Nove

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Quando chego no corredor da enfermaria, ele já está vazio e não estou mais ouvindo gritos. Ótimo. Pelo menos isso. É a vantagem de uma luta com espadas - e eu ainda estou achando isso bizarro. Mas cortes são muito mais fáceis de serem tratados do que os ferimentos feito com armas de projéteis ou lasers. Duvido muito que a maioria do pessoal que estava nas equipes de incursão tenha uma cicatriz que seja, e isso contando a pessoa que estava berrando mais cedo.

Mesmo assim... Espadas. No Acordo.

Não é que lâminas sejam totalmente ignoradas. Eu sei que os rhegari - a espécie de guerreiros que controla o Corpo Militar - treina com facas desde crianças. O companheiro de Gabi é um rhergari e eu fiquei sabendo de uma discussão meio constante porque ele queria dar uma faca para o filho deles e ela não deixava. E eu sou obrigada a concordar com ela, porque a criança não tem nem dois anos, eu acho. Mas eles são um caso à parte. Os rhergari têm uma cultura muito voltada para habilidades como guerreiros e coisa assim. É algo tradicional. E, pelo que eu sei, as facas que eles usam fora do seu planeta são de alta tecnologia. Lâminas reforçadas com lasers e coisa do tipo. Vi um vídeo de uma demonstração onde um rhergari estava cortando pedras com uma dessas facas. É mais que óbvio que as espadas das pessoas na nave estranha não eram reforçadas assim, ou então não teria sobrado ninguém.

É isso que não faz sentido. Por que usar armas arcaicas, ainda mais dentro de uma nave? Se fosse em terra eu até conseguiria pensar em alguns motivos, mas em uma nave que claramente estava em boas condições? Não dá nem para falar que é porque estavam tentando evitar causar mais danos ao casco.

Rivna está limpando os equipamentos quando entro na sala de triagem.

— E então? — Ela pergunta, sem se virar.

— Dois cortes fundos, um no braço e um na coxa, e um mais superficial nas costas — conto. — Pelo menos foi o que ele admitiu, e falou de alguns hematomas também.

Ela resmunga alguma coisa que eu não entendo. Provavelmente algum xingamento, porque raramente os tradutores funcionam para eles. Não duvido nada que seja algo na mesma linha do que eu pensei: Drek foi um idiota por não ter ido para a enfermaria, porque aqueles cortes poderiam muito bem ter sido mais sérios do que ele pensava.

— Não sei os efeitos de perda de sangue nos krijkare, mas a calça dele estava ensopada de sangue — continuo.

— Nós nos recuperamos de perda de sangue depressa. Se fosse um caso realmente sério, Drek teria vindo para cá.

Levanto as sobrancelhas. Não sei não, eu não teria tanta certeza assim.

Rivna balança a cabeça e joga seus suprimentos de limpeza em uma abertura na parede.

— O capitão não pode mostrar fraqueza. Na maior parte do tempo, Drek ignora isso. Ele é um de nós. Mas agora...

Espera... Eu estou entendendo o que acho que estou?

— Você sabia que essa incursão ia terminar mal — falo.

— Todos nós sabíamos — ela me corrige. — Ir para aquela nave foi uma escolha.

Loucos. Todos eles, loucos. Que maravilha.

Saio da sala de triagem sem falar mais nada. Não vai adiantar nada descontar minha raiva em Rivna. Tudo bem que fui eu quem insistiu em vir trabalhar na nave de Drek, mas seria bom ter sido avisada que eles tinham uma veia suicida e podiam acabar me arrastando junto. Não vim para cá para esperar morrer quando der merda em alguma missão maluca que eu nem sei o que é.

Preciso dar um jeito de cair fora daqui.

Quando entro no quarto, Sara está sentada na sua cama, com o tablet na mão. Devia ter imaginado que iam colocar ela para fora da engenharia de novo assim que tudo acabasse.

Drekkor (Filhos do Acordo 6) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora