Se há uma festa que Miranda mais detesta, é a festa anual da Elias-Clarke. Na verdade, ela não gosta de festas. Não, Miranda Priestly nunca foi amante de festas. Sim, muitos seres humanos no mesmo espaço. Nesse caso, ela levava a Física muito a sério, pelo menos para justificar a si mesma a intolerância natural ao ser humano convencional e a capacidade de vários corpos ocuparem o mesmo espaço. Inconcebível. Tolher a paz de estar com suas meninas para estar rodeada de pessoas pelas quais não nutre um pingo de sentimento é quase desesperador. O "quase" vale tanto por nutrir algo por Nigel, seu amigo de longa data e que permanece ao seu lado apesar de tudo, quanto por Emily e Serena, que não eram de todo imprestáveis.
O ponto positivo da festa, no entanto, era também por quem a frequentava. Não, não é uma contradição, é por visibilidade. Irv nunca se daria ao trabalho de dar uma festa sem convidar toda a imprensa para exibir os números que o fariam se destacar diante dos concorrentes. Era por isso, afinal, que a festa sempre ocorria às quintas-feiras da antepenúltima semana de dezembro. Ele queria todo mundo falando sobre isso na sexta-feira, do jornalista enfurnado num cubículo corrigindo um texto qualquer sobre o último investimento de alguma subcelebridade até o CEO concorrente que estaria tentando contar as favas para que alguma de suas revistas seja mais rentável. O homenzinho desprezível não havia desistido de destronar Miranda, mas ele sabia que quanto mais ameaçada ela se sentisse, mais lucro a Runway geraria. Miranda também sabia disso, melhor do que qualquer outra pessoa naquela corporação, e fazia exatamente o que ele queria (sob as regras dela, claro, mas disso ele não precisava saber).
Entretanto, ela estava aqui. Iria passar por esses longos 30 minutos, conversaria com quatro ou cinco nomes escolhidos a dedo para serventia futura, daria um breve discurso aos acionistas e funcionários e iria embora, tão breve quanto havia chegado. Nos últimos tempos, Miranda esteve um pouco mais impaciente – com Irv principalmente – mas ela não o daria um dedo para ele arrancar-lhe uma mão. Para isso, também contava com a competência de Nigel, a diligência de Emily e a discrição do novo Emily, segundo assistente que estava conseguindo durar sabe-se deus como. Eram seus braços, direito e esquerdo, mas eles não precisavam saber também. E isso Irv não tiraria.
Não houve entrada triunfal, não era o MET Gala, afinal. Ela avistou Emily conversando com Serena quando sentiu o novo Emily encostar no ombro dela para fazer conhecida sua presença. Miranda ligeiramente se afastou e fuzilou o garoto com o olhos, não demorou um piscar para que o jovem encolhesse os ombros e desse um curto passo para trás. "Melhor assim", pensou a mulher.
– Posso saber porque Nigel ainda não está aqui? – pergunta Miranda.
– Antes de chegarmos ele disse que estava indo buscar sua companhia para a noite. – respondeu numa respirada só o garoto que devia ter no máximo vinte e cinco anos de idade. O que tinha de jovem tinha de deslumbrado. Miranda adorava ver o quão nervoso ela o deixava, era um divertimento.
– Quero ele aqui em cinco minutos. Mande uma mensagem, sinal de fumaça, ligue, faça o que for, eu não me importo, só quero que ele esteja aqui em cinco minutos. E agora você tem quatro minutos e cinquenta segundos pra isso. – disse Miranda no conhecido tom que não deixa espaço para comentários.
Como que convocado pelas forças do universo, Nigel fez sua entrada discreta passando por alguns fotógrafos, dando uma pequena parada para que sua companhia falasse com uma das fotógrafas da entrada da festa. Sua companhia... Ela não estava acreditando no que seus ávidos olhos estavam vendo. Não podia ser. Mas ela conhecia aquela silhueta, não esqueceria em mil anos a silhueta que se fez presente em alguns (muitos) de seus sonhos. A garota tola que nada tinha de gorda. A garota tola que a fez confiar em alguém e saiu da sua vida na mesma velocidade que entrou. A garota que agora estava vindo em sua direção.
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Você não vê [em hiatus]
FanficNinguém abandona Miranda Priestly e fica vivo para contar o conto. Ninguém. Até Andy. "Faz 6 meses desde Paris e eu não consigo lembrar a última vez que sorri de verdade desde lá. Faz 6 meses que tenho mentido pra mim na esperança de um dia poder...