CAPÍTULO 8 - EVA

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Acordo, mas tenho a mente ainda confusa pelos sonhos loucos. Lembro-me da época em que trabalhava na indústria pornográfica, na Europa. Quantos filmes eu fiz e quão pouco dinheiro recebi por eles. Ficaram apenas as lembranças amargas e uma imagem manchada pelo resto da vida.

Era tratada como lixo. Às vezes, passava o dia filmando, como uma máquina. Não parava nem para comer. E tinha que aguentar coisas reais, que me feriam e me humilhavam. Homens enormes que não tinham cuidado, grupos de homens que se divertiam em me causar dor e constrangimento. Tapas de verdade... E não posso colocar a culpa no tráfico de mulheres, como muitas que vi por lá.

Eu escolhi essa vida. Optei por me enfiar no buraco e me soterrar. Vida que me afetava, tanto emocionalmente quanto fisicamente. Já quis morrer pela vergonha, por causa de tudo isso.

Não gostava de fazer cenas vestidas de colegial. É um fetiche, eu sei. Mas, na vida real, essas roupas são usadas por crianças. Então, não me parece uma brincadeira muito saudável ou correta. Me sentia horrível por fazer também cenas de violência e submissão. Não pela atitude dominante do homem, que dependendo da forma, pode até ser divertido. Mas sempre haverá um idiota que vê o filme pornô, chega em casa e bate na esposa porque acredita que deve ser assim, mesmo fora de um contexto consensual.

Pois olhe, visse! Não há nada de errado em gostar de pornografia. Sexo é sexo, e foi feito para ser divertido e prazeroso, mesmo que envolva fetiches estranhos. O problema é tudo que está por trás, envolvido com essa indústria. Sequestro de mulheres, prostituição, tráfico de entorpecentes, agressões... e até morte. É claro que não posso generalizar, mas tem muita coisa errada nesse meio.

Quando consegui retornar ao Brasil não tinha mais o que fazer e nem uma merreca de tostão no bolso. O meu rosto era uma figurinha carimbada na Internet. E todos me conheciam pelo nome de guerra. Então, o jeito foi voltar a me prostituir, muitas vezes por uma quantia ridícula, simplesmente porque tinha fome.

Já ganhei muito dinheiro com a prostituição, sim, e não soube usar com sabedoria. Imaturidade da peste! Me sinto uma marmota quando penso nisso. Agora, para esse trabalho, sou considerada velha. E tudo que posso fazer é seguir o curso que a vida tomou.

Mas eu não me entrego fácil à tristeza. Ainda acredito que algo de bom acontecerá.

Saio da cabine e vou direto para o cockpit. Encontro Alessandro velejando rumo ao alto mar. Não encontro palavras ou elas simplesmente não saem dos meus lábios.

O homem já é bonito por natureza, alto, ombros largos, estrutura grande, lábios carnudos e extremamente sensuais; mas consegue judiar das mortais se vestindo como agora.

Com a mão firme no leme e o olhar perdido no horizonte, ele não percebe quando me aproximo. Isso é bom, porque eu ganho tempo suficiente para admirar um pouco mais da tela pintada por Deus que está em minha frente.

 Isso é bom, porque eu ganho tempo suficiente para admirar um pouco mais da tela pintada por Deus que está em minha frente

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