04 - O Circo e o Dom - Parte 02

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A quarta-feira amanhecera com uma neblina forte, o frio se aproximava e todos se sentiam preguiçosos. A aula de Língua Portuguesa estava começando a ficar entediante, Catherine e Alice estavam piores que os garotos, estavam quase desabando na mesa de tanto sono. Era de se esperar, foram dormir muito tarde. Alex jogou um papelzinho em Alice. "Hei mana, o que aconteceu?" Alice pegou seu lápis preto e começou a escrever. "Fomos dormir muito tarde". Ele leu a mensagem de sua irmã e escreveu novamente "coisas de meninas, só pode". Ela olhou o papel, mas não escreveu novamente, apenas acenou com a cabeça e imitou Catherine que havia debruçado sobre os livros e começado a cochilar, apenas certificou-se de que a professora estava distraída para não notá-las.

— Vamos acordar princesas — disse Otávio parado à frente das duas.

— Hã, o quê? — Catherine levantou sua cabeça, olhando de um lado para o outro, meio desorientada.

— A aula já acabou e Itapeva foi dominada por zumbis — gritou Alex, as duas meninas deram um pulo das cadeiras, assustadas.

— Seus imbecis — falou Catherine mal-humorada ao ver os garotos rindo descontroladamente.

— Nossa, rir assim não é fácil não é Otávio? — disse Alex.

— Com certeza — concordou. — Mas falando sério, enquanto vocês esperavam o príncipe chegar para acordá-las, uns artistas vieram na escola e nos disseram que vão montar o circo no Jardim Maringá e ele vai ficar aqui esse fim de semana, estão a fim de ir?

— Mas é claro — disseram juntas.

— Certo então, vamos embora — falou Alex.

Eles saíram da sala e ficaram no pátio resolvendo alguns cálculos e desenhando mapas. Com sua voz ampliada pelo megafone Rebecca expulsava do estádio uns garotos do sétimo ano, onde as meninas continuavam com os testes para o voleibol feminino. Alice lembrou-se que ela havia sido avisada, chamou Catherine para ir dar uma olhada nos grupos desse ano. Desceram as escadas que dava acesso ao estádio de futebol da escola.

Várias pessoas estavam sentadas nas arquibancadas, desde garotos que estavam ali para observarem as garotas de uniformes, até garotas que tinham vontade de se tornarem grandes jogadoras. Rebecca estava aflita. Corria de um lado para o outro, organizando grupos de meninas que eram capazes de realizar (ou, pelo menos, tentar) algumas das técnicas.

— Já falei pra tirarem esses moleques chatos daqui! — gritou Rebecca com alguém no estádio. Duas garotas muito fortes vieram rapidamente e se encarregaram de retirar os garotos que saíram aos protestos.

Rebecca Lauren estava trajando um uniforme preto com o nome da escola em laranja e vários detalhes na camisa e saia em cinza. Seu cabelo estava preso num coque e seu olhar era severo e parecia extremamente zangada. As garotas que ela reunira pareciam desconcertadas e deslocadas, Rebecca soou um apito vermelho e pediu que as meninas começassem com o treino.

Uma garota baixinha lançou a bola para o alto e a acertou num saque. Outra de cabelos compridos e presos num rabo de cavalo tentou deter a bola, mas acabou se desequilibrando. Bem que quis se apoiar em uma de suas parceiras, mas caíram as duas no chão. As demais pareceram perder todo o foco do que estavam fazendo e correram atrás da bola. No fim, duas cabeças se colidiram e dois corpos se chocaram de uma forma bem violenta. Alice e Catherine deram risadinhas. Chegaram próximo à Rebecca que ajudava as meninas a se levantarem e anotava algo numa prancheta rosa com um adesivo da escola. Ela notou a presença das duas e foi até elas.

— Dia difícil? — perguntou Catherine.

— Nossa você nem faz ideia! — exclamou Rebecca ofegando. — Oi gente, vieram fazer os testes?

— Não, ainda não. Viemos ver como anda o processo de seleção e se precisaria de ajuda.

— Ai, obrigada, ajuda é o que mais necessito nesse momento, mas vocês não terão aula daqui a pouco?

— Uma de Literatura Brasileira, mas a professora não veio. — Catherine ergueu as mãos para o céu agradecendo.

Rebecca aceitou a ajuda delas e passaram o resto das aulas organizando os grupos, ao final cinco garotas foram escolhidas e aquelas duas que bateram cabeça contra cabeça foram parar na enfermaria com sangramento nasal. Enquanto juntavam as bolas e objetos espalhados pelo gramado, Alice sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo todo. A mesma sensação de déjà vu voltou a surpreendê-la. Ela olhou para os dois lados do estádio.

Olhou para as arquibancadas tentando reconhecer o que seria. Como a sensação passara, ela continuou a auxiliar Rebecca com os artigos de educação física. Ela se surpreendeu com a quantidade de coisas que tinham na escola. Elas e mais duas garotas carregaram as enormes caixas até o vestiário feminino sob a arquibancada. O escritório de Rebecca estava bagunçado, blocos de papéis estavam espalhados por sobre a mesa.

Na parede tinham quadros sequenciados com várias garotas, todas capitãs do time de vôlei. Alice seguia contando os quadros e tinha no mínimo uns vinte e datavam da abertura da escola. O mais recente obviamente era o de Rebecca. Ela apoiava as mãos na cintura e sorria firmemente. Seus cabelos estavam trançados e caíam à frente de seus ombros, pareciam cordas de ouro unidas. Com a indicação de Rebecca as meninas puseram as caixas perto de sua mesa.

— Bem, meninas, sejam bem-vindas ao meu escritório. Está um pouquinho bagunçado, mas vou arrumar tudo até a noite — falou e num sussurro ela prosseguiu. — Não costumo ser assim, são os treinos.

— Tudo bem — falaram Alice e Catherine rindo.

— Vou ficar esperando vocês duas para se "alistarem" — Rebecca soltou um sorriso ao fazer aspas com os dedos.

Sorrindo e prometendo pensar no assunto elas saíram. Voltando ao encontro de Otávio e Alex que estavam dormindo sobre grossos livros de geografia. Elas se olharam e riram, Catherine tirou uma foto dos dois, que babavam ingenuamente, com seu celular rosa. Alice sacudiu-os pelos ombros fazendo-os despertarem. Eles levantaram aturdidos e limparam os rostos molhados, as garotas riam enquanto guardavam seus materiais e seguiam para o armário.

Eles jogaram os livros dentro de suas mochilas e correram para alcançar as meninas. Catherine deu uma carona para seus amigos, percorriam as ruas de Itapeva conversando e rindo, o que faziam frequentemente. Otávio desceu em frente a uma casa de três andares branca, dois cachorros da raça labrador corriam um atrás do outro no jardim, um tinha a pelagem castanho e o outro era todo preto, com exceção do olho direito que era rodeado por pelos brancos; ele despediu-se de seus amigos e correu portão adentro despertando a atenção dos cachorros que começaram a correr atrás dele.

Eles seguiram para a mansão Demerwick, Alice cochichava algo para Catherine que ria descontroladamente, Alex percebeu que ela falava e olhava para Silas, que mantinha sua total atenção no trânsito. Silas estacionou o carro e os dois desembarcaram, Alex entrou rapidamente.

— Se você souber se de algo me avise — falou Alice piscando para Catherine.

— Ah, claro — olhando com o canto do olho para o banco da frente. — Mas acho que vai ser meio difícil, as duas partes são magníficas.

— Enfim, até mais — despediu-se.

— Enfim, até mais — despediu-se

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Alice e o Templo ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora