Seis

589 82 4
                                    

Sara corre de volta para a mesa e para o painel que controla o monitor na parede. Não estamos sendo atacados, mesmo que o som do alarme seja o mesmo. As luzes amarelas querem dizer que a tripulação precisa se preparar para algum ataque ou incursão. Até ontem, eu era parte das equipes e cheguei a começar a ir na direção da porta por puro reflexo, antes de parar. Não tenho a menor ilusão de que vão me deixar participar do que quer que estejam planejando. Ser expulsa da ponte de comando já foi o suficiente. Já entendi o recado.

— Consegue ver onde estamos? — Pergunto.

Sara balança a cabeça, ainda mexendo no painel. Nem me ofereço para ajudar: ela é muito melhor com os controles que eu e sabe todos os "jeitos alternativos" de usar as opções ali.

— Todas as ferramentas de localização estão nos acessos bloqueados. Não duvido nada que Drek tenha imaginado que sua primeira reação seria querer dar o fora.

Suspiro e desabo na cama de novo. Ela provavelmente está certa. Infelizmente, Drek me conhece bem. Não foi à toa que me colocou nas equipes de incursões, quando precisávamos invadir outras naves. Eu estava inquieta demais dentro da nave o tempo todo, especialmente depois de ter passado meses treinando com os mercenários. E tenho que parar de pensar neles assim. São piratas, agora.

Encaro o monitor, que ainda não está mostrando nada. Não acredito que bloquearam nosso acesso a esse ponto. Se Sara não conseguir carregar nenhuma informação, eu vou jogar todas as medidas de segurança pro quinto dos infernos e procurar algum dos monitores espalhados pela nave, nos corredores. Eles sempre mostram as imagens das câmeras externas. Mas, durante uma incursão, sem saber o que pode acontecer, o procedimento de segurança é que todo mundo que não esteja em alguma função ativa na nave fique na sua cabine.

— Foi! — Sara fala.

O monitor brilha antes de mostrar uma nave. Estreito os olhos. Nunca vi uma nave com o casco tão escuro assim, e olha que nesse tempo eu já vi muita coisa. Pelo ângulo da câmera, não consigo ver a nave toda, mas ela não parece ter nada de anormal - um dos modelos comuns do Acordo, se eu não levar o casco estranho em conta.

— Sara, tem alguma ideia... — começo.

— Camuflagem — ela fala. — Mas eu jurava que isso ainda estava sendo desenvolvido.

E é por isso que eu amo o fato de Sara gostar das coisas de engenharia.

— É uma forma de bloquear os sensores padrões — ela continua. — Os que o Corpo Militar usa para fazer suas varreduras. Não serviriam para bloquear os sistemas de busca de Gabi...

— Mas algo assim faria com que a nave passasse despercebida a menos que alguém estivesse procurando especificamente por ela — completo.

Sara olha para mim e assente.

Merda. Eu só consigo pensar em um motivo para alguém fazer questão de esconder sua nave assim: comércio de seres sencientes. Nunca tive nenhuma ilusão de que ia ser só a tal da lei ser aprovada, derrubar o mercado de Nassi, e tudo ia terminar magicamente. Não funciona assim, eu sei. Mas nesse tempo todo, depois de invadir não sei quantas naves com mercados pequenos e duas bases de pesquisa e de ler uma boa parte dos registros da nave sobre as incursões de antes de eu vir para a tripulação, nunca vi nada assim. Ou é algo novo, ou é um lado do problema que não fazíamos ideia que existia. Ou melhor, que a força-tarefa não fazia ideia de que existia, porque Drek sabia muito bem.

— Ainda vai me dizer que estou sendo exagerada? — Pergunto.

Porque se isso é alguma coisa envolvendo o comércio de seres sencientes, e consequentemente as abduções, e Drek não falou nada a respeito para a força-tarefa...

Drekkor (Filhos do Acordo 6) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora