Capítulo III - Será?

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Meados de dezembro, a manhã fria trazia sopros gelados ao rosto de Andrea que caminhava a passos largos até o jornal. 7:00 a.m. e lógico que ela já deveria estar lá, mas exagerou no vinho e nas conversas com Doug na noite anterior. Aos finais de semana, era assim que ela vinha arranjando distrações. Durante a semana, jogava a cabeça no trabalho, fazia curtas viagens intercaladas e escrevia matérias sobre estas na madrugada, pondo em prática uma nova paixão: o fotojornalismo.

No último ano, Andrea tinha se dedicado a unir duas paixões e uma nova vontade louca de liberdade que acreditava ser possível alcançar sendo freelancer. Vinha fazendo uma série de textos relacionados ao envelhecimento e às diversas maneiras de se enxergar a beleza advinda da passagem dos anos. Da mesma forma que conseguia tratar sobre a indústria alimentícia, a busca pela estética perfeita e exacerbada, da utilização de medicamentos paliativos a drogas mais pesadas e que influenciam negativamente e positivamente na vida daqueles que tentam burlar a passagem dos anos ou aceitá-los de maneira tranquila, sem abrir mão de cremes faciais dos mais acessíveis aos que lhes arrancam milhares de dólares na esperança da pele perfeita.

Os retratos e autorretratos eram essenciais neste projeto e Andy conseguia captar a essência dos cidadãos comuns que lhes dispunham as suas histórias, das mulheres de meia-idade e até das mais novas que já se submeteram ou que ainda se submetiam a procedimentos estéticos recorrentes. Andy conseguiu reunir uma série de textos sobre crianças e adolescentes que em algum momento precisaram ou precisam de cirurgias plásticas para a manutenção de uma vida saudável ou mais "normal" na escola, entre os colegas, em razão de formações genéticas pitorescas, e na forma que tais procedimentos influenciam em suas vidas e em seus comportamentos no meio social, através de seus próprios depoimentos e depoimentos de pais e familiares próximos, com fotografias vívidas da maior quantidade de pessoas possível. Como todos envelhecem um pouco nessa luta e como envelhecem de maneira única!

Durante esse ano produtivo, após conseguir publicar artigos em jornais e revistas expressivos, até na Vogue saiu uma pequena nota em referência a um artigo seu publicado do The New York Times (à essa altura Andy estava radiante por seu trabalho duro estar sendo reconhecido) e ainda atingiu plataformas digitais por trabalhos voltados ao público jovem que, de alguma forma, se interessam por tais problemáticas. Andy foi convidada diversas vezes a dar palestras em cursos medianos sobre como inovar em um ramo tão tradicional através do fotojornalismo.

O que Andrea não sabia é que havia mais por trás de sua ascensão, além de seu trabalho duro e renúncias às possibilidades de iniciar novas etapas em sua vida romântica quase inexistente. Seu maior choque não foi por ser freelancer pelo Washington Post e o NY Times, mas principalmente por ver seu nome citado na Vogue, revista rival à que antes era seu antigo trabalho. Trabalho este que lhe remetia a uma pessoa em particular que ela tanto evitava pensar. Durante os seus cafés e drinks com Nigel, o diretor de arte sempre arranjava uma forma de citar o nome da mulher mais velha, formas de informar à Andy como ela estava e como estava se dedicando religiosamente às suas gêmeas. Andy desviava de todas as tentativas de Nigel, mas no fundo ardia de curiosidade sobre como estava a vida da mulher e como ela estava lidando com tudo sozinha, mas isso ela jamais diria em voz alta.

Após um dos rápidos almoços que teve com Nigel mês passado, passou-se uma conversa estranha e, por algum acaso, ela agora se lembrava:

Flashback ON ________________________________________

– Algum próximo projeto em mente, Six? – Nigel lhe pergunta de supetão e logo abocanha pedaço considerável do sorvete de Andy.

– Sim, estou com algo em mente. Mas, por enquanto, prefiro deixar em off e me dedicar ao Mirror nesse período de descanso. – disse enquanto caminhava com o amigo a caminho da Elias-Clarke, onde iria deixá-lo.

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