Capítulo 12

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Chegou ao próprio quarto guiado por instinto, o pânico que começava a correr desnorteado por suas veias não permitia que alguma ideia racional estacionasse em sua mente. As palavras que ecoavam em sua cabeça não conseguiam ser absorvidas, o significado parecia distante e abstrato. Tão automaticamente quanto havia caminhado até o dormitório, começou a preparar-se para dormir, mas não teve a chance de fazê-lo, foi o tempo que as palavras de Sasuke levaram para chegar ao seu estômago.

Pouco depois de deitar-se, foi surpreendido por uma desesperadora falta de ar. Por mais que se esforçasse para respirar fundo, sentia que o oxigênio não chegava até seu pulmão suplicante, alimentando o pânico e piorando depressa a situação. Não bastasse a agravante dificuldade em respirar, a sensação em seu estômago foi rapidamente evoluindo para um forte enjoo. O nervosismo e ansiedade provocavam-lhe calafrios, cada músculo de seu corpo tensionava-se trêmulo como se estivesse febril e tudo o que conseguia fazer era agarrar-se angustiadamente aos lençóis, cerrar os olhos com força, procurar manter a respiração devagar e esperar, à beira do desespero, que aquilo passasse logo. Vez ou outra durante a madrugada, o mal-estar ameaçava apaziguar-se e a exaustão aproveitava a deixa para adormecê-lo, mas os pesadelos focados em nada além da situação que o atormentava não tardavam a acordá-lo num novo pico de angústia.

A madrugada parecia não ter fim. As horas simplesmente se recusavam a passar e o sono se recusava a vencer o tormento, mantendo-o num estado de consciência suficientemente lúcido para vivenciar cada tortuoso segundo que se passava, mas sonolento o suficiente para impedi-lo de reagir ou afastar os pensamentos que provocavam-lhe o infindável sofrimento.

Somente algumas horas após o nascer do sol, a luz pálida daquela manhã nublada afastou de vez o sono. A falta de ar cessou, ainda que o mal-estar houvesse permanecido por tempo o suficiente para fragilizar seu estômago, de modo que a simples ideia de comida já lhe causava ânsia. Arrastou-se para fora da cama abatido, mas não deixou o quarto. Sentou-se à escrivaninha. Continuava exausto, mas dormir estava fora de cogitação, então apanhou o celular e tentou jogar alguma coisa. Não adiantou, descobriu-se incapaz de manter interesse em qualquer coisa que exigisse algum nível de atenção. Desanimado demais para sequer erguer-se da cadeira, Naruto colocou os fones de ouvido e permaneceu sentado ali, ouvindo música no último volume e contemplando o imenso vazio que sentia.

Passada uma eternidade demasiado sufocante, houve uma batida na porta. Não escutou, visto que seus ouvidos estavam preenchidos de pop punk barulhento. Após a terceira tentativa, Sai desistiu de aguardar uma resposta e entrou no quarto sem mais cerimônia. Além da música, Naruto também estava distraído rabiscando uma folha de caderno e não percebeu o outro garoto no quarto até que este arrancou-lhe os fones.

Caralho, Sai, que susto! - exclamou levando a mão ao peito – Pelo menos me avisa que tá aqui antes de fazer uma coisa dessas!

–Eu tô tentando avisar faz um tempão – retrucou o outro impaciente – Tô vendo que você não saiu do quarto hoje o dia inteiro, né?

–Hm – respondeu-lhe sem emoção, voltando a atenção para o caderno – Por quê? Que horas são?

–Quase três horas da tarde, você perdeu o almoço – o loiro deu de ombros, apoiando o rosto sobre uma das mãos. Sai deu um suspiro pesaroso – Vai, me conta logo o que aconteceu.

–Eu encontrei o Sasuke ontem depois da janta. Ele mal olhou na minha cara, disse que não significou nada pra ele, que é pra eu esquecer o que aconteceu.

Sai franziu o cenho e sentou-se na cama às suas costas.

–Que cretino! - disse com um ar descrente. Naruto deu uma golfada de ar e largou o celular e a caneta sobre a mesa, virando-se para o outro.

Caminhando Em Gelo FinoOnde histórias criam vida. Descubra agora