Cap 8. Substituta

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A cena vista através da vitrine da Pink Blink havia sido um tremendo tapa na minha cara. Um tapa, não, um soco. Não, muito mais do que isso. Eu me sentia completamente esmagada com o que tinha presenciado e agora que o choque inicial havia passado, eu precisava lidar com os efeitos da bigorna que caíra sobre a minha cabeça.

— Eu não vou deixar você aqui sozinha — Mirana falou, decidida, depois de eu insistir para ela ir ao The Heat naquela noite. — Não importa se vou perder dinheiro, eu só não posso perder você.

— Falei na hora da raiva, eu não quero morrer — disse, aninhada na cama, já sob o efeito do calmante fitoterápico que ela me dera. Dois de uma vez.

Àquela altura eu já tinha entrado na internet em busca de mais informações sobre a namoradinha do momento. Não encontrei nada explícito sobre o relacionamento dos dois, mas tudo indicava que a primeira-dama era Emmeline Anne Bryant, a herdeira do império de chocolate da Pensilvânia. Uma pirralha sem sal, inexpressiva, uma água de salsicha de uma cidadezinha de 15 mil habitantes no cu do Judas, que ele provavelmente tinha conhecido durante um evento promocional de sua banda, patrocinado pela Bryants's Cocoa. Nunca mais eu comeria aquela merda de chocolate novamente.

— Você precisa se permitir relaxar. Feche os seus olhos, eu vou ficar aqui do seu lado — falou Mirana, acomodando-se na cama de casal. — Com o tempo você vai conseguir superar o que aconteceu.

Ela agora já sabia de tudo: como eu havia conhecido Taylor, no auge da fama dele; como fora o desenrolar do nosso namoro, com todos os términos e recomeços; nosso (quase) casamento, com detalhes da confusão do dia anterior à cerimônia; e o nosso fim. E, para mim, o fim acontecera apenas naquela tarde, com a constatação de que atualmente o meu amado tinha uma mondronga de estimação.

— Acho que nunca vou superar isso — murmurei, quase fechando os olhos, sentindo ainda mais o efeito do remédio.

— Vai sim, porque tudo passa, e tudo é substituível.

Ela estava certa; tudo era substituível. Mas por muito tempo acreditei que eu não era, que Taylor jamais seria capaz de amar outra e que cedo ou tarde viria até a mim, implorando para voltar.

Me enganei.

*****

Taylor fizera a fila andar, mas eu continuava estática. Depois do baque, passei uma semana inteira sem conseguir reagir, sete dias sem sair de casa, alternando entre a cama e o sofá, praticamente de pijama todo tempo. Era muito complicado admitir que eu tinha perdido, e pior, que havia sido eu a lhe dizer que sumisse da minha vida. Que tinha sido eu a escancarar a porta para ele fazer o que bem entendesse.

— Você não pode se entregar desse jeito, precisa reagir — falou Mirana, com a bolsa esportiva pendurada no ombro, prestes a sair para a academia. — Esse cara já aprontou, e muito, com você. Você tem que tentar...

— Como? Me diga, como? — perguntei, aflita.

— Exercícios farão bem a você. E outro homem. — Ela piscou um olho para mim, sorrindo com o canto da boca. — Mostre para esse famosinho babaca que você pode arrumar alguém melhor.

Onde eu arrumaria alguém melhor? Não havia ninguém melhor do que Taylor Hanson.

— Você está aí definhando, sem comer e sem se cuidar, enquanto o mundo está girando e as coisas acontecendo. Por que você não vem comigo para a Gymx? Depois a gente pode tomar um milk-shake... diet. Ou não. Vamos, vamos. Saia um pouco desse apartamento.

Mirana largou a bolsa no chão e veio até mim no sofá. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas novamente, e escondi o rosto entre as mãos, com vergonha de não conseguir parar com aquilo.

Depois do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora