Naquela amanhã acordei lentamente, sentindo minha cabeça latejar por conta da ressaca que a festa da noite anterior havia me proporcionado. Não me lembrava muito bem de metade das coisas que haviam acontecido, e o que lembrava não passavam de memórias confusas e estranhas envolvendo muitas pessoas e eventos que eu tinha certeza que não haviam acontecido durante aquela festa. Uma coisa eu sabia, entretanto, e essa coisa era o corpo deitado ao meu lado. Não precisei abrir meus olhos, apenas sentir o calor que emanava de Harry bastou para me relembrar dos meus últimos minutos antes de adormecer. Eu também sabia que Harry estava acordado, pelo padrão já não tão calmo de sua respiração e a movimentação constante de algumas partes de seu corpo. Esse pequeno fato me impedia de abrir os olhos. Saber que Harry estava logo ali do meu lado, em minha cama, após tantos meses, era igualmente satisfatório e aterrorizante. Sabia que não havia acontecido nada entre nós e que apenas havíamos dividido a cama, mas me sentia envergonhado por tudo. Pelo jeito que o deixei, inclusive por ter o deixado, por ter tido medo de o chamar para conversar e por tê-lo ligado num momento de desespero, como se Harry fosse minha âncora. Sim, aquele pensamento era fofo, mas eu não queria passar o resto de minha vida desabando e tendo que recorrer a ajuda de outros. Não, eu queria ser independente nesse sentido. Saber lidar com a dor. Estava cansado de entrar em colapso, estava cansado de ser fraco.
Eu abri meus olhos mesmo assim, encontrando meu ex-namorado com seu cabelo desgrenhado, provavelmente tentando voltar a dormir, e seu tronco desnudo. As cobertas estavam quase em seu quadril, mas não me importava. Meu foco não saía daquela borboleta gigante em sua barriga.
- Eu não acredito que você fez isso. - Murmurei, levando minha mão para sua barriga e contornando o desenho com meu indicador. Harry abriu seus olhos logo em seguida e me deu um sorriso preguiçoso, provavelmente notando minha expressão confusa.
- Dizem que tatuagens devem ter significados. - O ouvi dizer e ri um pouco de maneira sarcástica.
- Nós terminamos e você fez isso? - Perguntei, não num tom acusador, mas sim de curiosidade. Me apoiei em um cotovelo para olha-lo melhor. Harry deu de ombros, suas covinhas aparecendo nos cantos de seu rosto. - Você é louco. - Exclamei, rindo.
- Eu sei. - Falou num suspiro, virando de lado na cama, quase que de barriga para baixo. Voltei a me deitar também, sem nenhuma vontade de me levantar e cumprir com minhas obrigações diárias.
- Eu acho que vou tatuar algo também. - Murmurei, olhando para meus braços vazios.
- Você!? - Harry exclamou de modo brincalhão, mas também surpreso. - Mas você odeia tatuagens!
- Só uma. - Sorri, o olhando de lado. - Algo para minha mãe.
- Oh. - Harry disse, criando um pequeno silêncio entre nós durante alguns segundos. Era confortável e desconfortável ao mesmo tempo; enquanto queríamos dizer tantas coisas, o medo de dizer uma palavra errada era maior.
- Você acha que ela me perdoou? - Perguntei, olhando para o teto, como se a pudesse ver de alguma forma. Era ridículo; eu sabia que ela estava morta, e diferente dos otimistas religiosos, para mim aquele havia sido o fim. Mesmo assim, graças a sociedade em que cresci, era quase que automático olhar para cima quando falava de alguém já falecido.
- Como assim? - Harry se apoiou em seu cotovelo, mas eu só conseguia ver parte de seu rosto pela minha visão periférica. Ele provavelmente achava que eu estava chorando, ou pelo menos com os olhos lacrimejando, mas não. Apenas pensava, ponderava. Apático.
- De quando a magoeei. - Suspirei, fechando os olhos e relembrando aquela cena tão boba para outras pessoas, mas que me assombrava constantemente.
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Bound to Lose • l.s
Fiksi Penggemar- Eu sempre quis escrever um livro. - Suspirei, jogando minhas costas contra o sofá. - Talvez você devesse. - Harry disse, dando de ombros. - Ah, claro. - Falei sarcasticamente, o que o fez se virar pra mim e vi que ele estava falando sério. - E sob...