Todos aqueles clichês se aplicam quando estamos apaixonados, certo? Errado. Dizem que toda paixão é avassaladora. É obrigatório concordar com essa afirmativa? Obviamente, não. Considerar que existem paixões leves, macias, que guardam um quase algo mais. Algo que não te tira da órbita mas que te faz estar em sincronia com a pessoa e consigo, para além do que queima o peito, é o que se costuma dizer que vem com a maturidade. Chamam de adolescentes as paixões cegas, impulsivas, acentuadas por momentos arredios e intensos, por agoras e nuncas.
Adultos também possuem paixões adolescentes, mas não é cabível esse tipo de paixão em cenários delicados - ao contrário do que se acha que a paixão se dá de forma involuntária. E dá pra afirmar com certeza que os cenários mais delicados são os mais marcantes e não necessariamente precisam doer. Alguns estão anestesiados. Muita viagem? Crê-se que não. Refaça os pensamentos e a leitura, e veja se não faz algum sentido.
Durante seus momentos reflexivos, Andrea decidiu esfriar a cabeça e pensar melhor antes de conversar com Nigel, porque além de conselhos ela estava preparada pra ouvir possíveis desencorajamentos. Fez uma curta viagem de um dia para visitar uma galeria que estava em exposição de fotografias raras de Cartier-Bresson, um grande nome francês que fez história no jornalismo e nas artes, principalmente com a fotorreportagem. Alguém que muito lhe serve de exemplo.
Em um momento específico lembrou de ter visto uma fotografia dele como um dos marcadores de páginas do Livro. Mais uma vez lembra de uma certa mulher de cabelos brancos feito neve, em como seria incrível poder conversar sobre algo em comum. Lembranças sempre nos pegam de surpresa, podemos estar quase babando olhando pro céu admirando nenhum ponto em particular e, de repente, voilà uma lembrança do gato que tivemos na infância e em como seria bom criar um felino hoje em dia sem nem considerar a falta de tempo. Perceba como isso faz pouco sentido. Totalmente nonsense, embora válido.
Tudo tem suas particularidades, por mais estranhas que sejam. Estranhezas por estranhezas, a maior delas foi encontrar o e-mail da Runway na caixa de entrada. Na tempestiva tentativa de se desligar, acabou esquecendo de verificar do que se tratava. Certeza que era coisa de Nigel, já que sempre que ficava até tarde da noite editando e recriando páginas e páginas de frustrações enviava mensagens, nem sempre faziam sentido. Dado o histórico do amigo, deixou pra outro momento.
Dois dias depois, Nigel liga pra Andy pedindo um espaço na sua agenda, pois precisavam colocar o papo em dia. Ele não toca em assuntos prévios por telefone, mas a Runway sempre é assunto e, inevitavelmente, Miranda.
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Toda vez que parava para observar as pessoas passando quase em câmera lenta, era como se todo um quadro sangrasse, como se todas as dores internas caíssem pelas janelas dos prédios, escorressem pelas frestas nos cantos das paredes até encontrar o chão, numa queda inevitável nos esgotos fétidos cidade a dentro. Sua inspiração estava entre escrever e fotografar. Atividades concomitantes que se confundem entre observações e memórias. A cada fotografia, uma história efêmera se escreve permanentemente.
Nesse ínterim o café esfria. Busca outro e logo volta ao seu ritmo nada mecanizado.
Era pra Nigel ter chegado há pelo menos dez minutos. Marcaram de se encontrar no único dia que ele se permitiu sair mais cedo (a ironia maior é que antes a prioridade era a agenda dela e ela sempre se adequava a dele). O que não se faz pelos amigos dramáticos?
Ele disse que tinha novidades a contar e queria conversar antes com Andy, sua querida "Six". Ela o envia uma mensagem de texto:
"Não vou perguntar porque se atrasou, mas já adianto que vai me pagar o café."
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Você não vê [em hiatus]
FanficNinguém abandona Miranda Priestly e fica vivo para contar o conto. Ninguém. Até Andy. "Faz 6 meses desde Paris e eu não consigo lembrar a última vez que sorri de verdade desde lá. Faz 6 meses que tenho mentido pra mim na esperança de um dia poder...