A Ilha - As Crônicas dos Nianders Vol. I

Capítulo XXII

It's over, isn't it? So why can't I move on?
[Acabou, não? Então por que não posso seguir em frente?]

(It's over, isn't it? - Steven Universe)

O helicóptero se afastou enquanto eu quase caía pela janela aberta sem perceber. Samirah me segurou e eu percebi que estava tremendo.

Lembrei com dor a sensação de culpa pela morte de uma pessoa no acidente de Seu Matheus. Entretanto, dessa vez eram várias pessoas e havia sido de propósito.

Tudo piorou quando comecei a esquecer alguns rostos... Já não me lembrava da feição de Päivi, mesmo que lembrasse da pessoa.

Porém, como uma facada profunda em uma ferida existente, eu me lembrava de Thiago.

A ilha ainda era visível no horizonte quando me esqueci o nome da líder daqueles que eu havia tirado a vida e não demorou para me esquecer completamente de sua existência.

No entanto, duas coisas não sumiam: a consciência do meu ato e as memórias de Thiago.

- James? - Falei em dúvida. - Qual era o nome do espião que nos ajudou de dentro da ilha?

O jovem me olhou com o semblante confuso e perguntou:

- Que espião?

Olhei pela janela novamente sentindo o vento secar o líquido salgado escorrido pelo meu rosto.

Eu fiz a coisa certa... Oh céus, eu tenho que ter feito...

*
*
*
Estava no submarino sentada em uma das centenas de mesas junto com Harry e Coral. Havia muitas pessoas no local, porém nenhuma delas falava junto com Safira.

A mulher havia explicado toda a situação que se passava e as pessoas ouviam pacientemente.

Meus pensamentos voavam longe daquele lugar, no entanto voltei a minha atenção quando a nanteral falou:

- Sei que estão confusos, principalmente porque muitos de vocês estão na ilha há alguns anos... Qualquer coisa que precisarem, podem nos pedir. Queremos ajudá-los... Agora estamos indo para um novo local com um novo futuro e uma nova proposta. Enquanto isso, para todos aqueles que se lembrarem de suas vidas e quiserem retornar a vossas casas, temos um fundo monetário reservado especialmente para isso. Sendo assim, sempre haverá alguém aqui no saguão principal para pegar as informações necessárias para que assim que chegarmos ao continente, vocês possam se dirigir para vossas casas... Também haverá sempre alguém com experiência para cuidados psicológicos para ajudá-los em qualquer coisa que precisarem. - Senti um arrepio percorrer a minha espinha ao ouvir menção a psicologia. - Há cabines para todos, então não se preocupem em ficarem sem abrigo. Isso é tudo, boa noite.

Ela parou de falar e se dirigiu aos outros líderes.

Permaneci com Coral e Harry e o último comentou:

- Tudo isso é muita loucura.

Concordei rindo.

- Imagino o que teria acontecido se você não tivesse ido tocar aquele dia. - Falou Coral se remetendo a história que eu havia contado a eles.

- Pois é. - Falei ainda rindo. - Algumas coisas são para acontecer.

Era para acontecer... Era para acontecer... Eu fiz a coisa certa...

Meus dois companheiros ainda falavam sobre isso quando James e Samirah apareceram e eu perguntei:

- O que houve?

- É melhor você ver isso. - Disse Samirah em tom sério.

Os segui deixando os fadas e me dirigindo para uma pequena sala separada.

Safira olhava com cara de curiosidade para algo que não sabia o que era.

- O que foi? - Perguntei novamente.

A mulher mostrou um mapa mundi com pequenos círculos amarelos em certos pontos.

Respirei fundo. Seria mais fácil se o universo não me lembrasse a cada momento...

Safira deu zoom na maior concentração, que era o submarino e mostrou um círculo maior que os outros.

- Essa é você.

Disse ela logo em seguida diminuindo para focar na costa do Brasil onde havia uma do mesmo tamanho que a minha. Ampliando mais, reconheci estar no estado de São Paulo. Dessa forma, mais próximo ainda, os detalhes de localização apareceram e eu vi que se encontrava em Navarro.

Porém, quando Safira ampliou ainda mais permitindo que eu visse o endereço do lugar, um arrepio gélido percorreu a minha espinha.

- Quanto tempo leva para chegarmos até lá? - Perguntei à nanteral.

- Se mantivermos nessa velocidade alta, cerca de dois dias.

Respirei fundo.

- E iremos fazer isso?

- Sim. Por quê?

Com mais uma respiração funda, falei:

- Eu sei quem é o próximo Akan. - Disse olhando para o grande círculo na casa de Léo.