03 - Ingredientes e Misturas - Parte 02

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As duas desceram o segundo bloco e foram para seus respectivos armários. Catherine olhava incisivamente para sua amiga, que ameaçava escapar dela.

— Nem pense em fugir garotinha — disse Catherine meio rindo e séria. —, vai me contar tudo agora mesmo.

— Ah, tudo bem, não tem como esconder nada de você mesmo — falou Alice sorrindo. — Eu fui para a casa da vovó esse fim de semana, certo?

— Não é novidade. Prossiga — falou girando a mão e batendo os pés no chão.

— Calma. Nós fomos ao vale. Voltando de lá...

Catherine ficou de boca aberta com a história que Alice acabara de contar. Fazia uma cara de incrédula e ansiosa ao mesmo tempo. Também estava querendo ver se ia dar certo o que Alice propunha. Viram Otávio e Alex se aproximando e mudaram de assunto rapidamente. Os meninos não deram atenção para o nervosismo das duas e foram olhar as garotas no campo de futebol. Naquele momento acontecia a seleção do time de vôlei. Elas se certificaram de que era seguro voltar a falar sobre o que estavam conversando.

— Alice, será que isso vai dar certo? — perguntou Catherine.

— Não saberemos se não tentarmos — sorriu Alice.

— Ai... E agora como vou resistir? — choramingou Catherine.

— Credo, resistir a quê? — questionou Alice.

— Olha só no relógio. — Exibiu seu relógio de pulso. — Ainda faltam seis horas pra sairmos.

— Nossa, que relógio fantástico! — elogiou Alice, sua intenção era mais precisa em distrair sua amiga que começou a pular no corredor.

— Não é? Comprei em uma lojinha nova que abriu no calçadão. Você precisa ir lá é fenomenal — falou enquanto caminhavam para a sala de aula.

Alice seguiu ouvindo sua amiga tagarelar sobre a nova loja, mas estava na verdade com os pensamentos direcionados a outro lugar. Cogitava se faria mesmo aquela experiência do sonho ou se não era apenas uma bobagem e deveria esquecer. Também pensou nos sonhos que andava tendo. Por mais que quisesse não conseguia deixar de pensar nisso. Isto a fazia se sentir estranha.

Ainda tinha aquela mesma sensação de que alguma coisa aconteceria. Sorria cada vez que via sua amiga tropeçando nos pés, ficou ainda mais satisfeita ao ver que conseguira desviar a atenção de Catherine. Por vezes ela ficava em silêncio e tentava se lembrar de algo, porém Alice pedia que ela prosseguisse com o que estava dizendo a fim de evitar uma crise compulsiva de Catherine.

O fim das aulas não demorou a chegar com as intervenções de Alice, as meninas pegaram alguns materiais na biblioteca para fazerem o trabalho de História e saíram. O motorista de Catherine, um rapaz alto e forte de cabelos pretos e cavanhaque, estava parado encostado no carro da família Portinelli. Um Honda Civic preto que brilhava com o sol. Ele observava os alunos que saíam aos montes. Abriu a porta de trás ao ver as meninas se aproximando.

— Oh meu Deus! — disse Alice parando repentinamente.

— Ai amiga, o que foi? — Catherine correu até sua amiga.

— Que cara mais lindo — disse apontando para o motorista. — Pelo amor de tudo e de todos Catherine, diga que ele não tem namorada.

— Não Alice, ele não tem namorada — riu Catherine.

— Ai graças aos céus. Não sou sem-vergonha, mas vou me apresentar e....

— Tem namorado!

— O que disse? — Alice parou vendo Catherine cair em risadas.

— Ele não tem uma namorada, por que tem um namorado. Ele é gay, minha querida.

— Onde? Quando? Como? Por quê? — dizia Alice atordoada e Catherine ria da situação.

— Olha sei o quanto é difícil. Pra mim também foi, choquei quando soube. Ele é muito gato, não é? — comentou Catherine puxando ela para o carro. — Vamos, temos de ir pra Itapê ainda.

Alice entrou no carro desolada, seguida de Catherine que se divertia bastante com a situação. Observou o motorista entrar no carro e dar a partida. Abaixando a cabeça inconformada pegou o celular e mandou uma mensagem para Alex, avisando aonde iria e que horas provavelmente chegaria. Pensou bastante e ocultou "aonde" iria, apenas disse que estava saindo com Catherine e que demoraria a chegar. Isso se não dormisse na casa dela.

Recebeu uma mensagem de confirmação dele e um emoji de "joia", indicando que estava tudo bem. Ajeitou o cinto e colocou sua mochila junto a ela.

— Pé no acelerador Silas — disse Catherine. — Vamos pra Itapê como combinamos, o.k.?

— Certo, Srta. — disse o motorista acenando com a cabeça e olhando pelo retrovisor.

— Ai que voz linda — sussurrou Alice para Catherine que riu e concordou.

— Realmente.

Itapetininga se localizava a algumas horas de Itapeva. As meninas resolveram tirar um cochilo até chegarem ao seu destino. Alice mal fechou os olhos e sentiu um vento gelado soprar em sua direção. Ao abri-los se viu flutuando sobre o vazio. Uma imensa escuridão estava ao seu redor. Ela ouvia o vento assobiar por todo o lado. De repente uma voz suave começou a cantar. Vinha de todo lado.

Era a voz de uma garota e cantava uma bela canção, apesar de Alice não poder entender que canção era aquela. A jovem parou de cantar. À frente uma silhueta surgiu em meio a um brilho fortíssimo. A forma curvilínea indicava que era de uma garota. Ela caminhava lentamente. "Alice, está muito perto de nos vermos... novamente." disse a jovem. A garota não era estranha para Alice. Pois tinha a certeza de que já havia a visto antes, embora não pudesse se lembrar de seu rosto.


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Alice e o Templo ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora