Eu não deveria me surpreender por Drek ter facas escondidas na antessala da sua cabine. Não sei porque não pensei nisso antes. Acho que isso quer dizer que eu preciso aprender a ser um pouquinho mais controlada quando vier aqui. Ou não. Se não vou continuar na nave - e ainda tenho toda a intenção de cair fora na primeira oportunidade - isso não vai fazer diferença mesmo.
Quando me viro de volta para ele, depois de pegar a faca escondida em um compartimento debaixo da mesa, Drek está sentado de novo. Posso só ter notado o braço, mas tenho certeza que esse não é o único ferimento. As luzes foram a primeira dica, mas eu demorei para me lembrar que a penumbra é uma luz "confortável" para os krijkare. É o que preferem quando querem relaxar. E em mais de dois anos, eu nunca vi Drek reduzir as luzes de lugar nenhum na nave.
— O que mais? — Pergunto.
— Só tire essa coisa.
E ele falou isso sem nem olhar para mim. Sorrio. Pode até ser infantil, mas estou gostando dessa pequena vitória.
Paro ao lado de Drek. Ele deixou o braço direito esticado, sem apoiar na cadeira, então acho que não vai ser tão difícil cortar a manga da sua blusa fora. O problema maior é que esse é um daqueles tecidos especiais que funcionam como uma armadura leve. Se bem que, se ele me mandou pegar essa faca, ela deve servir para cortar isso.
E só consigo pensar em um jeito.
Encosto a faca no seu pescoço, a virando até estar com a ponta por baixo da gola e com o fio da lâmina na minha direção. Posso até ter boa coordenação motora, mas tem riscos que não dá para correr.
— Cuidado com isso — Drek resmunga.
— Preocupa não, não estou pensando em te matar.
Ele solta o ar de forma sibilante, sem se mover. Puxo a faca, começando a cortar a blusa na direção do seu ombro. O tecido se rasga sem a menor dificuldade. Certo. Quero uma faca dessas para mim.
— Não estou preocupado com isso.
Claro que não, por que estaria? Eu só estou puta de raiva com ele e usando uma faca perto do seu pescoço.
Dou a volta para trás da cadeira antes de posicionar a faca de novo, agora para começar a cortar a manga. Apostos que estou sendo idiota e tem um jeito mais simples de fazer isso, mas paciência.
— Acha que eu não teria coragem de matar?
Ele balança a cabeça.
— Eu ajudei a te treinar. Você não mataria sem um bom motivo. Por mais que esteja furiosa comigo, ainda não é motivo o suficiente.
Infelizmente, Drek está certo.
Paro de cortar quando a faca se solta do tecido. Tem um corte atravessado na manga, e agora que estou olhando de perto e a luz está mais forte, consigo ver a mancha mais escura ao redor dele. Puxo o tecido solto para os lados com cuidado, antes de me abaixar para começar a cortar a partir do pulso dele, subindo.
— Se a gente estivesse em qualquer outro lugar, eu ia falar que você tomou uma facada, sabe. Pelo tamanho desse corte, daria até para brincar que foi uma espadada — comento.
— Você não estaria errada — Drek murmura.
Paro o que estou fazendo e olho para ele. Estava esperando alguma resposta do tipo "não é da sua conta" ou na melhor das hipóteses uma explicação sobre um tipo novo de arma ou coisa assim. Espadas, no Acordo? Isso é loucura. E mais loucura ainda se ele sabia disso e mesmo assim entrou naquela nave - o que estou começando a achar que foi o que aconteceu. Drek sabia que era uma armadilha. Sabia que iam ser atacados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Drekkor (Filhos do Acordo 6) - Degustação
Romance-= Primeira versão, não revisada. A versão final tem alterações =- Trabalhar em uma nave de piratas transformados em mercenários parecia uma ótima ideia para Talita. Além de viajar de graça por todo o Acordo, os mercenários estavam dispostos a lhe e...