Capítulo 1 - O ato de reparar

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–ah, eu to feliz com o final de peromar, disse rayssa à andré após terminarem uma das últimas cenas do casal na novela.

–também estou, não vou negar, andré completou, passando um dos seus braços pelo pescoço dela e indo em direção à saída do estúdio.

–triste pelo fim da novela né, mas com um sentimento de dever cumprido, ela disse o abraçando por trás.

–com certeza, com certeza;

ele deu um beijo na cabeça dela, desfez o meio abraço e foi em direção ao camarim masculino, enquanto ela tomava o rumo do camarim feminino.

naqueles últimos dias ela vinha percebendo andré meio diferente. não sabia como descrever esse diferente, mas não era num sentido muito bom. Seguiu pensando/torcendo que fosse algo pelo fim da novela, pois era algo que todos ali estavam mais sensíveis, e deixando pra trás alguma possibilidade de algo ruim ter acontecido.

Trocaram de figurino, respectivamente, e ele a encontrou mexendo no celular no estacionamento. Estava com uma expressão apreensiva.

–ei, achei que já tinha ido embora; ele chega falando.

–não, to aqui ainda, no caso há horas, tentando encontrar um uber, ela disse nervosa.

–deixa isso aí, eu te dou uma carona, vem! –puxou ela pelo braço.

–não!! fica contramão pra você me levar, não vou te fazer isso. – ela puxou seu braço de volta.

–rayssa, entra dentro do carro, por favor?! –disse andando e destrancando o carro que estava logo ali perto.

–andré, não precisa. é sério.

–anda logo.

–eu não vou te atrapalhar? ela perguntou se rendendo e seguindo ele que estava mais a frente dela.

–claro que não. entra logo.

o carro já estava ligado e eles logo saíram a caminho de suas casas.

–andré, sua namorada pode não gostar, você sabe que ela não vai muito com a minha cara né, se ela descobrir...

–e quem falou em namorada? ele cortou ela.

–ué, a sua, a selena gomez falsa. digo, brasileira. soltou uma risadinha.

–não existe mais namorada. falou sério, com o rosto fixo pra frente.

–como assim? ela ficou boquiaberta.

–nós terminamos.

ela não sabia onde enfiava a cara. ficou sem reação alguma, e ao mesmo tempo varias coisas começaram a se encaixar na sua cabeça, como sua mudança repentina a qual ela havia percebido, mas não comentava nada como foi dito.

–amigo, que chato. poxa, eu nem sei o que te dizer, mas se quiser conversar, eu to aqui, você sabe. –fez um carinho no seu cabelo. –eu percebi que você estava meio diferente mas não sabia o que era; pensei que fosse algo pelo fim da novela e tudo mais, mas agora tudo se encaixou.

–eu estava guardando isso pra mim ou pelo menos tentando guardar e não transparecer tanto para as pessoas, no caso não deu muito certo. –ele deu um sorriso de canto de rosto.

–eu te conheço querido. eu sei quando você tá bem e quanto está mal. sei quando você tá nervoso ou ansioso por alguma coisa.–ela disse olhando pra ele.

–mentira sua, não sabe nada.

–claro que sei andré, a gente vive junto. sorriu.

–então como eu sou nervoso? –ele perguntou querendo a testar.

–quando você tá nervoso, fica toda hora mexendo no cabelo e passando a mão no rosto. quando está ansioso, você fica elétrico, mais do que eu.

ele ficou pasmo em ver o quanto ela reparava nele. e ao mesmo tempo todos os pensamentos dele também eram do como ela era em determinadas situações.

–você também, tu acha que eu não sei como você é?

–ah sabe é?! como eu sou então? ela perguntou rindo.

–quando você está apreensiva, fica toda hora levantando a sobrancelha esquerda e e quando ta nervosa, vira os olhos. aí, tá vendo?!

e dessa vez quem ficou impressionada em como ele reparava nas coisas, foi ela. nunca imaginou que ele perceberia coisas que nem ela mesma um dia percebeu.

-mas enfim, voltando ao assunto, terminamos já fazem duas semanas.–ele continuou.

–jura? ela realmente ficou surpresa, pois eles não haviam excluído nenhuma das suas fotos juntos e nem mesmo deixado de se seguir nas redes sociais, como faziam quando tinham alguma briga.

–sim. não estava dando mais. eu já estava no meu limite.

–você quem terminou?

–sim. Desde o começo quando eu entrei pra esse mundo da arte, ela era meio contra. De início não me deixava fazer peças onde eu tinha pares românticos e todas as que eu tive, ela detestava.

–sei bem como que é. –ela disse se referindo ao dia em que sua namorada, agora ex namorada, a destratou numa festa que estavam juntos. –desculpa. continue.

–quando eu fui fazer o teste pro Márcio ela foi totalmente contra e nós tivemos uma briga feia. eu sentei pra conversar com ela porque ou ela me aceitava daquele jeito ou o nosso namoro terminava ali mesmo. Dai ela se redimiu e disse que iria me apoiar independente de qualquer coisa. Que iria segurar a onda com relação ao ciúmes, enfim. E ela até que estava se saindo bem sabe?! até o momento de começarem as cenas do Márcio com a Pérola pra ela surtar de novo. Novamente se redimiu, mas não assistia um capítulo da novela, o que sempre me doeu, porque poxa, é o meu sonho sabe?! o meu trabalho e ela desmerecendo o que eu fazia.

Ele dizia enquanto dirigia e com expressão séria.

–E isso se repetiu por varias vezes, a ponto de eu conseguir me sentir bem só quando estava sozinho na minha casa ou com você gravando.

A palavra "você" deu um choque internamente na Rayssa. –Ele parou de se sentir bem com a própria namorada, e começou a se sentir bem comigo? ela se questionava. –Não ele quis dizer vocês, a galera toda, deve ter falado errado sem perceber. pensou.

–ela quase não saia lá de casa e consequentemente eu também não podia sair. não postava quase nada nos stories porque a minha rotina era essa. Gravação durante o dia e depois Japa e Netflix. Quase não saia com você, com a galera toda sabe?! e eu sentia falta disso.

e novamente o "você" foi citado por ele e ela tentava pensar como antes, falou errado sem perceber.

–a galera sempre comentou sobre isso, de você quase nunca sair com o povo todo. –ela quis frisar bem o "povo todo"

–pois é, mas enfim, eu decidi por um basta porque o amor já não existia mais. eu percebi que eu apenas aturava ela. me acomodei, me acostumei e me deixei levar por isso achando que ainda a amava, mas cheguei à conclusão que não. não há mais amor.

REVIRAVOLTASOnde histórias criam vida. Descubra agora