Drekkor (Filhos do Acordo 6) - Degustação

Três

Dou uma mordida no meu biscoito e encaro o monitor na minha frente. Sei que não devia estar comendo na ponte de comando, mas ontem foi um daqueles dias que Sara e eu conseguimos acertar a mão na cozinha e fazer alguma coisa que nos lembrava de casa. Bom, me lembrava de casa. Ela jura que nunca comeu biscoito desse tipo. E okay, eu também nunca comi um biscoito desse tipo, exatamente, mas acho que até fizemos uma boa imitação de biscoito de polvilho.

Os primeiros asteroides estão aparecendo no monitor. Estranho. Está cedo demais para estarmos nos aproximando de Nassi. Me inclino para trás na cadeira e olho ao redor. Eu até poderia ter a nossa localização no meu monitor, mas estou trabalhando como oficial de comunicação, então isso não costuma ser muito necessário. Melhor deixar a tela limpa para qualquer outro texto ou configurações de contato que eu precise usar, especialmente considerando que só preciso olhar ao redor para achar as informações que quero.

A ponte de comando é uma sala circular, com as paredes cobertas de monitores de vários tamanhos, divididos em terminais e estações de trabalho específicos. Algumas delas até têm mais de um monitor, como a estação do capitão, que tem cinco monitores exclusivos. Eu bem que queria saber como Drek consegue se entender com isso tudo sem ficar louco. Dois para mim é o limite, e depende bastante do que você está fazendo. E praticamente todas as telas mostram as localizações.

Um dos sistemas de comunicação apita. Me viro de volta para o meu terminal, mas não tem nada aparecendo aqui. Estranho. Olho para o outro lado da sala em tempo de ver Rhi se inclinar para a frente, mexendo em alguma coisa nos controles. Ele está na estação principal de comunicação, já que ele é o oficial sênior ou coisa do tipo. Resumindo, ele é meu superior. Já faz algum tempo que estou assumindo os turnos aqui sozinha, mas hoje ele avisou que estava dobrando, de novo, porque precisava conferir algumas coisas ligadas à tal simulação de ontem. Já desisti de pedir mais explicações sobre isso, de qualquer forma.

Agora, uma mensagem que aparece apenas na estação principal? Nunca vi isso antes. Normalmente qualquer comunicação aparece nos dois terminais, o principal e o auxiliar, não importa quem esteja no controle. Suspiro. Um dia desses vou apelar com esse monte de segredos. O pior é que nem adianta perguntar, vou ouvir a mesma coisa que quando insisti em saber sobre as simulações: não estou com eles há tempo o suficiente para ter acesso a essas informações. E esse é um argumento que não tenho como derrubar, porque todos os krijkare estão trabalhando com Drek há pelo menos seis anos. Sara e eu somos as novatas.

Olho ao redor de novo e paro encarando as coordenadas no monitor ao lado do meu. Estamos quase em Nassi, já quase no começo do campo de asteroides. Então devem ter usado o propulsor novo durante a "noite", porque em velocidade normal precisaríamos de mais umas dez horas até chegarmos lá. Isso explica porque Sara não estava no quarto quando acordei. Devem ter chamado ela para ajudar na engenharia, já que o propulsor ainda está em fase de testes.

E se já estamos quase em Nassi...

— Rhi, estou na espera assim que puder abrir um canal de comunicação — falo, sem olhar para trás de novo.

Posso até estar sendo paranoica, porque ainda temos quase uma hora até chegarmos no mercado propriamente dito. Navegar por um campo de asteroides não é coisa que se faça depressa. Mesmo assim, prefiro já entrar em contato com nosso pessoal lá para garantir que não vamos ter nenhum imprevisto. Me lembro muito bem de como é estar em um dos mercados de seres sencientes. Se puder fazer alguma coisa para garantir que as pessoas que estavam neles não vão precisar se preocupar com mais nada por algum tempo, vou fazer.

— Abrir canal? — Ele pergunta.

Suspiro. Essa coisa de deixar o pessoal ficar dobrando turnos sem dormir direito por causa das simulações está começando a fazer efeito.