01 - Visões - Parte 03

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Sentiu frio e apertou os braços junto ao seu corpo. Não conseguia enxergar além de seu corpo, pois, por mais incrível que parecesse, era o único lugar que tinha luz. Tentou se mover, mas o lugar em que estava não era constituído de qualquer espaço sólido em que ela pudesse se apoiar ou botar seus pés. Ao longe, uma luz fraca começou a brilhar. Aumentava gradativamente conforme se aproximava de Alice. A garota notou que abaixo de seus pés um solo longínquo foi se tornando perceptível. Então todo o lugar ficou visível.

Viu o porquê de não haver nada onde pudesse pisar. Estava voando. Um vento calmo agitava seu uniforme escolar. Uma saia preta abaixo dos joelhos e uma camisa social com o emblema e o nome de seu colégio do lado esquerdo. Uma coruja cinzenta estendia suas asas e repousava sobre um elmo azul, à frente do logotipo estava bordado: "Colégio Atena". Com um olhar mais atento, percebeu que estava sobrevoando a sua cidade.

Nuvens projetavam uma sombra fresca na cidade. O sol aquecia a cidade suavemente. Seus cabelos dançavam conforme flutuava. Decidiu aproveitar a situação. Sempre imaginou como seria voar e, agora, ali estava ela. Impulsionou seu corpo para frente e rapidamente se estabilizou no ar. Pensou em como voar era a melhor das sensações.

Nesse momento ouviu alguém pronunciar seu nome, uma voz calma e melodiosa. Tentou reconhecer a voz, porém, não sabia a quem pertencia. Já sobrevoava a Av. Coronel Acácio Piedade, quando viu seus amigos e Alex saindo da sorveteria. Decidiu descer e ir ao encontro deles. Com medo de que alguém a visse tentou escolher o melhor lugar para descer.

No entanto, não conseguia pousar. Seus esforços eram todos em vão. Começou a ganhar altura. Subiu cada vez mais alto, o céu começou a se tornar negro como a noite. Ventos assobiavam e sacudiam as árvores da avenida lá embaixo. Nuvens espessas de tempestade começavam a se formar no firmamento.

Trovões ressoavam e raios cortavam o céu. Alice olhou para baixo. As casas não passavam de borrões indistintos, os carros e as pessoas mais pareciam formigas em um formigueiro. Novamente aquela voz feminina chamou por seu nome. Então tudo silenciou. Seu corpo começou a ficar mais pesado. Agora ela não conseguia manter-se firme no ar.

Começou a cair. O chão ficava cada vez mais perto. Seus olhos se encheram de lágrimas. Seria seu fim, não sobreviveria a uma queda dessa proporção. O cruzamento da Rua Mário Prandini com a Av. Coronel Acácio Piedade seria o local que poria fim à sua vida. O imenso tapete negro estava a poucos metros de distância.

A única palavra que conseguiu dizer foi... Alex! Abriu seus olhos com seu irmão olhando fixamente para ela. Seus fones haviam caído de seu ouvido. Olhou para fora e viu que estavam parados na rotatória que dava acesso à saída de Itapeva. Seu irmão tocou em seu ombro.

— Alice, você teve algum pesadelo? — perguntou.

— Talvez, por quê?

— Você sussurrou meu nome, enquanto estava de olhos fechados.

Alice desviou sua atenção para a paisagem que passava rápido do lado de fora do veículo. Sua avó morava em uma chácara fora da cidade. Perguntou-se como sonhou tudo aquilo em tão pouco tempo. Uma sensação estranha percorreu seu corpo. Sentiu seus pelos se agitarem. Olhou para Alex e negou. Apoiou sua cabeça no vidro e suspirou. O céu começava a exibir estrelas em alguns pontos mais escuros.

A noite chegava rapidamente. Após alguns quilômetros, Alberto adentrou uma pequena estrada de chão batido. À sua frente, uma porteira exibia um letreiro: "Família Demerwick". Alex desceu do carro e abriu a porteira para que seu pai pudesse passar com o carro, que estacionou próximo a um quiosque. Alice olhou para a grande casa de sua avó. As janelas maiores do andar de baixo estavam iluminadas, luzes coloridas piscavam em uma janela próxima da porta.

Alice e o Templo ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora