... Foi isso que uma delas disse. — Precisa encaixar. — Se ele disse “definitivamente” é como se chegasse a uma conclusão... Como se algo tivesse acontecido várias vezes... Como se morcegos destruíssem caixas de som com frequência. — O semblante de Päivi não se alterou em nenhum instante. — Frequentemente, pessoas da ilha precisam arrumar quando são quebradas caixas de som que emitem uma frequência muito alta... Por quê?
Päivi finalmente se mexeu para mudar de posição.
— Você é muito inteligente, garota. — Ela falava tranquila e lentamente. — É uma pena ter que perdê-la... Ainda mais com asas assim.
Eu continuei a encarando. Afinal, eu não tinha tantas outras opções.
— Não há mais motivo para esconder nada. — A mulher voltou a falar. — Você realmente me impressionou. Sendo assim, acho que merece saber de algumas coisas... — Ela se mexeu novamente na cadeira mudando para uma nova posição. — De fato, existem diversas caixas de som pela ilha que emitem uma frequência muito específica encontrada pelos nossos cientistas. E é necessário que se tenha um controle daquelas que estão funcionando e daquelas que não. — Ela voltou a me encarar. — Mas disso você já sabe... Agora, o porquê. — Ela cruzou os dedos da mão e apoiou a cabeça. — Essa frequência causa um determinado efeito na mente após um certo nível de exposição. As pessoas sob efeito desse som ficam felizes. Simples assim. Ajuda que elas libertem suas mentes de seus problemas, das coisas que lhe afligem.
— Vocês hipnotizam as pessoas?! — Estava em choque.
— Nós lhe damos a chance de uma vida melhor.
Por essa eu não esperava. A fada não precisou de tantas palavras para me deixar completamente desconcertada.
— Tirando a liberdade delas? Tirando a capacidade de pensar delas? As colocando em uma obrigação de ser feliz?
— Não estamos aqui para debater nada.
— Estamos aqui porque eu passei a ser um problema... porque eu sei.
A resposta de Päivi foi um olhar profundo apenas confirmando o que eu havia dito.
— Você poderia me expor muito a sua frequência... — Eu falei compreendendo a verdadeira questão de ela estar ali. — Porém, se fizer isso comigo inconsciente, meu cérebro pode interpretar como se tudo isso fosse um sonho, ou seja, não um problema real, então haveria uma possibilidade de eu me lembrar. — Olhei para ela. — Você não pode arriscar isso.
Como das outras vezes, ela não disse nada.
— Mas se me mantiver acordada e presa, não vai funcionar, pois o local em que estou vai sempre me lembrar de tudo. — Uma ideia pairava na minha mente. — Além do mais, você já percebeu que isso não funciona tão bem comigo, pois de alguma forma você sabe que, mesmo que por pouco tempo, eu me lembrei de tudo. Sendo assim, também não pode simplesmente me soltar, já que é muito arriscado que eu espalhe o que eu sei pela ilha. — As peças se encaixaram. — Por isso me disse tudo. — Falei por fim. — Porque não pretende que eu saia dessa.
Päivi se levantou, tão calma e tranquilamente quanto chegou. Ela abriu a porta e me lançou um último olhar e disse antes de sair:
— Mais uma vez você está certa, Senhora Dante. Eu realmente não sei o que fazer com você ainda. Então espero que aproveite seu tempo aqui enquanto eu decido.
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A Ilha - As Crônicas dos Nianders Vol. I
FantasiTodos nós somos capazes de algo. Do que você é capaz? Em uma realidade em que as pessoas podem despertar o ser mágico que vive dentro delas, uma garota chamada Vanessa Dante irá descobrir ser bem mais do que imaginava. O que você faria se um novo mu...