Os quatro amigos não diziam uma palavra sequer. Fitavam o grande pote de pipocas que esfriava lentamente. O relógio da sala tiquetaqueava e Otávio batia com os dedos na mesa acompanhando-o. Alice evitava os olhares de seus amigos. Os gases do refrigerante nos copos emitiam um ruído, que no completo silêncio, se tornavam irritantes. Alex inclinou-se para que seu olhar encontrasse o de sua irmã. Seus olhos estavam vermelhos ainda de tanto chorar durante a madrugada. O que estava acontecendo com ela? Sonhos estranhos, sensações que nunca sentira e agora isso? Não teria certeza do que tinha acontecido se não tivesse seus amigos para testemunharem.
— Alice. Acho que precisamos conversar seriamente — disse Catherine.
— Eu... Eu não sei o que dizer.
— Apenas tente — sugeriu Otávio.
Alice não conseguia encontrar as palavras necessárias para explicar o que havia ocorrido naquela rotatória na noite passada. Uma de suas últimas lembranças fora ver Alex ser atingido pelo caminhão. No entanto, isso não aconteceu. De forma surpreendente ele fora levantado no ar e jogado próximo a grande paineira que havia naquele jardim.
E o caminhão que o atingiria teve a sua parte frontal totalmente destruída e fora parar ao lado do posto de gasolina. A polícia e o corpo de bombeiros, que foram acionados por um dos frentistas do posto, afirmaram ter sido um duto da rede de esgoto que explodira devido a uma pressão irregular, após um diagnóstico da companhia de saneamento de esgoto da cidade.
Mas Alice sabia que não fora isso, pois Alex estava sem ferimento algum em seu corpo. O motorista do caminhão também não sofrera com a explosão. Ele saiu do caminhão apenas confuso com o que acontecera. Alice tinha um palpite, mas era loucura o que ela estava imaginando. Ela se preparou para falar, porém fora interrompida pelos toques dos celulares de Otávio e Catherine, seus pais haviam ligado pedindo que retornassem para casa.
Eles levantaram-se incomodados, queriam estar ali e resolver essa questão. Alex os acompanhou até a porta. Voltou e sentou-se de frente para sua irmã. Ele também queria explicações e que fossem mais claras e concisas. Já havia um tempo que ele andava preocupado com ela e agora mais do que nunca faria de tudo para protegê-la e defendê-la.
— Vamos, pode falar — disse ele cruzando os braços e ficando sério.
— Bem. Lembra-se dos sonhos que eu andava tendo? — disse ela ajeitando-se na cadeira.
— Sim, o que isso tem a ver?
— Uma noite eu sonhei que estava na Inglaterra, ou coisa parecida e comecei a flutuar dentro de um quarto no meu sonho. Comecei a voar e houve um desfecho. Quando acordei meus móveis estavam revirados, eu estava deitada perto do closet e meu cobertor e travesseiro tinham ficado presos no teto.
— Alice, mas que relação isso tem com ontem à noite.
— Eu... Eu acho que posso mover objetos com o pensamento.
— O quê? Alice, não me faça pensar que você está maluca.
— Claro, como da vez em que eu estava tendo sonhos e vendo coisas não é mesmo? — gritou.
— Alice, por favor, fique calma — disse ele.
— Não, acha que é fácil você ouvir de uma pessoa que ama que está ficando louca? — ela estava com lágrimas nos olhos e tremia.
— Alice, por favor...
— Já chega Alex! — gritou. Um estrondo e todos os móveis da sala levantaram-se do chão. Alex levantou-se de sua cadeira ao ver aquilo, olhou assustado para sua irmã. Alice confusa subiu os degraus correndo e trancou-se em seu quarto o resto do dia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Alice e o Templo Elemental
FantasyDuas coisas ocupam a mente de Alice: os sonhos estranhos onde uma voz lhe chama e o fato de seu irmão não acreditar nela. Isso muda quando os dois, acompanhados de amigos, fazem uma visita à chácara de sua avó. Alice se vê obrigada a confrontar uma...