Capítulo VI - O que te pertence?

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No táxi a caminho de casa, Andy foi refazendo cada instante da estranha interação que tivera com Miranda. Estranhamente ela não queria pensar em incompletudes, no que não aconteceu, ela queria focar em palavras ditas e tentar extrair das expressões da mulher alguma fagulha que clareasse suas ideias. Isso a fez pensar em Nate. A mulher mais velha tocou no nome dele e, agora, pensando bem, ela tinha razão.

Andrea e Nate não haviam tido nada em comum além dos planos outrora feitos em Ohio. Seria um tanto egoísta, porém sincero, admitir que ter continuado o relacionamento com ele havia sido por costume, por estar acostumada a alguém que lhe passava confiança ou alguma lembrança de casa. Mas de alguma forma isso também acomodava Andy pois continuava a mesma garota ingênua que saiu de Ohio para tentar a vida de jornalista em Nova Iorque, uma cidade janela para o mundo e que lhe parecia um baú de possibilidades. E, pensando melhor ainda, ela já tinha esse desejo de mudar e foi corajosa ao fazê-lo, seja com Nate ou sozinha. Nate nunca foi um cara ambicioso ao ponto de não imaginar limites para sua carreira. Ele só tinha uma meta e havia alcançado. Irônico. Inimaginável pensar em satisfação agora, nem profissional ou mesmo pessoal. Esta segunda estava longe de acontecer.

As pessoas mudam. Isto é fato. As pessoas mudam à medida que os instantes passam, ela tinha noção do quanto mudou, do quanto estava mudando. A garota de Ohio encontrou a mola propulsora de sua vida há vários meses, e meses atrás ela nem imaginava o quanto mudaria. Isso foi ficando claro pra ela pelos encontros "amorosos". Encontros fugazes que não supriam nada mais que necessidades físicas. Nunca retornou contato a nenhum dos números que recebeu, não havia razão, conexão, nada que a fizesse querer ultrapassar a linha do casual.

Agora, já no sofá de seu minúsculo apartamento, seus pensamentos a traíam. Lembranças da sensação que percorreu seu corpo lhes vinham à mente, do quanto sua pele queimava ao deslizar as pontas dos dedos na pele macia de Miranda, as reações veladas da editora: misto de surpresa e algo mais. Se Nigel não tivesse aparecido...


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Andy se remexeu perturbada por um barulho insistente ao longe. Shit! Maldito despertador! – pensou. Tentou bater a mão no criado-mudo ao lado de sua cama e não alcançou. O barulho ecoou mais uma vez e Andy se deu conta de que não era o despertador e sim sua campainha. Olhou o relógio e se perguntou quem diabos seria o ser humano petulante que a perturbaria a essa hora da madrugada, não era nem 2:00 da manhã ainda.

Ao levantar-se, Andy percebeu que estava no sofá. Adormecera pensando no diabo, ainda bem que não sonhou com ele. Caminhou até a porta desamassando um pouco a roupa da festa que ainda trajava, esfregou os olhos e olhou pelo olho mágico. Não é possível... – pensou. Esfregou um dos olhos novamente e olhou pelo olho mágico. Parece que o olho é mágico mesmo. Nem falei no diabo, só pensei, e ele apareceu. Tá mais competente que o baby Jesus – resmungou baixinho. Ela viu um corpo muito conhecido virar as costas e começar a marchar em direção à escada.

Como ela destrancou um cadeado, duas fechaduras e abriu a porta tão rápido nunca saberemos mas assim que o fez a mulher parou e virou de frente pra ela e caminhou de volta em sua direção. Encarando-a.

– Pelo tempo que você passou ponderando se abriria a porta, supus que não quisesse me receber. – falou a dona dos cabelos cor de neve.

– Você não sabia se eu estava acordada.

– Não, eu não sabia, mas sou uma mulher insistente e conheço você o suficiente pra saber que ponderaria antes de abrir a porta pra mim. Posso ouvir daqui as rodas girando dentro da sua cabeça. – a editora diz e a encara, seu tom era de troça. Desde quando ela exibe senso de humor?

Você não vê [em hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora