Cap 99. Porque eu te amo

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Por que ele tinha que ser tão apressado? Será que em nenhum momento pensou que eu diria não? Eu entendia que seu amor transbordava, que Taylor queria ter a segurança de eu estar realmente ao lado dele, no entanto o afoito precisava ter pensado em mim, sufocada debaixo dos últimos acontecimentos. Um casamento, ou mesmo um noivado comigo, não o absolveria de seus problemas, e, também, não os apagaria de minha mente.

Queria muito ficar com Taylor para sempre, muito mesmo, mas precisava ser racional. Conseguia, finalmente, dosar o amor que sentia por alguém com o amor próprio e não pretendia abrir mão desse equilíbrio. Decidi pelo não, convicta de que fizera o certo, mesmo que isso tivesse machucado o coração do deus loiro perfeito. Para subirmos ao altar e assinarmos papéis, antes precisaríamos reconstruir muita coisa.

Sentei-me na cama e soltei o ar, chateada por nossa noite de amor ter acabado daquele jeito. E, como se não bastasse a dor no peito, tudo no quarto — paredes e objetos —, encontrava-se consideravelmente instável. Somente agora, que não havia muito no que me concentrar, sentia os efeitos cruéis da mistura de mojitos e margaritas com o vinho rosé, arrependida por ter bebido tanto.

Depois de olhar em volta, com a cabeça pesada e fervilhando, deixei o tronco cair para trás, de modo que fiquei com os pés apoiados no chão e a maior parte do corpo na horizontal. Deitar não melhorou em nada a minha situação. O teto rodava sem parar, as luminárias oscilavam como se ventasse, e precisei fechar os olhos para diminuir a vertigem.

Minha audição se aguçou na escuridão necessária, e, no silêncio do quarto, pude ouvir o som do piano ao longe. Taylor acabou de tocar a música que fizera para mim e logo emendou outra, de melodia tão poderosa quanto. Suas emoções mais profundas — que naquele momento não deviam ser tão boas — podiam ser sentidas em cada nota marcante, nos tons graves que se sobrepunham ao agudo de sua voz perfeitamente afinada.

Levantei-me novamente, pois não conseguiria dormir com aquele sentimento pesado no peito. Sugerira a Taylor conversarmos no dia seguinte, mas precisava ter certeza de que, apesar do pedido de casamento negado, estava tudo bem entre a gente.

*****

Desci devagar o primeiro lance de escadas, apoiando-me ao corrimão, passei na cozinha para beber um pouco de água e parei no segundo degrau da escadaria em frente ao piano, onde me sentei para observá-lo tocar de costas para mim. Suspirei, ainda bastante tonta, perguntando-me qual seria a melhor maneira de voltar a tocar no assunto do pedido de casamento. Se fosse para falar alguma coisa, que melhorasse o clima, e não que acabasse com ele de vez.

O sol não desperta para a rainha do caos
Preciso de uma razão para ele nascer
Preciso aprender a amar a semente que cresce
Parte de mim, parte de mim
Parte de mim na semente que cresce
Preciso de uma razão para ele nascer...

Não foi difícil perceber que aqueles versos se referiam à gravidez de Emmeline. Uma música inteira, triste, feita especialmente para a situação do filho indesejado.

Taylor repetiu aquela parte mais algumas vezes, testando notas e alterando algumas palavras, para que se encaixassem melhor à melodia. Era lindo vê-lo dedicando-se à sua arte, mas confesso que meu peito comprimido chegou ao limite, como se tivessem aspirado todo ar de meus pulmões. O amor de minha vida teria um filho com aquela golpista, e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso.

Concluí que não seria uma boa hora para dar continuidade à nossa conversa e, chorosa, levantei-me para retornar ao quarto.

— Ei! Venha cá. — Não consegui passar despercebida. Taylor chamou-me após interromper a música, ao ver o meu reflexo no janelão em frente à escada e ao piano. Depois de virar-se de lado no banco, com uma perna para cada lado, ele deu uma batidinha no que restara do assento. — Venha logo.

Depois do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora