Drekkor (Filhos do Acordo 6) - Degustação

Sete

Já estou saindo do elevador, no andar dos hangares, quando percebo que estou fazendo bobagem. Não posso simplesmente chegar lá armando um barraco com Drek, mesmo que essa seja minha vontade. Se ele quer se enfiar em incursões em naves que têm "problema" escrito no casco, o problema é dele. Mas ele não precisa arrastar mais ninguém junto. Isso é suicídio. Qualquer um que parasse para pensar a respeito dessa nave ia ter notado que tinha alguma coisa de errado - no sentido de "isso tem cara de armadilha ou coisa pior". Então por quê?

Mas eu não posso chegar falando isso. Ainda sou um membro da tripulação da nave e estamos saindo de uma situação de ataque. Agora não é hora para questionar e discutir, enquanto todo mundo está de cabeça quente e provavelmente ainda temos feridos. Teve todo aquele barulho de metal no comunicador, quando eu ainda estava na ponte... Algum tipo de ataque, sim.

Respiro fundo e viro em um dos corredores. Essa discussão vai ter que esperar um pouco. E Drek não tinha falado para eu ir ajudar a enfermaria? Pois então estou indo, e quero ver ele falar alguma coisa a respeito.

Começo a ouvir as ordens gritadas bem antes de chegar perto da área que é considerada parte da enfermaria. Que maravilha. Eu falei que era loucura. Falei que ia dar merda. Pelo nível do barulho, deu foi muita merda.

O corredor principal está lotado. Agora consigo ouvir Gheri, que é o médico-chefe da tripulação, dando ordens para dois dos seus assistentes enquanto alguém está gritando. Se não deram um anestésico para quem está berrando assim, é porque a situação é bem pior do que eu tinha pensado.

Rhi segura meu ombro. Nem tinha reparado que ele era uma das pessoas encostadas contra as paredes, só estava passando direto tentando não olhar para os lados. Não quero ver exatamente o que aconteceu, mas não tenho como ignorar o corte no seu rosto. Não é nada que os reconstrutores de tecido que eles têm não resolvam em questão de minutos, mas é estranho. Primeiro, um corte assim, depois de uma luta dentro de uma nave, é algo bizarro. Ninguém aqui luta com facas, por favor. Não estamos em um dos mercados do submundo, e mesmo neles facas e armas do tipo são mais decorativas do que qualquer outra coisa. Segundo, por que ninguém aplicou um restorativo nele ainda? Não é difícil... Foi uma das primeiras coisas que aprendi quando vim para cá.

— Não é hora para... — Ele para de falar quando a pessoa que está dentro da sala principal da enfermaria berra de novo.

Não que eu precise que ele termine a frase. Não é hora para discutir com ninguém, não é hora para desafiar Drek ou ignorar as ordens dele e blablabla. Certeza que ele ia falar uma dessas coisas. Mas Drek não me deu nenhuma ordem me impedindo de ajudar aqui.

— Onde Rivna está?

Porque Gheri com certeza está cuidando de quem quer que esteja gritando, então Rivna, que é seu braço direito, vai estar coordenando tudo mais que está acontecendo na enfermaria.

— Triagem — Rhi fala e me solta.

Continuo andando sem esperar mais nada. Triagem. Quer dizer que eles realmente estão priorizando quem vai ser atendido, e se tem tanta gente aqui fora é porque praticamente todo mundo que foi nessa tal incursão saiu ferido.

Drek, o que foi que você aprontou dessa vez?

Se eu pudesse, com certeza ia armar um barraco sobre isso. É o cúmulo da irresponsabilidade. Ele colocou a vida de todos nós em risco, mesmo o pessoal que ficou na nave. Se as equipes de incursão não tivessem conseguido recuar, o que nós íamos fazer? É impossível pilotar um nave dessas com tão pouca gente.

E Drek não corre esse tipo de risco. Nesses anos todos, em todas as missões e incursões que participei, ele sempre mediu o que valia a pena e até onde podia ir. Ele não coloca a vida da sua tripulação em risco nem entra em alguma situação sem ter uma coleção de planos e contingências. Alguma coisa está muito errada.