Profano

CAPÍTULO 1 - PADRE ALESSANDRO

Ligo o notebook pela décima vez. Estou receoso, mas preciso tirar a prova, antes que a incerteza me consuma. E se há duas vertentes que não convergem são a fé e a dúvida.

Toco o crucifixo de ouro que carrego no pescoço, presente da minha mãe. Agarro aquele símbolo religioso de muitos e o aperto entre os dedos, com a mão em punho. Persigno-me.

Fecho os olhos, respiro fundo e digito na Internet: Web-Chat, o meu nick-name é Cordeiro40. Entro e fico em silêncio há vários dias, sou um mero observador. Hoje eu decidi interagir porque não suporto mais o incômodo da dúvida. Escolho uma sala popular com o tema sexo e o nome Fetiches.

Pelo horário, duas horas da madrugada, está bem silencioso, achei que seria mais movimentado. Digito um tímido "oi". O cursor do teclado pisca na tela...

Bocejo meio sonolento quando vejo um "oi" em resposta.

Não sei se repondo. Peço esclarecimento divino para o próximo passo.

Os meus dedos tremem.

Digito novamente: "Oi".

A resposta é divertida:

Gale26 diz: Você está vendendo planos da telefonia Oi?

Solto uma risada. Isso é bom, me ajuda a relaxar um pouco.

Analiso a foto que o rapaz colocou em seu perfil. É um garoto. O nick-name é Gale26. Bem bonito, por sinal, mas é muito jovem. Tem cara de surfista, cabelos loiros, curtos e arrepiados, olhos azuis expressivos, em um rosto firme, emoldurado por uma barba espessa. A pele é clara e posso visualizar sardas no nariz dele. Amplio a foto e vejo que realmente não passa de um garotão, talvez um desses rapazes turbinados pela academia. Mas o olhar me prende por um momento.