Capítulo 6

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Olheiras haviam se tornado uma constante, ainda assim, naquela manhã Naruto se surpreendeu com a profundidade das marcas escuras abaixo de seus olhos. Estava dormindo mal havia semanas, levava horas para conseguir pegar no sono e constantemente acordava de sonhos confusos e constrangedores para não adormecer novamente tão cedo. Naquela noite, entretanto, não conseguira pregar os olhos por sequer um segundo. Revirou-se na cama, tentou todas as posições possíveis, afundou o rosto no travesseiro, contou até seiscentos e alguma coisa, mas o sono não foi o suficiente para calar o rebuliço em sua cabeça.

Sai estava agindo normalmente. O garoto tinha tanta naturalidade ao conversar com ele que chegou a imaginar se o dia anterior não teria sido apenas outro sonho infeliz, mas a mensagem ainda estava em seu celular para servir de confirmação.

–Naruto, acabou a aula – ele disse lhe dando tapinhas no braço. O loiro ergueu a cabeça assustado – Você tá apagado há duas horas.

–Ah... - ele esfregou os olhos para tentar acordar – Nossa, tudo isso? Parece que eu dei só uma piscadinha.

Sai guardou o material do outro com agilidade enquanto ele se recuperava do cochilo e sugeriu que fossem comer alguma coisa, assim Naruto teria mais energia para continuar o dia.

–Você não dormiu nada? - perguntou ao trazer-lhe um copo de café com leite.

–Não tenho dormido muito bem – ele assoprou a bebida quente e tomou um gole – Acho que eu não tenho capacidade física de ficar estudando hoje.

–Tudo bem – disse Sai com seu sorriso típico – Hoje não teve nada de muito importante, tenho certeza que dá pra estudar outro dia.

Naruto não respondeu, apenas acenou com a cabeça tomando seu café em silêncio.

–Além do mais, - continuou – você já tá acompanhando a matéria tão bem, não tem necessidade de se forçar, ninguém rende com sono. Pra ser sincero, eu não esperava que você fosse mesmo cumprir de ir todos os dias na biblioteca. Já estamos no meio do semestre e, tirando aquela vez que você ficou doente e o dia que a gente se beijou, essa é a primeira vez que você não vai.

Meses não diminuíam o assombro que Naruto sentia toda vez que Sai demonstrava sua capacidade de agir com frieza e falar de qualquer assunto com naturalidade tal como se comentasse do tempo. Tomou o conteúdo do copo de uma vez e encarou Sai transtornado.

–Como você consegue agir como se nada tivesse acontecendo?

O garoto deu de ombros.

–Coisas estão sempre acontecendo.

Naruto sentiu certa inveja da destreza do amigo em lidar com qualquer situação, tudo o que conseguia fazer quando tentava agir com naturalidade em momentos de tensão era passar a impressão de que estava com dor de estômago.

–Bom, acho que eu vou ler um pouco – disse Sai por fim – Minha companhia está te incomodando.

–N-não! É claro que não! - Naruto arregalou os olhos encabulando-se com o comentário dolorosamente honesto.

–Não se preocupe! - confortou-o Sai com seu típico sorriso- Eu não estou ofendido, nem chateado, reparei isso desde manhã e compreendo perfeitamente. Não se culpe, eu só não quero que se sinta pressionado.

Dito isso, Sai acenou e saiu para a biblioteca. Naruto pôs os cotovelos sobre a mesa e apoiou o queixo nas mãos, injuriado consigo mesmo (e também um pouco com Sai por ser tão indiscreto com as palavras). Não ficou sozinho por muito tempo, logo Sasuke chegou no refeitório e, vendo-o sozinho, jogou-se na cadeira à sua frente onde, momentos antes, estava Sai.

Caminhando Em Gelo FinoOnde histórias criam vida. Descubra agora