Epílogo

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O sol do meio-dia encontrava caminho por entre as nuvens e cortinas para inundar a sala de estar com sua luz forte. Jiraya fechou as persianas antes de sentar-se à mesa, colocar os óculos e ligar o laptop.

–Me conta mais, não aconteceu nada de interessante nesse semestre? - perguntou ao afilhado, que almoçava em silêncio no balcão que separava a cozinha do cômodo – Você sempre chega cheio de novidades, falando pelos cotovelos...

Naruto lançou-lhe um olhar hesitante e encolheu os ombros. Tinha quase certeza de que, dentre toda sua vida escolar, aquele havia sido o semestre mais turbulento de todos. Ele pousou os talheres no prato, pensativo, e cruzou os braços sobre o balcão encarando o padrinho, que digitava algo despreocupadamente. Não havia muitos prós em continuar evitando o assunto, era algo que viria à tona cedo ou tarde – e, conhecendo bem o lugar onde morava, era melhor que dissesse antes que o homem descobrisse por terceiros.

–Bem... Entrou um cara novo na minha sala, o nome dele é Sai.

–Hm.

–Ele é muito bacana, desenha bem, nós ficamos muito amigos.

–Legal.

–E... Ahn... - ele abaixou os olhos para o prato e respirou fundo, procurando manter a voz o mais natural o quanto podia – Lembra do Sasuke?

–Claro.

–A gente voltou a se falar.

–Ah, isso é ótimo! - Jiraya não descolava os olhos do computador, mas isso não incomodava o garoto. Naruto sabia que ele estava prestando atenção e, naquele momento em especial, preferia mesmo que o homem não notasse a crescente apreensão em seu olhar – Não me conformava de vocês terem brigado, vocês dois eram tão colados antigamente!

Naruto foi atentamente observando as reações do padrinho.

–Nós estamos ainda mais colados agora.

Jiraya riu.

Mais? Eu não consigo nem imaginar como duas pessoas podem ficar mais próximas do que vocês já eram.

–Tem certeza? Eu consigo pensar em um jeito...

Ele parou de digitar e ponderou por um momento antes de virar-se para o afilhado, procurando confirmação da ideia que lhe cruzara a mente com aquela insinuação. O olhar culpado, respiração densa e o morder de lábios denunciaram a intenção do garoto. Jiraya tirou os óculos devagar, encarando-o sem saber ao certo como reagir.

–... ah!

–Por favor, não fica bravo comigo – suplicou o garoto exasperado, a apreensão quase lhe travando a garganta.

–Não! Eu jamais ficaria bravo, eu só... Eu só to surpreso.

Os dois fizeram uma pausa. Jiraya pousou os óculos sobre a mesa e passou a mão na cabeça devagar, parecendo um tanto desorientado. Naruto permaneceu encolhido em seu banco num silêncio sepulcral.

–Há quanto tempo isso?

–Um mês, agora.

–E é sério? Digo... Vocês tão... namorando?

Ele concordou com a cabeça.

–Hm – o padrinho coçou o queixo, pensativo, pôs os óculos novamente e voltou a digitar – Bom, minha viagem é daqui quatro dias, então eu espero que você traga meu... ahn... genro pra jantar aqui antes disso.

Um sorriso aliviado despontou no rosto do garoto.

–Pode deixar!

–Suponho que, agora que você tem coisas mais interessantes pra fazer por aqui, você vai preferir ficar na cidade do que ir comigo, não?

Caminhando Em Gelo FinoOnde histórias criam vida. Descubra agora