Cap 14. Areia na calcinha

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 — Você sumiu! Caramba! Fiquei procurando um tempão. Achei que tivesse ido embora.

O inchaço do meu rosto era evidente, mas ao menos as lágrimas já haviam cessado quando Mirana me descobriu no quarto VIP, horas após Nathan ter me deixado. Eu parecia uma morta-viva, sentada no chão e debruçada sobre a mesa de centro.

— Ei, levante-se daí! — Ela veio até a mim e me puxou pelo braço, sem efeito, tentando me erguer. — O que foi que aconteceu pra você passar a noite aqui sozinha?

Mirana prestou atenção na garrafa vazia e nas duas taças de champanhe apoiadas na minha frente.

— Tem alguma coisa errada... — Ela pareceu refletir mais sobre a cena antes de voltar a me interrogar: — Quem foi que esteve aqui que a deixou desse jeito, hein? É óbvio que você tomou um porre, mas tem mais coisa aí. Ah, tem.

Muito sagaz, Mirana foi direto ao ponto. Depois de constatar minha embriaguez e abatimento e somar um mais um, não restava dúvida; alguém tinha me feito mal, e de corpo presente. Só que ela queria um nome para o suspeito e isso eu não lhe daria.

— Aqui óóó, aqui ó, o botãozinho da autodestruição. — Eu tentei levar o dedo indicador até a testa, mas com o braço desgovernado acabei derrubando uma taça sem querer. — Que-brou. Tá vendo? Minha vida é isso... Essstrago, derrota, mais baixos que dos altos... Meu lugar é aqui. — Dei duas batidinhas no chão e depois larguei meu corpo mole para trás, deitando-me no carpete.

— Se ajude, Isabelle. Levante-se desse chão imundo agora mesmo. — Ela tentou me puxar pelo braço de novo. — Nossa! Você passou muito do ponto. Vamos, diga logo quem contribuiu pra isso.

— Que diverença vaz? — respondi, com as pálpebras pesadas, enrolando a língua.

— Eu conheço bem as coisas aqui, isso tem cara de bebedeira de stripper pós-arrependimento. — Ela insistiu: — Quem foi que a deixou assim?

— Minha falta na cara... de vergonha na cara — respondi, com a voz arrastada, e virei o rosto para ela, com a cabeça latejando.

— Foi aquele famosinho babaca, não foi? Ele apareceu aqui?

Foi só ela sugerir a presença de Taylor no The Heat que comecei a salivar em excesso, sentindo o enjoo característico de quem vai vomitar logo em seguida. Lógico que um litro de champanhe derramado goela abaixo tinha sua parcela de culpa, mas nada era capaz de me deixar mais nauseada do que o maldito.

Eu nem tive tempo de comunicar à Mirana, porque foi quase instantâneo; virei a cabeça para o outro lado e coloquei para fora líquido, líquido e mais líquido. Que sorte não ter comido muita coisa no jantar, ou o episódio seria ainda mais nojento.

— Isso é um cara... um caralho de defunto! — esbravejei, mesmo ofegante pelo esforço.

— Tá bom, continuará enterrado. Esquece o que eu falei.

— Caraaaaalhooo de defun... — Eu senti o quentinho subindo de novo pela minha garganta, mas respirei fundo e depois tossi. Uma, duas, três vezes.

— Porra. Você tá mal pra caramba. Quer vomitar mais? Vomite tudo logo de uma vez.

Foi difícil segurar a ânsia de vômito depois daquele aval. As palavras de Mirana abriram uma passagem para o embrulho no estômago emergir, e eu mal consegui virar para o lado antes de ejetar mais líquido pela boca.

Uma parte caiu sobre mim e outra entre o meu corpo e a perna de Mirana, respingando um pouco no seu sapato de camurça recém-comprado.

— ¡Mierda! — Mirana reclamou em espanhol. Ela só falava assim quando se irritava de verdade. — ¡Yo voy a matar a ese hijo de puta!

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