Capítulo 2

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Este capitulo passa-se no dia a seguir à Lisana ter sido violada, quase como um flashback. Sempre que isso acontecer, a data volta a ser a inicial, por isso estejam atentos ao início do capítulo para não se perderem.

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Sinto-me suja

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Sinto-me suja.

E não importa quantas vezes eu me esfrego ou a força que uso: a sensação não vai embora. Está por todo o lado, cobrindo cada centímetro do meu corpo como uma urticaria que não sou capaz de espantar.

De mãos trémulas, deixo o pano cair na bacia de água quente onde estou mergulhada. Com a  visão tolhida pelas lágrimas de um choro compulsivo e incessante, os tremores das minhas mãos abertas parecem-me mais violentos do que realmente são. Mas depressa sou obrigada a fechar as minhas mãos em punho, uma vez que a imagem diante dos meus olhos é substituída por um flashback feio e sujo.

Como que convidadas pela recordação de umas mãos robustas e calejadas a viajar sobre o meu corpo, o resto das memórias vem por arrasto, inundando-me a cabeça de imagens e sensações desagradáveis: ele ao pé de mim; ele sobre mim; ele dentro de mim.

Grito de frustração e dor, tanto da psicológica mais recente, como da física que deixou resquícios que ainda não tiveram tempo de desvanecer. Quase ao mesmo tempo, uso ambas as mãos para bater na minha própria cabeça na zonas das têmporas, numa tentativa de expulsar o que me corroí a mente.

Sai. 

Sai. 

Sai! 

Sai, sai, sai, sai, sai!

De repente, noto que um par de mãos me agarra os pulsos. Assim que sinto o contacto, recolho os braços com um grito, sentindo o fogo do inferno nos pontos em que outra pele entrou em contacto com a minha. Felizmente, como o toque só durou alguns instantes, o ardor acalma em poucos segundos.

Encolhida dentro da bacia como um animal ferido, olho de soslaio para a pessoa parada de pé ao meu lado. É a minha mãe.

— Desculpa, querida — diz, com as mãos abertas suspensas entre nós. Os seus olhos estão tomados por um misto de tristeza e horror.

Abraço-me a mim própria.

Ela tocou-me outra vez... Ela tocou-me outra vez!, penso.

— Tens aí a água quente —acrescenta, apontando para o jarro que deixara a seus pés.

Quero agradecer-lhe, mas não consigo. As palavras não me saem pela boca. Como resultado, limito-me a chorar e a assentir.

— Desculpa... — sussurra a minha mãe, antes de se afastar.

Espero uns minutos dentro da grande bacia, mergulhada em água morna até ao pescoço. Quando o silêncio regressa na sua totalidade e a sensação de imundice na minha pele se torna insuportável outra vez, estico os braços para apanhar o jarro de água a ferver.

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⏰ Última atualização: Sep 29, 2022 ⏰

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O Violador de HazeltownOnde histórias criam vida. Descubra agora