Os dois gritam quando o time para o qual eles torcem faz o touchdown. Eduard trouxe uma televisão grande para assistir o futebol e Josh quase implorou para que eu fizesse biscoitos antes de sair para correr. Pela primeira vez não discutimos sobre minhas saídas quase todas as manhãs.
No início, mantenho um ritmo lento para contemplar melhor a vizinhança. Cada casa de uma cor diferente e mais bonita que a outra. Não vejo muitas pessoas do lado fora. Provavelmente a maioria são idosos que preferem ficar dentro de suas residências. A grama ainda está molhada da chuva de ontem e o céu é branco e azul claro, mas de longe consigo ver nuvens carregadas chegando lentamente. Aposto que chegarão aqui no fim da tarde.
Não me limito a correr somente nos arredores. Acelero quando chego na rua e paro em uma praça movimentada. O lugar é grande e cheio de bancas de jornais e lanchonetes por perto.
Paro em uma delas para comprar água e me encosto numa árvore sombreada atrás da banca. Eu não sei como ou porque, mas alguém puxa a garrafa da minha mão e depois segura meu pulso.
Sua imagem se materializa em minha frente como num passe mágica.
Burnet está aqui. Minha reação é lenta, antes mesmo que eu comece a gritar, sua mão já está na minha boca. Ele aperta e olha em volta freneticamente.
- Quieta! - ele sussurra. - Eu vou tirar a minha mão e você não vai gritar.
Concordo com a cabeça. Ele não vai fazer nada comigo. Pelo menos não nessa praça. Com um movimento lento ele tira a mão e se afasta alguns centímetros.
- Eu vou ligar para a polícia. - minha voz é firme e intensa.
Ele leva a garrafa de água à boca e olha em volta de maneira casual. Qualquer pessoa que esteja nos olhando agora, deve pensar que somos dois amigos conversando. Ele usa shorts preto e camisa sem manga. Seu tênis é esportivo como o meu.
- Você me seguiu até aqui?
Ele dá um sorriso afetado e tira o cabelo do rosto. Tudo nele me assusta. Me pergunto se seria rápida o suficiente para lhe acertar e correr.
- Não se dê ao trabalho de ligar para a polícia e não, eu não te segui até aqui. Eu nem sabia que estava em Boston. - posso sentir seu cheiro quando ele leva a água a boca novamente. - Eu estava correndo inocentemente pela praça, quando te vi na banca.
Eu apenas respiro. Ele não deveria estar aqui. Não deveria estar tão próximo depois do que fez. Mas não estou tão impressionada. Sempre soube que a justiça é uma ilusão.
- Você me ferrou, sabia? - ele comenta. - Perdi meu emprego e ainda tive que me mudar para Boston.
Seguro o impulso de lhe dar um tapa. A indignação reverbera por todo o meu corpo.
- Você tentou me estuprar! - falo alto e algumas pessoas nos encaram.
Ele me puxa para perto da sombra tentando se esconder, olha em volta e passa a mão pelo cabelo oleoso.
- Mas você não fez isso sozinha. - ele diz, mudando de assunto, ignorando totalmente o que acabo de dizer. - Foi aquele amigo que você arrumou, não foi? Só ele poderia me manter na cadeia.
Não sabia que Josh tinha mexido os pauzinhos para manter Burnet na cadeia, mas nem seus esforços foram o bastante.
- Mas não se preocupe, Emma, eu vou sumir por um tempo. Não precisa dar queixa na polícia novamente.
Ele me olha de cima a baixo e se afasta rapidamente. Levo alguns segundos para perceber que estou tremendo. Burnet desaparece tão rápido pela pequena multidão que poderia ter sido apenas um sonho ou uma ilusão. Não sei quanto tempo fico encostada na árvore. Amasso a garrafa de água e arremesso no chão com raiva.
![](https://img.wattpad.com/cover/124089385-288-k981890.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A garota de aluguel.
RomanceEmma precisa imediatamente de dinheiro para o tratamento da irmã mais nova, o qual a família não tem como pagar, até que seu médico faz uma sugestão tentadora. Para conseguir o dinheiro que tanto precisa, Emma toma uma decisão que nunca achou que to...